
A partir desta sexta-feira, 15, o Sistema Único de Saúde (SUS) passa a oferecer o teste de biologia molecular DNA-HPV, considerado o mais avançado para o rastreamento organizado do câncer do colo do útero. A nova tecnologia, mais sensível que o papanicolau tradicional, detecta 14 genótipos do papilomavírus humano (HPV) — mesmo em mulheres sem sintomas e antes do aparecimento de lesões.

Segundo o Ministério da Saúde, o exame permite ampliar o intervalo entre coletas para até cinco anos quando o resultado é negativo, sem prejuízo à segurança do diagnóstico. Com isso, além de maior eficácia na detecção precoce, o teste também reduz a necessidade de exames e intervenções desnecessárias, promovendo economia ao sistema de saúde.
“A nova tecnologia permite um rastreamento mais eficaz, de alta performance, e com maior alcance populacional, inclusive em regiões com menor acesso a serviços de saúde”, informou a pasta em nota.
Como funciona o teste de DNA-HPV
Produzida pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná, vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a tecnologia utiliza uma metodologia diferente do papanicolau, embora a coleta seja semelhante: o material é extraído da secreção do colo do útero durante exame ginecológico. A diferença é que, em vez de ser colocado em lâmina, o material é acondicionado em tubo com líquido conservante e analisado em laboratório para detecção do DNA do vírus.
Com a adoção do novo exame, o papanicolau tradicional passará a ser usado apenas em casos positivos no teste molecular, funcionando como exame confirmatório.
Implantação será gradual e começa em 13 estados
A incorporação do teste no SUS passou pela avaliação da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), que aprovou sua eficácia superior ao método atual. A implementação, iniciada neste mês de agosto, será feita de forma progressiva.
Na primeira fase, um município de cada um dos seguintes estados será contemplado:
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Rio de Janeiro
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São Paulo
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Minas Gerais
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Ceará
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Bahia
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Pará
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Rondônia
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Goiás
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Rio Grande do Sul
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Paraná
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Pernambuco
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Distrito Federal
Essas localidades foram escolhidas por já possuírem serviços de referência em colposcopia e biópsia, o que assegura o encaminhamento adequado das mulheres que tiverem alterações no exame.
A expectativa do governo federal é que, até dezembro de 2026, o novo método de rastreio esteja disponível em todo o país, alcançando cerca de 7 milhões de mulheres com idades entre 25 e 64 anos por ano — público-alvo da campanha de prevenção ao câncer de colo do útero.
Câncer do colo do útero: números que preocupam
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer do colo do útero é o terceiro tipo mais incidente entre as mulheres no Brasil, com cerca de 17 mil novos casos estimados por ano entre 2023 e 2025. A taxa é de 15 casos a cada 100 mil mulheres.
A doença é causada, na maioria das vezes, pela infecção persistente por HPV. O câncer é altamente evitável, mas ainda responde por 20 mortes diárias no país — sendo a principal causa de morte por câncer entre mulheres no Nordeste. Em alguns estados, o número de vítimas da doença chega a ser seis vezes maior que os casos de feminicídio.
Para o Ministério da Saúde, a introdução do novo teste marca um divisor de águas na política pública de saúde da mulher. "A oferta do novo modelo de rastreamento é considerada um marco", destacou a pasta.
Padrão ouro recomendado pela OMS
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o teste de DNA-HPV como o padrão ouro para o rastreamento do câncer do colo do útero. A estratégia integra o plano global da entidade para eliminar a doença como problema de saúde pública até 2030, por meio de ações coordenadas de prevenção, diagnóstico precoce, tratamento e acesso à vacinação contra o HPV.
Com a adoção dessa testagem mais moderna e precisa, o Brasil dá um passo importante rumo a essa meta internacional, ampliando o acesso a diagnósticos mais confiáveis e salvando vidas com a detecção precoce da doença.
