
O Mato Grosso do Sul registrou o maior número proporcional de novos casos de tuberculose em pessoas privadas de liberdade no Brasil em 2023. Os dados fazem parte do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, que identificou 7.718 casos novos da doença no sistema prisional brasileiro no último ano.

A maioria das notificações envolve homens (97,3%), pardos (57,3%) e com idade entre 18 e 41 anos (87,6%). O boletim abrange dados entre 2013 e 2023 e mostra que o MS está entre os estados com mais de 739 casos por 100 mil detentos.
De acordo com o infectologista Julio Croda, da UFMS e Fiocruz, o alto número de casos em MS está diretamente ligado à superlotação carcerária. Em 2023, o estado contava com 21.654 presos para apenas 13.156 vagas, um déficit de 8.498 vagas, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
“A principal causa da propagação é a superlotação. O tratamento ajuda, mas não resolve se as celas continuarem lotadas”, alerta Croda.
A situação é crítica: o número de pessoas presas no estado é maior que a população de 52 cidades sul-mato-grossenses.
Diferente da média nacional, onde 50% dos casos em prisões passam despercebidos, em Mato Grosso do Sul quase todos os diagnósticos são feitos ainda no sistema prisional, graças às triagens em massa nos dois maiores presídios de Campo Grande, que concentram cerca de 30% da população carcerária estadual.
“Fazemos três triagens por ano em Campo Grande. Isso reduz mortes e transmissões, mas não basta. Outros presídios precisam adotar o mesmo modelo”, afirma o médico.
Apesar do esforço em diagnóstico precoce, Croda destaca que o isolamento após o diagnóstico não impede a transmissão, já que o contágio ocorre antes da identificação. Ele também faz um alerta contra a estigmatização de pacientes e defende prevenção baseada na redução da lotação das celas.
Segundo o boletim, Campo Grande aparece entre os municípios com maior número de registros de tuberculose nas prisões, junto com Rio de Janeiro, São Paulo, Recife e Santa Isabel do Pará.
Para os especialistas, o controle da doença depende de medidas estruturais: menos presos por cela, acesso a diagnóstico rápido e continuidade do tratamento.
