
Serena Williams, uma das maiores tenistas de todos os tempos, revelou recentemente que está utilizando um medicamento da classe dos análogos do GLP-1, como o Wegovy ou o Mounjaro, para tratar a obesidade, após muitas especulações nas redes sociais. A ex-atleta contou sobre a sua experiência durante uma entrevista ao Today Show, na última quinta-feira, 21 de agosto.

Após duas gestações, Serena enfrentava dificuldades para alcançar um peso saudável, mesmo com a prática constante de esportes e uma rotina intensa de treinos. Ela compartilhou que, embora fosse uma atleta profissional, treinando cinco horas por dia, não conseguia perder peso de forma efetiva. "Eu passei a encarar meu peso como um adversário que não conseguia vencer com as estratégias de sempre", afirmou Serena. Isso começou a impactar sua saúde, afetando suas articulações e níveis de açúcar no sangue.
Serena contou que, inicialmente, tinha uma visão negativa sobre os medicamentos para emagrecimento, considerando-os um "atalho". No entanto, ela destacou que, na prática, o tratamento não é simples e requer um compromisso contínuo. “Eu mesma achava que esses medicamentos eram um ‘atalho’. Mas, na prática, não é isso”, afirmou.
A tenista revelou seu uso do medicamento com o intuito de desmistificar o tratamento da obesidade e combater o estigma relacionado ao uso desses medicamentos, enfatizando que não há vergonha em buscar ajuda médica para a condição.
No entanto, o anúncio gerou controvérsias, especialmente porque Serena Williams foi recentemente anunciada como embaixadora do programa de emagrecimento da Ro, uma empresa de telemedicina dos EUA que oferece tratamentos com análogos do GLP-1. O marido da atleta, Alexis Ohanian, é investidor e membro do conselho da empresa, o que levantou questões sobre um possível conflito de interesse.
A publicidade desses medicamentos, especialmente em plataformas como a Ro, tem gerado críticas. Cartazes publicitários no metrô de Nova York, por exemplo, mostraram barrigas sendo tratadas com canetas de GLP-1, o que gerou um debate sobre se essas campanhas estariam banalizando a obesidade e incentivando o uso do medicamento por quem não tem indicação médica. A empresa, por sua vez, defende que seu objetivo é desestigmatizar a obesidade como doença.
A obesidade é uma doença complexa, caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no corpo, o que pode prejudicar órgãos vitais e causar problemas de saúde como diabetes tipo 2, doenças cardíacas e hipertensão. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece a obesidade como uma condição crônica e grave, com múltiplos fatores, como hormônios e genética, influenciando o desenvolvimento da doença.
Os especialistas defendem que não se deve transferir a culpa para os pacientes, como muitas vezes acontece com o estigma de que a obesidade é resultado de preguiça ou falta de esforço. Neuton Dornelas, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), comentou que a fala de Serena sobre a necessidade de usar medicamentos ajuda a desmistificar a ideia de que o tratamento deve ser feito unicamente com dieta e exercício físico.
Apesar dos elogios ao posicionamento de Serena, alguns especialistas expressaram preocupações sobre a falta de contexto nas campanhas publicitárias que associam o uso dos medicamentos à busca por padrões estéticos. Maria Edna de Melo, endocrinologista, lembrou que a perda de peso não deve ser vista apenas como uma questão estética, mas como uma maneira de melhorar a saúde global do paciente.
Além disso, Desire Coelho, nutricionista e colunista do Estadão, comentou que a imagem de Serena, com um corpo considerado "ideal" pela sociedade, pode confundir as pessoas, especialmente aquelas que enfrentam obesidade grave, que precisam perder mais peso para melhorar a saúde.
Outro ponto levantado pelos especialistas foi a falta de transparência quanto ao estado de saúde de Serena antes de iniciar o tratamento. Desire Coelho questionou por que a atleta não compartilhou seus exames de saúde ou dados clínicos para mostrar os efeitos da medicação. Isso poderia ajudar a descontruir a ideia de que a obesidade é apenas um problema estético e reforçar que não existe um único padrão de corpo para os pacientes com a doença.
O tratamento da obesidade com medicamentos à base de análogos de GLP-1, como o Wegovy e o Mounjaro, tem ganhado destaque. Esses medicamentos são indicados para casos de obesidade e diabetes tipo 2 e devem ser utilizados sob acompanhamento médico, pois podem ter efeitos colaterais. No Brasil, é exigido receituário médico para a compra desses medicamentos.
Especialistas concordam que o tratamento da obesidade deve ser multidisciplinar, incluindo medicação, dieta balanceada e exercícios físicos, dependendo de cada caso. O uso desses medicamentos não deve ser visto como uma solução "fácil", mas como parte de uma abordagem abrangente para o tratamento da doença.
