
Com a chegada do outono, vieram também os espirros, a febre e a tosse. Em Campo Grande, o aumento dos casos de gripe provocados pelo vírus da influenza tem lotado unidades de saúde e levado uma corrida silenciosa às farmácias. Quem tentou comprar Tamiflu, antiviral indicado para os primeiros dias da doença, provavelmente ouviu a mesma resposta: “acabou”.

Nos poucos estabelecimentos onde o remédio ainda está disponível, os preços assustam. Uma caixa com dez cápsulas de 75 mg, por exemplo, pode chegar a R$ 383,83. A versão genérica mais barata custa R$ 67,49 — ainda assim, fora do alcance de muita gente.
Na rede pública de saúde, o Tamiflu está disponível, mas não para todos. A orientação do Ministério da Saúde é clara: o medicamento deve ser fornecido apenas para grupos prioritários. Isso inclui crianças menores de cinco anos, idosos com mais de 60 e pessoas com comorbidades, como diabetes ou hipertensão.
Corrida contra o tempo - O motivo da pressa por um comprimido de Tamiflu não é apenas o medo da gripe, mas o tempo. Segundo o infectologista Júlio Croda, o remédio só faz efeito se tomado nas primeiras 72 horas após o aparecimento dos sintomas. “Depois desse período, o efeito dele já não é benéfico. O vírus já causou o dano, e a carga viral cai muito. A medicação funciona para evitar a replicação e atenuar os sintomas. Passado o tempo, o corpo entra em uma fase inflamatória”, explicou.
Por isso, a recomendação é simples: começou a se sentir mal, vá logo ao médico. Croda também alerta para sinais de alerta que exigem atenção imediata: falta de ar, tontura, fraqueza extrema e dificuldade até para tarefas básicas, como ir ao banheiro. “Se estiver com oxímetro em casa, fique atento: saturação abaixo de 90% já é sinal de perigo”, disse.
Casos aumentam e mortes preocupam - Desde o início de 2025, o Mato Grosso do Sul já registrou 75 casos confirmados de influenza. Sete pessoas morreram em decorrência da doença. O vírus tem um período de incubação que pode durar até dez dias. Quando os sintomas não melhoram após esse tempo, a recomendação é buscar atendimento novamente — a gripe pode abrir caminho para infecções bacterianas, como a pneumonia.
E a boa e velha vacina? Continua sendo a forma mais eficaz de prevenção. “A população precisa se vacinar. A vacina pode não evitar 100% dos casos, mas reduz significativamente o risco de agravamento e morte”, reforçou Croda.
Quem pode receber o Tamiflu pelo SUS - A Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) informou que, para retirar o medicamento nos postos, é necessário apresentar receita médica. Além disso, é preciso fazer parte de um dos grupos prioritários definidos pelo Ministério da Saúde. Casos fora desses critérios só recebem a medicação se houver comorbidade comprovada.
Para os casos leves, o recomendado é repouso, hidratação e o uso de antitérmicos. Já para os casos suspeitos ou graves, especialmente em pessoas vulneráveis, o Tamiflu pode ser decisivo — desde que usado no tempo certo.
Onde procurar ajuda em Campo Grande - A rede pública da capital organizou unidades sentinelas para atender pessoas com sintomas gripais. Elas funcionam como uma espécie de porta de entrada para casos suspeitos de influenza. Atualmente, estão em funcionamento:
- CRS Dr. Waldeck Fletner de Castro Maia (Coophavilla II)
- UPA Dr. Walfrido Arruda (Coronel Antonino)
Além disso, os demais postos de saúde estão aptos a orientar e encaminhar os pacientes, conforme a gravidade do quadro.
Quando tomar a vacina - A vacinação contra a gripe está disponível em toda a rede pública. No entanto, quem está com sintomas gripais deve esperar 30 dias para se imunizar. Isso porque o corpo precisa estar livre da infecção para gerar a resposta esperada pela vacina.
Mesmo com o Tamiflu em falta e os preços elevados, a orientação das autoridades é clara: o medicamento não substitui a prevenção. “Vacina no braço e máscara no rosto em ambientes fechados continuam sendo aliados importantes”, lembrou Croda.
Em tempos de gripe forte, o melhor remédio ainda é a informação — gratuita e para todos.
