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24 de dezembro de 2025 - 12h00
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SAÚDE PÚBLICA

MS lidera taxa de câncer de mama no Centro-Oeste e registra 814 casos em 2024

Boletim da SES mostra maior incidência da doença em Mato Grosso do Sul, mais de mil mortes em cinco anos e baixa cobertura de mamografia

24 dezembro 2025 - 10h00Iury de Oliveira
Mulher realiza exame de mamografia em unidade de saúde de Mato Grosso do Sul; Estado teve 814 casos e mais de mil mortes por câncer de mama em cinco anos.
Mulher realiza exame de mamografia em unidade de saúde de Mato Grosso do Sul; Estado teve 814 casos e mais de mil mortes por câncer de mama em cinco anos. - (Foto: Imagem ilustrativa/A Crítica)

Com 814 novos diagnósticos em 2024, Mato Grosso do Sul encerrou o ano na liderança da taxa de câncer de mama entre os estados do Centro-Oeste. Ao mesmo tempo, mais de mil pessoas perderam a vida para a doença no Estado nos últimos cinco anos. Os dados constam em boletim divulgado nesta semana pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) e acendem um alerta sobre prevenção, diagnóstico e acesso aos exames.

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O câncer de mama, que atinge com maior frequência as mulheres, é hoje um dos principais desafios da saúde pública. No Estado, a taxa de incidência chegou a 58,12 casos a cada 100 mil habitantes, a mais alta da região. No outro extremo, Goiás registrou a menor marca entre os estados do Centro-Oeste, com 35,38 casos por 100 mil habitantes, o que evidencia diferenças importantes dentro da mesma região do País.

Incidência acima da média regional - O levantamento da SES mostra que, em números absolutos, 814 moradoras de Mato Grosso do Sul receberam o diagnóstico de câncer de mama ao longo de 2024. Considerando a população, isso significa que, a cada 100 mil habitantes, mais de 58 desenvolveram a doença no ano passado, um indicador que coloca o Estado em situação mais delicada do que os vizinhos da região.

Na comparação nacional, Mato Grosso do Sul ocupa a 17ª posição em quantidade de casos. O topo do ranking é liderado por São Paulo, seguido por Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Mesmo não estando entre os primeiros em números absolutos, o fato de MS liderar a taxa de incidência no Centro-Oeste mostra que, proporcionalmente, a doença tem forte presença no território sul-mato-grossense.

Os dados estaduais dialogam com o cenário nacional. De acordo com o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de mama é o tumor maligno que mais mata mulheres no Brasil, com estimativa de cerca de 73.610 casos novos da doença entre 2023 e 2025. No contexto de Mato Grosso do Sul, os números da SES detalham como essa realidade se expressa no dia a dia da população.

Mais de mil mortes em cinco anos - O boletim da Secretaria Estadual de Saúde mostra que, nos últimos cinco anos, 1.126 pessoas morreram em decorrência do câncer de mama em Mato Grosso do Sul. A série histórica indica um crescimento dos óbitos ao longo do período analisado.

Em 2020, foram registradas 195 mortes. No ano seguinte, 2021, o número subiu para 211. Em 2022, houve leve recuo para 196 óbitos, mas a curva voltou a subir em 2023, quando 267 pessoas morreram em decorrência da doença. Em 2024, foram 257 mortes.

Embora o dado mais recente mostre pequena queda em relação a 2023, o conjunto das informações revela que o total anual de óbitos hoje é maior do que no início da série, em 2020. Ou seja, o impacto do câncer de mama na mortalidade segue significativo no Estado.

A análise regional aponta que os municípios da região central de Mato Grosso do Sul, onde está Campo Grande, concentraram a maior taxa de mortes. A faixa etária mais atingida foi a de 55 a 64 anos, indicando que, mesmo em uma fase em que muitas mulheres ainda estão em plena atividade profissional e familiar, a doença tem se mostrado especialmente agressiva.

