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07 de dezembro de 2025 - 22h04
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SAÚDE

Ortoréxia: quando o foco na alimentação saudável vira obsessão

Estudo identifica comportamentos de risco e alerta para desequilíbrios físicos e emocionais

7 dezembro 2025 - 11h30E+/Agência Fapesp
Ortorexia envolve regras rígidas e preocupação extrema com a pureza dos alimentos.
Ortorexia envolve regras rígidas e preocupação extrema com a pureza dos alimentos. - (Foto: Freepik)

A busca por uma rotina equilibrada costuma ser associada à prevenção de doenças e à melhora da qualidade de vida. Mas, em alguns casos, o interesse por comer “da melhor forma possível” ultrapassa o cuidado e se transforma em sofrimento. Esse movimento tem sido observado por especialistas e ganhou nome: ortorexia nervosa, uma obsessão pela pureza e pela qualidade dos alimentos.

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O quadro, ainda não classificado oficialmente como transtorno alimentar, envolve preocupação extrema com ingredientes considerados saudáveis, regras rígidas, exclusão de grupos alimentares inteiros e impactos que vão do isolamento social ao desequilíbrio nutricional.

Uma pesquisa publicada na revista Psychology, Health & Medicine analisou o comportamento de 1.359 brasileiros fisicamente ativos, em sua maioria mulheres com média de 29 anos. O objetivo foi diferenciar pessoas com interesse funcional por alimentação equilibrada daquelas mais suscetíveis à ortorexia nervosa.

O levantamento foi conduzido por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), do Centro Universitário de Patos de Minas (Unipam) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

O trabalho identificou que o interesse saudável pela comida está ligado a fatores como maior idade, prática regular de exercícios, uso moderado de suplementos e ausência de cirurgias estéticas. Já a ortorexia aparece com mais força entre mulheres, pessoas desempregadas, seguidores de dietas restritivas com foco estético e indivíduos com histórico de transtornos alimentares.

Wanderson Roberto da Silva, coordenador do estudo, explica que a ortorexia costuma se manifestar por meio da eliminação radical de alimentos considerados “não puros”, como ultraprocessados, produtos com aditivos e itens com açúcar adicionado. Em muitos casos, isso se expande para restrições injustificadas a grupos como glúten e laticínios.

Segundo ele, a supervalorização de proteínas e o abandono de gorduras, carboidratos e fibras contribuem para deficiências nutricionais, além de efeitos psicológicos. “A alimentação não é apenas uma lista de permitidos. Envolve cultura, afeto e convivência”, afirma.

De acordo com o estudo, o interesse saudável pela alimentação está ligado a fatores como maior idade, prática regular de exercícios, ausência de cirurgias estéticas e uso moderado de suplementos. Já a ortorexia nervosa foi mais comum entre mulheres, pessoas desempregadas, com histórico de transtornos alimentares e que seguem dietas restritivas com foco estético.

“Esses padrões indicam uma rigidez cognitiva e uma busca excessiva por controle, que podem gerar culpa, ansiedade e até levar a pessoa a evitar o convívio social”, afirma Silva. Ele destaca ainda que o desemprego pode agravar o quadro ao aumentar o estresse e desorganizar a rotina.

O pesquisador ressalta que um achado particularmente interessante foi que os dois casos se associaram à prática frequente de exercício físico. “Isso reforça a dupla face do comportamento saudável: o exercício pode ser um instrumento de promoção da saúde, mas, quando combinado com rigidez extrema e preocupação estética, pode se tornar parte do problema. No contexto brasileiro, onde há forte valorização da imagem corporal, pressões estéticas podem contribuir para a adoção de padrões alimentares rígidos”, diz Silva.

O estudo reforça um consenso entre especialistas: a relação com a comida precisa ser mais ampla do que um conjunto de regras. Silva destaca a importância de compreender que uma alimentação verdadeiramente saudável também envolve prazer, vínculo social e acolhimento emocional. Ele lembra que isso não significa buscar conforto apenas em alimentos hiperpalatáveis, mas admitir que, eventualmente, algo entra no prato por motivos afetivos — e isso também faz parte de uma rotina equilibrada.

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