1º Encontro Regional MIDIACOM MS
SUPERLOTAÇÃO

Santa Casa registra superlotação e prefeitura transfere 36 pacientes

Hospital registra boletim por superlotação, e prefeitura transfere pacientes às pressas para evitar colapso

30 março 2025 - 17h08Ricardo Eugenio
Com corredores lotados, pacientes sem próteses e médicos registrando boletim de ocorrência, Prefeitura remaneja 36 pessoas para evitar o colapso total em Campo Grande
Com corredores lotados, pacientes sem próteses e médicos registrando boletim de ocorrência, Prefeitura remaneja 36 pessoas para evitar o colapso total em Campo Grande - (Foto: Divulgação/Assessoria de imprensa)

Na manhã do último dia 26 de março, os corredores da Santa Casa de Campo Grande deixaram de ser apenas cenário de espera. Ali, onde o cheiro de desinfetante mistura-se com o de café coado em garrafas térmicas de plantão, médicos e gestoras da unidade decidiram fazer algo incomum: foram à delegacia prestar queixa.

Canal WhatsApp

A diretora clínica do hospital e o chefe da ortopedia relataram, no boletim de ocorrência, o que classificaram como “desespero”. A porta do setor de ortopedia havia sido fechada. A equipe não conseguia mais receber novos pacientes. Na mesa da direção, uma lista com 70 nomes de internados aguardando cirurgias — todos em situação urgente. Alguns com risco de sequelas permanentes, outros, segundo os médicos, podendo morrer por falta de materiais básicos como próteses.

A queixa não era apenas um alerta — era um grito. - Horas depois, a resposta veio da Prefeitura de Campo Grande. Através da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), em conjunto com as Centrais de Regulação Municipal e Estadual, foi feita uma operação emergencial: dos 43 pacientes que a Santa Casa pediu para transferir, 36 foram remanejados de forma imediata. Parte deles foi levada a outros municípios — não moravam em Campo Grande. Outros seguiram para hospitais que ainda tinham vagas.

Cirurgias paradas, corredores cheios - O retrato dentro da Santa Casa, naquela semana, era o de um sistema de saúde à beira do colapso. Pacientes enfaixados, muitos com fraturas, se amontoavam em macas e cadeiras. O hospital, que já vinha operando no limite, sofreu novo impacto com o aumento de casos respiratórios, o que também pressionou as UPAs e as unidades de pronto-atendimento.

Diante da pressão, a prefeitura informou que aumentou o valor mensal repassado à Santa Casa, passando de R$ 5 milhões para R$ 6 milhões. O acréscimo, segundo nota enviada à imprensa, tem o objetivo de ajudar no custeio do hospital — verba municipal, além dos recursos federais e estaduais que também compõem o orçamento.

Apesar disso, o impasse não é novo. No final de 2024, houve queda no total repassado, mas o município não explicou o motivo. A informação oficial é de que, ao longo do ano passado, os recursos do SUS destinados à rede municipal chegaram a mais de R$ 445 milhões.

Reação e promessa de alívio - Diante da denúncia feita pela direção do hospital, a Sesau também anunciou medidas complementares: a ampliação de leitos clínicos e cirurgias em hospitais filantrópicos da capital. Dois deles já confirmaram a abertura de 52 leitos. Três instituições se comprometeram a realizar mensalmente 150 cirurgias ortopédicas e outras 50 cirurgias gerais — número que, espera-se, ajude a desafogar a Santa Casa.

A ideia, segundo a gestão municipal, é redistribuir a carga assistencial de forma mais equilibrada, já que a Santa Casa concentra, historicamente, boa parte dos atendimentos de média e alta complexidade no SUS da capital.

Entre números e macas - A lógica do sistema público de saúde é matemática, mas a fila de pacientes internados continua sendo uma questão humana. Cada número nos comunicados oficiais representa alguém que espera anestesia, instrumentação, sala, equipe, tempo. Enquanto os contratos são formalizados e os repasses são ajustados, os médicos seguem fazendo o que podem — e registrando boletins de ocorrência quando não conseguem mais.

Em uma cidade onde os prontos-socorros vivem cheios, onde filas de espera são parte do vocabulário comum, o episódio do dia 26 escancarou uma situação que não é nova, mas que deixou de caber entre as paredes do hospital. Foi parar na delegacia, nas manchetes e, talvez, nas agendas políticas.

O que se espera agora é que os 70 nomes da lista comecem, aos poucos, a ser riscados. Não porque saíram do papel — mas porque, enfim, foram operados.

Assine a Newsletter
Banner Whatsapp Desktop