Acesso desigual à mamografia - Um dos pontos que ajudam a entender o cenário é a cobertura da mamografia, exame indicado a partir dos 40 anos e fundamental para o diagnóstico precoce. Em Mato Grosso do Sul, a cobertura foi de 39,01% em relação à população de mulheres na faixa recomendada, índice considerado inferior ao necessário para provocar impacto consistente na redução da mortalidade por câncer de mama.

O Estado apresenta fortes desigualdades internas no acesso ao exame. As maiores coberturas foram registradas nas cidades da região Sudeste, com 64,12%, e da região Centro-Sul, com 48,67%. Já as menores ficaram com o Baixo Pantanal, com 25,35%, e o Pantanal, com 26,99%.

Na prática, os números revelam que, em algumas áreas, quase duas em cada três mulheres dentro da faixa etária indicada realizam a mamografia, enquanto em outras regiões esse acesso cai para algo próximo de uma em cada quatro. Os dados, segundo o próprio boletim, sugerem desigualdades importantes na oferta e na realização do exame entre as diferentes partes do Estado.

Por outro lado, quando se olha apenas para a proporção de mamografias feitas dentro da faixa etária recomendada, a média estadual é alta: 96,47% dos exames realizados foram em mulheres na idade indicada. Isso indica que, quando o exame acontece, ele está majoritariamente concentrado no público certo, mas ainda alcança um número insuficiente de mulheres para produzir o impacto desejado na mortalidade.

Medidas para ampliar diagnósticos - Diante do cenário de incidência elevada e da necessidade de melhorar o diagnóstico precoce, a Secretaria Estadual de Saúde informou, no boletim, um conjunto de ações voltadas para ampliar a oferta de mamografias e qualificar o acompanhamento dos casos.

Uma das medidas anunciadas é a compra de quatro novos mamógrafos para atender os municípios de Jardim, Corumbá, Ponta Porã e Coxim. A expansão da estrutura física tem o objetivo de aproximar o exame das moradoras dessas regiões, reduzindo deslocamentos e barreiras de acesso.

Além da aquisição dos equipamentos, a SES afirma que está promovendo treinamentos com gestores municipais e profissionais de saúde para uso do Siscan (Sistema de Informação do Câncer). A ferramenta é utilizada para registrar e acompanhar os exames, incluindo resultados alterados, o que permite monitorar melhor as pacientes desde a detecção de alterações até o desfecho do caso.

O boletim também prevê, para 2026, reuniões com representantes das regiões que apresentam indicadores mais frágeis em relação à realização de mamografias. A ideia é discutir soluções específicas para esses locais, com foco em estratégias que aumentem a busca ativa, a oferta de exames e o acompanhamento das mulheres com maior risco.

Desafio permanente para a saúde da mulher - Os dados mais recentes confirmam que o câncer de mama continua sendo um desafio permanente para a saúde das mulheres em Mato Grosso do Sul. De um lado, a incidência elevada e o número de óbitos mostram a força da doença no Estado. De outro, a baixa cobertura de mamografia e as desigualdades regionais apontam para a necessidade de fortalecer políticas de prevenção, diagnóstico precoce e acompanhamento.

O boletim da SES reúne informações que podem orientar decisões de gestão, desde a distribuição de equipamentos até ações de mobilização nas regiões com menor acesso ao exame. Em um cenário em que a doença ainda provoca mais de duzentas mortes por ano, o esforço para antecipar o diagnóstico e garantir tratamento adequado segue central para mudar a curva de mortalidade nos próximos anos.

Enquanto os novos mamógrafos não entram em funcionamento e as reuniões regionais previstas para 2026 não acontecem, os números de 2024 funcionam como um retrato incômodo, mas necessário: o câncer de mama está avançando em Mato Grosso do Sul e exige resposta contínua do poder público, dos serviços de saúde e da sociedade.

Ao evidenciar o perfil da doença no Estado, com maior risco entre mulheres de 55 a 64 anos e concentração de mortes na região central, o boletim reforça que enfrentar o câncer de mama significa também encarar desigualdades territoriais, barreiras de acesso a exames e a necessidade de manter o tema em pauta o ano inteiro, e não apenas em campanhas pontuais.

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