A SES (Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul) tem ampliado a presença do SUS no Pantanal por meio do Projeto NAVIO — Navegação Ampliada para Vigilância Intensiva e Otimizada. A iniciativa leva atendimento médico, vigilância laboratorial e ações educativas às comunidades ribeirinhas do Tramo Norte do Rio Paraguai, uma região historicamente marcada pela dificuldade de acesso a serviços de saúde.
Coordenado pela Fiocruz Minas, sob liderança do pesquisador Luiz Alcântara, o estudo integra frentes internacionais dedicadas a investigar os impactos das mudanças climáticas nas doenças, como o Consórcio CLIMADE. A execução conta com financiamento de instituições como NIH, OPAS/OMS e CNPq. A chegada do projeto ao Estado foi articulada entre a SES, a Fiocruz e órgãos parceiros, com apoio da Marinha do Brasil para as operações de campo.
Enquanto os insumos laboratoriais são fornecidos pelo Ministério da Saúde, o Lacen-MS garante a análise contínua das amostras. A SES coordena o cuidado às famílias, integrando equipes de Odontologia, Imunização, Telessaúde, Assistência Farmacêutica e Vigilância. Essa estrutura permite que o atendimento médico, as coletas, os exames e as orientações ocorram de forma articulada durante as expedições.
A segunda expedição de 2025, realizada entre 23 de março e 14 de abril, atendeu mais de 460 moradores de comunidades como Barra de São Lourenço, Amolar, Porto São Pedro, Paraguai Mirim e Domingos Ramos, além de áreas urbanas de Corumbá. Foram ofertadas consultas clínicas e odontológicas, vacinação, exames laboratoriais, testagem rápida e investigação de doenças infecciosas.
Para o coordenador Luiz Alcântara, o projeto representa um modelo de vigilância que se destaca no cenário mundial. “Conseguimos agregar saúde em um dos biomas mais sensíveis às mudanças climáticas. Cada amostra coletada e cada diálogo com a comunidade fortalecem nossa capacidade de prever e responder a doenças emergentes”, afirma.
A operação ainda integra vigilância ambiental e animal, com monitoramento da água, de vetores e de condições sanitárias locais. A secretária adjunta de Saúde, Crhistinne Maymone, destaca que o trabalho reforça o compromisso do Estado com populações isoladas. “Levar saúde ao Pantanal é compreender a força e a sensibilidade desse território. Ciência, cuidado e integração ambiental caminham juntas”, diz.
Entre os avanços desta etapa está o uso de ferramentas de inteligência artificial para analisar dados clínicos em tempo real, além do registro digital via plataforma REDCap, o que aprimora a precisão dos estudos epidemiológicos.
As ações educativas abordaram prevenção de doenças, qualidade da água, convivência com a fauna e impactos das mudanças climáticas. Moradores relataram a importância do atendimento. Para a pescadora Maria Cristina Pereira, de Porto Morrinho, a chegada da equipe traz alívio: “Aqui não temos médico. Fui muito bem atendida, fiz exames e recebi orientações que fazem diferença para nós”.
Com base em análises anteriores, a SES também distribuiu filtros de barro às famílias ribeirinhas, reforçando a segurança hídrica em uma região onde já foram identificados contaminantes.
Atendimentos clínicos, diagnósticos laboratoriais, vacinação, vigilância ambiental e educação em saúde formam o conjunto de ações que estruturam o Projeto NAVIO, alinhado à estratégia de regionalização do Governo do Estado e à necessidade de fortalecer o cuidado em territórios remotos.
A próxima etapa do projeto começa em 1º de dezembro.
