
Beber cerca de três litros de água por dia e manter evacuações regulares — pelo menos a cada 48 horas — passam a integrar a lista de medidas preventivas contra o câncer de intestino. As recomendações serão divulgadas pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) durante o 73º Congresso Brasileiro de Coloproctologia, que começa nesta quarta-feira (3), em São Paulo.

O câncer colorretal já ocupa o posto de segundo mais frequente no Brasil e é o terceiro que mais causa mortes. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima 45.670 novos casos somente em 2025. A Fundação do Câncer projeta um aumento de 20% até 2040, chegando a 71 mil diagnósticos anuais.
Seis medidas de prevenção
Até agora, quatro pilares principais eram reconhecidos na prevenção:
- alimentação equilibrada;
- manutenção do peso adequado;
- prática regular de atividade física;
- abandono do cigarro.
Com a atualização, somam-se mais duas orientações: hidratação reforçada e regularidade intestinal. Segundo a SBCP, adotar esses hábitos pode reduzir em até 30% o risco de desenvolver câncer colorretal.
“Evacuar pelo menos a cada 48 horas é fundamental. A constipação é considerada fator de risco para o câncer colorretal e deve ser investigada”, alerta a coloproctologista Carmen Ruth Manzione Nadal, membro da comissão de prevenção da SBCP.
No Brasil, especialmente em regiões quentes, a ingestão de água deve ser maior do que a média recomendada em países de clima ameno. “Chegar a três litros por dia é fundamental para que as fibras alimentares cumpram seu papel no intestino, formando um bolo fecal de consistência adequada”, explica Carmen.
O cirurgião digestivo Flávio Kawamoto reforça que evacuações frequentes reduzem o contato da mucosa intestinal com substâncias potencialmente carcinogênicas.
Já o coloproctologista Rodrigo Oliva Perez, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, acrescenta: “Quem se alimenta bem, se exercita e se hidrata tende a ter um intestino mais saudável e menos propenso a lesões”.
Alimentação
A dieta balanceada continua sendo um eixo central da prevenção. A recomendação é priorizar frutas, verduras, legumes, grãos integrais e leguminosas, além de reduzir o consumo de carnes vermelhas, embutidos e ultraprocessados.
O Inca sugere limitar a ingestão de carne vermelha a 500 gramas por semana. Para variar o cardápio, especialistas indicam incluir peixes e aves, fontes ricas em nutrientes e com menor teor de gordura saturada.
Diagnóstico precoce ainda é desafio
Apesar dos avanços na prevenção, o diagnóstico no Brasil ainda é tardio em muitos casos. Entre 60% e 70% dos tumores colorretais são identificados em estágios avançados, quando as chances de cura são menores. Se detectada precocemente, a doença pode ter mais de 90% de taxa de cura.
A ausência de um programa nacional de rastreamento é apontada como uma das causas do cenário. Exames como o sangue oculto nas fezes e a colonoscopia poderiam ampliar a detecção precoce.
O aumento da incidência, inclusive entre jovens, está ligado a fatores como envelhecimento da população, sedentarismo, dietas pobres em fibras, consumo excessivo de álcool, tabaco e obesidade.
“O nosso estilo de vida atual aumenta o risco de mutações no cólon e desenvolvimento de tumores. O rastreamento, aliado a hábitos saudáveis, é essencial para mudar essa realidade”, conclui Perez.
