
Em entrevista concedida na manhã desta quinta-feira (21), ao programa Giro Estadual de Notícias - transmitido ao vivo para todo o Mato Grosso do Sul pelas emissoras do Grupo Feitosa de Comunicação - o médico Valdmário Rodrigues Júnior foi direto: "O SUS é lindo no papel, mas precisa funcionar". A frase, dita com firmeza e experiência acumulada ao longo de mais de três décadas na medicina, resume bem a frustração de quem viu de perto o abismo entre a teoria e a prática no sistema público de saúde do Brasil.

A crítica não é nova, mas ganha peso vindo de quem conhece tanto o chão da maternidade quanto os bastidores da gestão hospitalar. Valdmário é ginecologista, obstetra, conselheiro fiscal da Unimed Campo Grande e também embaixador da Unicred. Durante a entrevista, transmitida por rádio e redes sociais, ele desmontou com clareza o que considera os principais entraves do SUS: a má gestão e a ocupação de cargos técnicos por indicações políticas.
"A Constituição garante o direito à saúde, mas sem gestão profissional, isso não vira realidade", afirmou. Segundo ele, o problema não está na estrutura legal do sistema, mas na forma como ele é administrado. "A teoria é maravilhosa. O SUS, no papel, é um dos melhores sistemas do mundo. Mas a prática exige gente capacitada, que saiba lidar com recursos escassos e demandas infinitas", explicou.
O médico Valdmário Rodrigues Júnior foi direto: "O SUS é lindo no papel, mas precisa funcionar"
Para o médico, a ausência de critérios técnicos na escolha de gestores é uma das causas mais graves da ineficiência. "Você vê cidades onde nem médico tem para ser secretário de Saúde. E quem é nomeado está lá por causa de política, não por competência. Isso é um desrespeito com a população", criticou.
Durante a conversa, que teve ampla repercussão nas mídias do Grupo Feitosa de Comunicação, Valdmário também defendeu a descentralização do atendimento e a valorização da atenção básica. "Não adianta encher a cidade de ambulâncias e construir hospital se não houver gente preparada para cuidar. Não é só estrutura, é capacitação", ressaltou.
Ele lembrou que muitos pacientes do interior chegam a Campo Grande em busca de atendimento que poderia ser resolvido na origem. "A capital está sobrecarregada. É um desfile de ambulâncias. O povo vem porque não tem alternativa. Mas isso mostra que o sistema falhou onde mais precisa funcionar: na base", afirmou.
Ao falar sobre soluções, o médico foi enfático ao defender a meritocracia. "Quem lida com a saúde da população tem que ter currículo, tem que ter preparo. Não dá mais para aceitar apadrinhamento em cargos tão sensíveis", disse. E completou: "O dinheiro da saúde é sagrado. Não pode ser tratado como moeda política".
Valdmário também apontou que a falta de planejamento estratégico e a ausência de tecnologia nas decisões públicas pioram o cenário. "Tem hospital que compra equipamento caro e depois encosta. Tem respirador da pandemia guardado até hoje. Isso é corrupção misturada com má gestão", denunciou.
Apesar das críticas duras, ele acredita que ainda é possível mudar o rumo. "Se a gente copiar modelos que deram certo, investir em capacitação e valorizar quem entende do assunto, o SUS pode, sim, funcionar de verdade", afirmou. Segundo ele, algumas Santas Casas no país são exemplo de gestão eficiente, com atendimento digno e boa organização.
No encerramento da entrevista, o médico deixou uma mensagem clara: "Não é falta de lei, nem de dinheiro. É falta de gente séria, competente e comprometida com o bem comum".
