1º Encontro Regional MIDIACOM MS
SAÚDE

Poluição do ar no Rio pode ter causado 8,5% das mortes de crianças em bairros da Zona Oeste

Estudo da UFRJ e UVA aponta que altos níveis de material particulado fino aumentam riscos respiratórios e cardiovasculares em crianças de até 5 anos

4 agosto 2025 - 13h20
Estudo associa 8,5% da mortalidade a partículas finas no ar
Estudo associa 8,5% da mortalidade a partículas finas no ar - Foto: AEDIN/Divulgação

A poluição do ar nos bairros de Bangu, Paciência e Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, pode ter sido responsável por 8,5% das mortes de crianças de até 5 anos na região. O estudo, realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Universidade Veiga de Almeida (UVA), revelou que altos índices de material particulado fino (MP2,5), substância que prejudica a saúde respiratória e cardiovascular, têm impacto direto na saúde infantil.

Canal WhatsApp

Publicado em julho no Bulletin of Environmental Contamination and Toxicology, o estudo analisou os dados entre abril e novembro de 2023, período com condições climáticas desfavoráveis à qualidade do ar. Os pesquisadores identificaram que, em mais de 50% dos dias, a concentração de MP2,5 ultrapassou os 15 µg/m³ — o valor máximo recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para garantir boa qualidade do ar.

Impactos da poluição na saúde das crianças
Com base nos dados do Sistema Único de Saúde (SUS) e da Prefeitura do Rio, o estudo constatou que, entre as crianças de 1 a 5 anos, a taxa de mortalidade foi de 14,9 por mil nascidos vivos. Aproximadamente 33,5% das mortes foram causadas por doenças respiratórias, enquanto 5,3% se deveram a doenças cardiovasculares. Utilizando o software AIRQ+ da OMS, os pesquisadores estimaram que 8,5% das mortes de crianças nesses bairros poderiam estar diretamente associadas à exposição ao material particulado.

O material particulado fino (MP2,5) é extremamente prejudicial à saúde, pois suas partículas minúsculas conseguem atingir diretamente os pulmões e a corrente sanguínea. Segundo Cleyton Martins, pesquisador da UVA, essas partículas podem agravar doenças pulmonares, como asma e bronquite, e também causar problemas cardiovasculares. Além disso, o impacto é ainda maior em crianças, cujos sistemas respiratório e circulatório estão em desenvolvimento.

“Crianças são mais vulneráveis porque seus sistemas ainda estão em formação. Elas são mais suscetíveis aos efeitos nocivos desse tipo de poluição. A população idosa também corre riscos maiores, devido à fragilidade do sistema respiratório e imunológico”, explica Martins.

Necessidade de monitoramento e políticas públicas
O estudo destaca a urgência de políticas públicas mais eficazes para monitorar e controlar a poluição do ar, especialmente em áreas com altos índices de contaminação, como as da Zona Oeste do Rio. O pesquisador aponta que a maioria das cidades no Brasil, incluindo o Rio, não realiza um monitoramento abrangente da qualidade do ar, ou faz isso de forma insuficiente.

Martins defende a ampliação do monitoramento da poluição, que deve cobrir toda a cidade, considerando todos os poluentes, para que seja possível criar estratégias de controle e mitigação. “O diagnóstico da qualidade do ar precisa ser mais preciso para que ações de fiscalização e controle possam ser implementadas de forma eficaz”, acrescenta.

O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) tem avançado nesse sentido, ampliando a cobertura do monitoramento de material particulado fino, o que, segundo o pesquisador, é um passo importante para enfrentar o problema.

Assine a Newsletter
Banner Whatsapp Desktop

Deixe seu Comentário

Veja Também

Mais Lidas