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DAR A LUZ

Projeto auxilia gestantes em situação de vulnerabilidade através de adoção voluntária

Acompanhamento psicológico, médico e social são os principais serviços oferecidos

9 outubro 2021 - 10h51Morris Fabiana
Projeto tem como base a proteção da mulher e criança
Projeto tem como base a proteção da mulher e criança - (Foto: Cassidy Rowell)

Como forma de dar novas oportunidades de vida para mulheres e bebês do Mato Grosso do Sul, o projeto Dar Luz oferece suporte para gestantes, que não se sentem seguras com a maternidade, proporcionando uma gravidez saudável e uma entrega de adoção humanizada, para aquelas que optarem pela não criação dos bebês.

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A psicóloga do núcleo de adoção, Naura Clivia, conta que o projeto sempre teve como base a proteção da mulher e criança, com foco na formação de espaço seguro para gestantes que estão passando por momentos de pressão social e psicológica. “O projeto foi criado pela juíza Katy Braun e a psicóloga Sandra Regina, da vara da infância, que tiveram a ideia de um projeto que iria proteger as mulheres em situações de vulnerabilidade e evitar o abandono, os maus tratos, abortos e doações ilegais. Proporcionar para elas uma novas perspectivas de futuro e para as bebês, uma adoção rápida", explica.

Acompanhamento psicológico, médico e social são os principais serviços oferecidos, mas aquelas que entram nessa rede de apoio são auxiliadas conforme suas necessidades. Elas podem ser encaminhadas para exames médicos, receber aconselhamento sobre laqueadura, métodos contraceptivos de longa duração e os benefícios sociais que podem ser incluídas, como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, cursos profissionalizantes e cestas básicas.

O perfil e realidade de quem procura o atendimento é variado. Muitas são jovens, entre 12 e 25 anos, que passaram por violência sexual, estão em relaciomentos extra conjugais, não possuem uma realação estável, se sentem pressionadas pelo parceiros, não desejam ser mães ou reconhecem que o ambiente em que esta inserida, não é adquado para a formação de uma criança.

Entregar uma criança para o sistema de adoção não é crime e feito de maneira correta, proporciona qualidade de vida para a gestante, o bebe e a família adotiva. No Brasil, o aborto, barriga de aluguel, abandono infantil e entregas fora do sistema de adoção, são práticas ilegais.

Segundo o Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), são 29.127 crianças acolhidas institucionalmente, em entidades ou famílias em projetos de apadrinhamento. Deste número, apenas 4.243 estão aptos para serem adotadas. Em todo o País são 32.721 pessoas que desejam a adoção, mas o perfil de crianças dos interessados é de recém nascidos a seis anos. Por isso, projetos como o Dar a Luz, possibilitam que bebês não permaneçam por muito tempo no sistema ou que fiquem em lares inadequados, onde serão resgatados e levados muito tarde para instituições acolhedoras.

São 29.127 crianças acolhidas institucionalmente, em entidades ou famílias em projetos de apadrinhamento - (Foto: Pexels)

Para aqueles que desejam adotar, o primeiro passo é a realização de um curso, com duração de dois meses, oferecido pelo Estado. Depois, é necessário a abertura de um processo judicial de habilitação, onde o juiz irá decidir se a pessoa está apta ou não para receber a criança, a partir dos resultados do curso, da avaliação psicológica e sociais, dos futuros papais e mamães. Sendo permitido, os dados dessa pessoa entram para o sistema nacional de adoção e ela poderá ter contato com seu filho a qualquer momento.

A psicóloga Naura expõe a admiração que tem pelas mulheres que buscam o projeto. “Tem gente que pensa que quem decide pela entrega não tem amor pelos bebês, mas tudo que vejo nessas mulheres é amor e coragem. Elas conseguem deixar seu orgulho de lado, reconhecem suas limitações e escolhem acima de tudo, uma boa vida para as crianças que estão gerando. Até as mulheres que sofreram abuso ou coisas semelhantes… Não dá para ver nenhum rancor, só amor”, lembra.

Durante os 10 anos de projeto, o Dar a Luz já acolheu mais de 150 mulheres. Neste ano, 21 gestantes receberam apoio, onde oito delas optaram pela não entrega do bebê, oito entregaram e cinco ainda estão em acompanhamento. A psicóloga reforça que quem entra em contato com o projeto não é obrigado a entregar a criança no fim da gestação, mas é importante que procurem o acolhimento logo no início da insegurança em relação à maternidade, para não perder as oportunidades que o sistema oferece.

“Muitas mulheres só buscam o projeto no hora do parto, o que não é errado de se fazer, mas elas acabam perdendo nove meses de diversos apoios que possuem direito. Onde teriam tempo para pensar com calma no que seria melhor para ela e para o bebê naquele momento”, ressalta.

Aquelas que decidem pela entrega voluntária, são encaminhadas para uma audiência, onde estarão acompanhadas pelo promotor, o defensor e a juíza, para reafirmar o desejo da entrega. Após este encontro, ela tem 10 dias para desistir de sua decisão, caso não aconteça, depois deste tempo ela estará destituída do poder familiar.

Não é possível manter o contato entre a gestante e os pais da criança, mas o projeto permite que as participantes busquem o núcleo de adoção, para ter notícias sobre a saúde e adaptação do recém nascido.

Não é possível manter o contato entre a gestante e os pais da criança - (Foto: Pexels)

A equipe do projeto que tem contato com estas mulheres recebe uma capacitação. Médicos, enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais e entre outros, podem optar pela participação do treinamento on-line. Antes da pandemia, todo o processo era feito de forma presencial, agora com o retorno de atividades na cidade, a intenção é unir as duas modalidades de qualificação.

Naura explica que desde a divulgação do projeto para as mulheres, até o apoio à entrega da criança, é adotado a postura discreta e sigilosa, para não causar constrangimento para as gestantes, logo que nítido os preconceitos que cercam a entrega voluntária. “Nós temos muita admiração por elas, carinho e respeito. Um respeito que a sociedade também deveria ter. De conseguir entender todas as realidade e não julgar. Porque é muito fácil julgar, agora criar um espaço seguro para a criação de uma criança, com certeza não é”, desabafa.

As mulheres que tiverem interesse em participar do projeto e aqueles que desejam entrar no sistema de adoção, podem ligar no número 3317-3551 ou 3317-3548 e mandar mensagem através do WhatsApp 99107-5844.

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