
Desde que algumas celebridades começaram a falar sobre Mounjaro como a nova “arma secreta” para emagrecer, o medicamento virou pauta nas redes sociais e tem despertado a curiosidade tanto de especialistas quanto de leigos.

Criado pela farmacêutica americana Eli Lilly, Mounjaro, ou tirzepatida, foi aprovado pela Anvisa em 2023 para o tratamento do diabetes tipo 2 no Brasil, mas rapidamente conquistou espaço como promissor no combate ao sobrepeso e obesidade. Mas afinal, o que há de especial nesse medicamento?
Danilo Avelar, doutor em Farmacologia e professor de Enfermagem no Centro Universitário de Brasília (CEUB), explica que o Mounjaro é um “primo-irmão” do Ozempic, famoso medicamento que ganhou atenção mundial por seus efeitos no controle do diabetes e na perda de peso. “O Mounjaro combina a ação de dois hormônios, o GLP-1 e o GIP, que juntos não apenas controlam o açúcar no sangue, mas prolongam a sensação de saciedade e retardam o esvaziamento do estômago”, diz Avelar. “É um controle duplo, que mexe com a produção de insulina e ainda ajuda a pessoa a comer menos.”
Como funciona o “mágico” Mounjaro? - O segredo do Mounjaro, segundo Avelar, está na combinação de ação de hormônios normalmente já presentes no organismo, mas que são impulsionados com a ajuda da tirzepatida, o princípio ativo da medicação. Esses hormônios regulam a insulina e diminuem a velocidade da digestão. “Isso causa a sensação de saciedade prolongada, um dos motivos pelo qual o Mounjaro tem sido eficaz em promover a perda de peso, além de melhorar o controle glicêmico em quem tem diabetes tipo 2”, explica.
A farmacologia da tirzepatida permite que o Mounjaro seja uma espécie de “policial duplo”, segundo especialistas, porque age tanto na absorção dos carboidratos quanto no controle da fome. Dessa forma, não apenas a glicemia é estabilizada, como o apetite diminui. Para o doutor em Farmacologia, é essa dupla função que explica a eficácia do medicamento em um campo onde outros tratamentos, até então, atuavam de forma isolada.
Para quem é o Mounjaro? - Apesar do alvoroço, Avelar alerta que o Mounjaro não é para qualquer um. “Ele é indicado para pessoas com diabetes tipo 2 que ainda têm dificuldades para controlar a glicemia, e para aqueles que precisam perder peso de forma significativa, como pacientes com sobrepeso ou obesidade.” Mas há restrições importantes: o Mounjaro não deve ser usado por gestantes ou por pessoas com alergia aos análogos de GLP-1, uma das substâncias que ele replica. “Há ainda quem sofra com náuseas fortes ou quem tenha problemas de pressão baixa; esses também devem evitar o uso”, ressalta o professor.
Efeitos colaterais: o outro lado do “sonho de emagrecimento” - Enquanto muitos falam sobre os milagres, Avelar lembra que há um lado menos glamouroso: os efeitos colaterais. “Os mais comuns são náusea, diarreia e vômito, o que não é agradável, mas são efeitos conhecidos e possíveis de serem controlados com ajustes na dieta e orientação médica.” Esses sintomas são especialmente mais comuns nas primeiras semanas de uso, mas costumam diminuir à medida que o corpo se adapta à medicação.
Mounjaro pode prevenir outras doenças? - A possibilidade de o Mounjaro ajudar em outras condições, como Alzheimer e doenças cardiovasculares, é um campo em estudo. “A regulação do açúcar no sangue e o impacto sobre o metabolismo celular podem abrir portas para aplicações terapêuticas inesperadas”, observa Avelar. “Isso mostra o quanto a medicina é viva e está em constante transformação.”
Uma tendência com efeitos duradouros? - Para Avelar, os medicamentos como o Mounjaro são parte de um movimento na medicina para lidar com problemas como a obesidade e o diabetes de uma forma integrada. “Quando combinamos mecanismos naturais do corpo com tecnologia farmacêutica, temos chances de sucesso maiores, mas não se trata de uma cura mágica. É uma ferramenta poderosa que deve ser usada com responsabilidade.”
E é justamente essa combinação de promessas e precauções que torna o Mounjaro uma novidade intrigante — uma aposta da indústria farmacêutica para transformar a vida de quem precisa controlar a balança e a glicose. Resta saber se o “primo do Ozempic” conseguirá consolidar seu espaço na lista de opções para os brasileiros.
