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22 de dezembro de 2025 - 12h02
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CRISE NA SAÚDE

Sem 13º, funcionários da Santa Casa entram em greve e protestam contra parcelamento

Cerca de mil trabalhadores cruzam os braços em Campo Grande após proposta de pagar o 13º em três parcelas apenas entre janeiro e março de 2026

22 dezembro 2025 - 09h20Iury de Oliveira
Trabalhadores da Santa Casa protestam em frente ao hospital contra o atraso do 13º salário e o parcelamento do benefício
Trabalhadores da Santa Casa protestam em frente ao hospital contra o atraso do 13º salário e o parcelamento do benefício - (Foto: Imagem ilustrativa/A Crítica)

Sem receber o 13º salário, cerca de mil trabalhadores da Santa Casa paralisaram parte dos atendimentos na manhã desta segunda-feira, em protesto contra a proposta de parcelamento do benefício em três vezes, a ser pago apenas entre janeiro e março de 2026, com cobranças diretas ao governo estadual e à direção do hospital.

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Cerca de mil profissionais, entre enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos, trabalhadores da radiologia, serviços gerais e outras áreas da Santa Casa, cruzaram os braços e foram às ruas para cobrar o pagamento integral e imediato do 13º salário.

O estopim da mobilização foi o anúncio feito na sexta-feira (19), quando a Santa Casa informou que não tem recursos para quitar o 13º e que depende do repasse do governo estadual. Segundo a direção, esse dinheiro só seria repassado de forma parcelada, no início de 2026, o que levou à proposta de dividir o pagamento do benefício em três parcelas, de janeiro a março.

Os trabalhadores rejeitaram a proposta e decidiram pela paralisação, acompanhada de um protesto em frente ao hospital e pelas ruas do entorno. A categoria espera ainda ser recebida na Governadoria, na manhã desta segunda-feira, para tentar reverter a situação e garantir o pagamento antes do Natal.

Protesto com caminhada, cartazes e palavras de ordem - A manifestação começou na área externa da Santa Casa, com caminhada organizada pelos próprios funcionários. Em seguida, o grupo retornou ao saguão do hospital, onde se concentrou por alguns minutos, e depois voltou à parte externa, dando início a um novo ato pelas ruas do entorno.

Durante o protesto, os trabalhadores empunhavam cartazes, usavam apitos e entoavam palavras de ordem como “queremos décimo!”, “saúde, unida, jamais será vencida” e “fora, presidente”, em referência ao presidente da instituição, Alir Terra Lima. A movimentação expôs o desgaste entre a categoria e a direção da Santa Casa em mais um capítulo de crise financeira e atraso de pagamentos.

Uma das imagens que marcaram o ato foi a dos servidores reunidos com cartazes durante o protesto, ocupando a área em frente ao hospital e denunciando publicamente o atraso do benefício.

Sindicatos classificam parcelamento como inaceitável - O presidente do Siems (Sindicato dos Trabalhadores na Área de Enfermagem de MS), enfermeiro Lázaro Santana, afirma que o problema não é pontual e que a categoria convive com atrasos frequentes. Segundo ele, a proposta de pagamento parcelado do 13º, a partir de 2026, é vista como inaceitável pelos trabalhadores.

O presidente do Sinterms (Sindicato dos Profissionais da Radiologia em Empresas Públicas e Privadas de MS), José Carrijo, reforça que os funcionários não abrem mão de receber o 13º salário antes do Natal. Ele afirma que são 3,5 mil trabalhadores, incluindo profissionais da enfermagem, radiologia, serviços gerais e médicos, que ainda não tiveram o benefício depositado.

Carrijo também explicou que, mesmo com a paralisação, as categorias decidiram manter a maior parte do atendimento em funcionamento. Segundo ele, 70% do efetivo continua em atividade, enquanto 30% dos trabalhadores participam diretamente da paralisação e das manifestações.

Atendimento mantido acima do mínimo para evitar desassistência - O presidente do Sintesaúde (Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de MS), Osmar Gussi, destacou que o percentual de profissionais em atividade é superior ao exigido pela legislação em casos de greve na área da saúde.

De acordo com Gussi, essa foi uma decisão deliberada pelas categorias justamente para evitar desassistência aos pacientes que dependem da Santa Casa. A estratégia foi manter a pressão sobre a direção do hospital e o governo estadual, sem interromper totalmente o atendimento à população.

Na prática, os sindicatos tentam equilibrar a defesa dos direitos trabalhistas com a responsabilidade de garantir o cuidado aos pacientes, que já sofrem os reflexos de crises sucessivas na principal referência hospitalar do Estado.

Médicos também aderem à paralisação e relatam falta de insumos - A paralisação não ficou restrita aos profissionais de enfermagem e radiologia. Médicos com contrato com a Santa Casa também aderiram ao movimento. A diretora clínica, Izabela Falcão, explicou que os profissionais celetistas, contratados pela Santa Casa sob o regime da CLT, estão sem receber o 13º salário.

Além disso, segundo Izabela, médicos contratados como pessoa jurídica estão há seis meses sem receber pelos serviços prestados. A situação financeira dos profissionais se soma a outro problema grave relatado por ela: a falta de materiais básicos para o atendimento aos pacientes.

“Além desse atraso, falta insumo básico para assistência aos pacientes, de antibiótico a insulina e soro”, relata a diretora clínica. O depoimento indica que a crise não se limita aos salários, mas atinge diretamente a rotina assistencial dentro do hospital, com impacto na qualidade e na continuidade do atendimento.

Equipes pedem desligamento, e futuro do atendimento preocupa - Izabela Falcão afirma ainda que seis equipes médicas, formadas por cerca de 100 profissionais de ortopedia, urologia, cirurgia pediátrica e radiologia intervencionista, já pediram para encerrar o contrato com a Santa Casa.

Essas especialidades são consideradas estratégicas para o funcionamento do hospital, e a saída dessas equipes pode comprometer ainda mais o atendimento. Segundo a diretora, o pedido de desligamento está sendo discutido com a administração da Santa Casa, numa tentativa de encontrar uma solução que evite a saída em massa.

A possibilidade de perda de equipes inteiras acende um alerta sobre o futuro próximo do hospital, que já enfrenta dificuldades com falta de pagamento, protestos e escassez de insumos básicos para atendimento.

Governo e Santa Casa ainda não responderam aos questionamentos - Diante do cenário, a reportagem procurou o CRM-MS (Conselho Regional de Medicina de MS) para saber o posicionamento da entidade em relação ao atraso do 13º salário e à situação dos médicos. A informação repassada é de que a categoria ainda não tem uma posição oficial sobre o caso.

O tema deve ser debatido em assembleia marcada para as 19h30 desta segunda-feira, quando os médicos devem avaliar os desdobramentos da crise e decidir qual será o posicionamento institucional do Conselho diante da paralisação e dos atrasos de pagamento.

A reportagem também questionou o governo estadual sobre o atraso no repasse dos recursos destinados ao 13º dos trabalhadores da Santa Casa, mas, até o momento, não houve resposta. A assessoria do hospital também foi procurada e, assim como o governo, ainda não havia se manifestado para atualizar a situação.

Enquanto isso, os trabalhadores seguem mobilizados, pressionando pelo pagamento do 13º ainda neste fim de ano e tentando evitar que a crise financeira se transforme também em colapso assistencial para os pacientes que dependem da Santa Casa.

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