
Com cirurgias sendo realizadas mais próximas de casa e hospitais do interior atuando como polos de referência em procedimentos de média complexidade, o projeto de regionalização da saúde já é uma realidade em Mato Grosso do Sul. Implantado pelo Governo do Estado a partir de 2023, o novo modelo descentraliza atendimentos que antes se concentravam nos grandes centros, reduz o tempo de espera por cirurgias e diagnósticos e oferece mais conforto aos pacientes.

Aos 52 anos, Ezequias Moreira da Silva, morador de Dourados, é um exemplo de como essa mudança está impactando vidas. Em dezembro do ano passado, pouco mais de um mês após ser encaminhado, ele passou por uma cirurgia de artroplastia total de quadril no hospital de Rio Brilhante. “Foi muito rápido. Sofria muito, não conseguia nem andar. Agora estou em recuperação e fazendo fisioterapia”, contou.
Também em Rio Brilhante, Valdemir Rodrigues, de 47 anos, foi operado em fevereiro deste ano. Morador de Ponta Porã, ele foi inicialmente encaminhado para Amambai, mas conseguiu vaga em Rio Brilhante. “O atendimento foi excelente. É desnecessário ir para Campo Grande se mais perto da gente tem hospital bom”, disse sua esposa, Clécia da Silva Braga.
Outro caso é o de José Claudino de Oliveira, de 61 anos, que fez cirurgia de retina em Costa Rica, mesmo morando em São Gabriel do Oeste. “Apesar de ser mais longe, o hospital é bem preparado”, relatou Adriana Oliveira, esposa de José. Já Luiz Gonzaga da Silva, de Coxim, acompanhou a esposa em procedimento semelhante e considerou o atendimento ágil e eficaz.
Municípios como protagonistas da nova lógica de atendimento - O município de Costa Rica é um dos exemplos mais robustos do sucesso da regionalização. Lá, a parceria com o Governo do Estado permitiu a implantação de uma estrutura oftalmológica especializada, com cirurgias de retina e previsão de ampliação para exames como endoscopia e colonoscopia.
“Costa Rica vem neste caminho da regionalização, com suporte para pacientes de vários municípios. Diminuímos o tempo de espera para cirurgia, que agora ocorre em até 90 dias”, explica Daniel Rayckson Santos, secretário municipal de Saúde.
Rio Brilhante também já soma mais de 700 atendimentos ortopédicos desde o início da regionalização, com foco em cirurgias de quadril, ligamento e menisco. “Com o apoio do Estado, investimos em equipamentos e infraestrutura. Hoje somos referência em ortopedia”, afirmou a secretária de Saúde do município, Lívia Baungaertner. A cidade já planeja ampliar sua atuação com cirurgias de amígdalas e, em breve, iniciará procedimentos minimamente invasivos para retirada de cálculos renais.
Coxim, por sua vez, recebe pacientes de 43 municípios. A cidade oferece cirurgias eletivas de ginecologia, otorrinolaringologia, ortopedia e cirurgia geral, além de manter dez leitos de UTI e serviços de hemodiálise para 70 pacientes. “Com a regionalização, conseguimos incluir subespecialidades e trazer profissionais para ampliar os atendimentos”, disse Fernanda Berigo, secretária municipal de Saúde.

Nova arquitetura hospitalar - O novo modelo criado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) estabelece cinturões de média complexidade ao redor das cidades que são referência em alta complexidade. Campo Grande (região central), Dourados (Cone Sul) e Três Lagoas (Costa Leste) seguem como polos principais, mas são apoiadas por cidades vizinhas que absorvem casos de média complexidade.
“Os hospitais viram uma oportunidade com o novo modelo, com financiamento adequado. Deixam de encaminhar pacientes para os grandes centros e passam a fazer o atendimento no próprio local”, afirmou o secretário estadual de Saúde, Maurício Simões.
O projeto foi apresentado oficialmente aos deputados estaduais no dia 4 de junho, com a presença do governador Eduardo Riedel e da secretária especial de Parcerias Estratégicas, Eliane Detoni. O planejamento levou em conta indicadores econômicos, sociais e sanitários para compor um diagnóstico detalhado sobre as necessidades de saúde em cada região.
Financiamento e incentivos para ampliar capacidade local - Para que a regionalização seja sustentável, o Estado criou um novo modelo de financiamento para os HPPs (Hospitais de Pequeno Porte), com dois tipos de repasses: o fixo, destinado à manutenção da estrutura hospitalar, e o variável, vinculado à produtividade da unidade. Esse formato busca incentivar os municípios a ampliar o número de atendimentos e reduzir filas por exames, cirurgias e procedimentos ambulatoriais.
O foco dos investimentos está nos procedimentos de baixa e média complexidade, como urgência e emergência, cirurgias gerais e ortopédicas, além da atenção materno-infantil. Com isso, os grandes centros ficam livres para concentrar os casos de alta complexidade, tornando o sistema mais eficiente e equilibrado.
Desde 2023, o governo já destinou mais de R$ 1,8 bilhão para colocar o novo modelo em prática. Esses recursos foram aplicados em obras, aquisição de equipamentos, repasses diretos aos municípios e incentivo hospitalar.
Redistribuição estratégica nas macrorregiões - A regionalização também considera a configuração das macrorregiões de saúde do Estado. Em cada uma delas, há uma cidade-polo para alta complexidade, enquanto outras assumem os procedimentos de média complexidade. Veja como está organizado:
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Macrorregião Costa Leste: Três Lagoas (alta complexidade); Bataguassu, Paranaíba, Aparecida do Taboado, Costa Rica, Cassilândia e Chapadão do Sul (média complexidade).
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Macrorregião Central: Campo Grande (alta complexidade); Aquidauana, Coxim, São Gabriel do Oeste, Sidrolândia, Maracaju, Bela Vista e Jardim (média complexidade).
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Macrorregião Cone Sul: Dourados (alta complexidade); Ponta Porã, Naviraí, Nova Andradina, Rio Brilhante e Fátima do Sul (média complexidade).
A proposta melhora o fluxo de atendimento, reduz deslocamentos desnecessários e facilita o acompanhamento dos pacientes, que agora podem se tratar perto de casa com qualidade e menor tempo de espera.
“Estudamos as demandas e o investimento de cada município. A proposta foi bem aceita porque é justa: direciona os recursos conforme a produção e a necessidade”, reforçou Maurício Simões.
