
Após a confirmação do acordo que garantiu mais de R$ 54 milhões para manter atendimentos da Santa Casa em Campo Grande, o procurador-geral de Justiça do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), Romão Avila Milhan Júnior fez um alerta nesta terça-feira (30) sobre a gravidade da situação enfrentada por Campo Grande e Mato Grosso do Sul. “O atendimento de alta complexidade, de trauma, só existe na Santa Casa. E esse serviço já estava suspenso", explica.
A atual situação virou um sinal de alerta à população, já que a saúde pública em MS depende de um único hospital para tratar casos graves, como acidentes de trânsito, fraturas e cirurgias de emergência. Com médicos sem receber há meses, o serviço entrou em risco real de colapso.
Segundo Milhan, médicos que atendem na Santa Casa estavam prestes a cruzar os braços por causa do atraso de salários há mais de cinco meses. A paralisação atingiria justamente os serviços mais urgentes, como trauma, ortopedia, cirurgia torácica e neurocirurgia. “Se ontem alguém sofresse um acidente grave, não teria onde ser atendido. Nem planos de saúde fazem esse tipo de atendimento. Só a Santa Casa”, reforçou.
Para evitar o pior, foi firmado um acordo emergencial com repasses que somam R$ 54 milhões, vindos do Governo do Estado, Prefeitura de Campo Grande e da bancada federal. O pagamento será parcelado até abril de 2026.
Romão Milhan destaca atuação do MPMS na articulação do acordo que evitou o colapso nos atendimentos de alta complexidade em Campo Grande - (Foto: Rafael Rodrigues)Mais do que dinheiro: falha estrutural - Durante a fala, o procurador deixou claro que o problema vai além da crise financeira. Segundo ele, o Estado não pode depender de um único hospital para casos tão críticos, e defendeu uma reestruturação do sistema de saúde. Além disso, o MP firmou no acordo a contratação de uma auditoria externa para analisar a gestão da Santa Casa e garantir mais transparência nos repasses e gastos.
Diante da iminência do colapso, o MPMS conduziu uma negociação com o Governo do Estado, Prefeitura de Campo Grande, bancada federal e a própria Santa Casa. O acordo firmado prevê o repasso de R$ 54 milhões até abril de 2026, em parcelas, para garantir o pagamento de médicos e funcionários.
Os recursos virão de:
R$ 23 milhões do Governo do Estado
R$ 16 milhões da bancada federal (R$ 5 milhões em emenda de bancada e R$ 11 milhões em emendas individuais)
R$ 5,2 milhões da Prefeitura de Campo Grande
R$ 9,9 milhões também do município, por meio de um acordo de dano moral coletivo intermediado pelo próprio MP
Além disso, ficou estabelecido o pagamento de R$ 9 milhões até 10 de janeiro para cobrir o 13º salário dos funcionários seletistas da Santa Casa.
Apesar do alívio momentâneo, Milhan alertou que o problema da Santa Casa é maior do que um atraso salarial. “A Santa Casa hoje é deficitária. Há um déficit mensal alegado de R$ 12 milhões”, explicou. Para isso, o acordo também prevê a contratação de uma auditoria externa para avaliar a gestão do hospital e propor melhorias.
Para evitar o pior, foi firmado um acordo emergencial com repasses que somam R$ 54 milhões — vindos do Governo do Estado, Prefeitura de Campo Grande e da bancada federal. O pagamento será parcelado até abril de 2026 - (Foto: Arte A Crítica)O procurador-geral também lembrou que esse cenário de exclusividade no atendimento de trauma é frágil e exige repactuação urgente. “Não é razoável que um Estado como Mato Grosso do Sul dependa de um único hospital para casos tão críticos”, afirmou.
E agora? - O acordo firmado serve como medida emergencial. O MPMS já ajuizou uma ação civil pública exigindo a repactuação formal dos contratos entre a Santa Casa, Prefeitura e Governo do Estado. Há um prazo legal até março de 2026 para que esse novo modelo seja apresentado ao Judiciário.

