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SAÚDE PÚBLICA

OMS alerta para avanço da resistência a antibióticos no mundo

Novo relatório mostra que uma em cada seis infecções já é resistente a tratamentos com antibióticos

13 outubro 2025 - 12h45Gabriel Damasceno
OMS alerta para aumento na resistência a antibióticos, o que compromete o tratamento de infecções graves.
OMS alerta para aumento na resistência a antibióticos, o que compromete o tratamento de infecções graves. - Foto: Bits and Splits/Adobe Stock

Um novo alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) acende o sinal vermelho para a saúde pública global: uma em cada seis infecções bacterianas no mundo já apresenta resistência aos tratamentos com antibióticos mais comuns. O dado faz parte do relatório divulgado nesta segunda-feira (13), com base nos levantamentos do Sistema Global de Vigilância da Resistência e do Uso de Antimicrobianos (Glass), que monitorou casos entre 2018 e 2023.

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Nesse período, mais de 40% das combinações entre patógenos e antibióticos analisadas apresentaram aumento na resistência. O crescimento médio anual variou de 5% a 15%, colocando em xeque a eficácia de medicamentos que são base do combate a infecções como sepse, pneumonia, infecções urinárias e intestinais.

“O avanço da resistência antimicrobiana está superando os progressos da medicina moderna, ameaçando a saúde das famílias em todo o mundo”, alertou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, em nota oficial. Ele reforçou que o uso responsável de antibióticos e o acesso universal a medicamentos adequados, diagnósticos e vacinas são pilares para conter o agravamento do cenário.

Regiões mais afetadas - Segundo a OMS, a resistência a antibióticos é mais prevalente no Sudeste Asiático e no Mediterrâneo Oriental, onde uma em cada três infecções relatadas foi resistente. Já na África, esse índice chega a uma em cada cinco. A organização destaca que os países mais afetados são justamente os que têm menor capacidade de vigilância e estrutura para diagnosticar e tratar infecções graves.

Entre as principais ameaças identificadas, as bactérias gram-negativas lideram os riscos, principalmente Escherichia coli (E. coli) e Klebsiella pneumoniae. Ambas são causas frequentes de infecções na corrente sanguínea e urinária, podendo evoluir para quadros de sepse, falência de órgãos e até morte.

Mais de 40% das cepas de E. coli e 55% das de K. pneumoniae já são resistentes às cefalosporinas de terceira geração – antibióticos amplamente utilizados como primeira linha de tratamento. Na África, a resistência de K. pneumoniae ultrapassa os 70%.

Outros medicamentos, como carbapenêmicos e fluoroquinolonas, também vêm perdendo eficácia frente a bactérias como Salmonella spp. e Acinetobacter spp., comprometendo ainda mais o arsenal terapêutico. Quando antibióticos comuns falham, médicos são obrigados a recorrer a medicamentos de última linha, que são caros, de difícil acesso e frequentemente indisponíveis em países com menor renda.

Brasil também enfrenta desafios sérios - No Brasil, o maior risco está nas infecções da corrente sanguínea. O patógeno mais frequente é o Staphylococcus aureus, responsável por 36,9% dos casos monitorados. Destes, 52,8% mostraram resistência à meticilina. Já a K. pneumoniae representou 25,5% das infecções, com 41,1% de resistência ao imipenem, antibiótico de reserva. A E. coli também é recorrente, com 25,9% dos casos, e 34,6% de resistência às cefalosporinas de terceira geração.

Em infecções urinárias, a situação não é melhor. A E. coli mostrou alta resistência ao cotrimoxazol (46,8%) e às fluoroquinolonas (37,5%), além de 25,8% de resistência às cefalosporinas – todos antibióticos amplamente utilizados na rede pública e privada.

O relatório avaliou dados de 104 países, cobrindo o uso de 22 antibióticos para tratar diferentes tipos de infecção. Apesar do aumento na adesão ao sistema de vigilância (de 25 países em 2016 para 104 em 2023), metade das nações ainda não possui infraestrutura adequada para gerar dados confiáveis.

Em 2023, 48% dos países participantes não enviaram dados ao Glass, o que dificulta uma resposta global mais eficiente. “Os países com os maiores desafios são justamente os que menos conseguem monitorar sua situação”, apontou a OMS.

Como resposta, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou em 2024 uma declaração política com metas para conter a resistência antimicrobiana até 2030. A proposta inclui investimentos em sistemas de saúde, diagnóstico precoce, pesquisa, inovação em antibióticos de nova geração e uma abordagem integrada entre saúde humana, animal e ambiental.

A OMS destaca que, embora a resistência aos antibióticos seja um problema técnico, sua solução depende de decisões políticas, financiamento e consciência coletiva.

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