
Cerca de 16 milhões de adultos nos Estados Unidos estão usando medicamentos da classe dos análogos do GLP-1. Esses remédios representam um avanço importante tanto para pacientes com sobrepeso e obesidade quanto para aqueles que vivem com diabetes tipo 2.

No entanto, médicos alertam que há uma percepção equivocada de que medicamentos que promovem perda de peso, como a semaglutida — molécula do Ozempic (diabetes) e do Wegovy (obesidade) — e a tirzepatida — do Mounjauro —, são tudo o que uma pessoa precisa para ter uma vida mais saudável.
Dieta e atividade física continuam sendo fundamentais, afirma JoAnn Manson, chefe da divisão de medicina preventiva do Hospital Brigham and Women’s, em Boston. “Eles continuam sendo essenciais”, afirma.
“Se a pessoa não prestar atenção à ingestão de proteínas, à hidratação e à prática regular de atividade física — especialmente exercícios de resistência —, pode ter um estado nutricional considerado ruim e apresentar uma perda significativa de massa muscular.”
Os medicamentos dessa classe imitam o GLP-1, um hormônio produzido pelo corpo que ajuda a regular a fome e os níveis de açúcar no sangue. As injeções reduzem a vontade de comer, tornam a digestão mais lenta e prolongam a sensação de saciedade.
Como esses remédios afetam o funcionamento do estômago, eles também podem causar efeitos colaterais gastrointestinais, como náuseas e vômitos — algumas pessoas chegam a interromper o uso por causa deles.
Ainda assim, segundo Manson, é possível reduzir esses efeitos com algumas mudanças de comportamento “relativamente simples” e seguir com o tratamento.
Ela é coautora de dois artigos — um voltado para profissionais de saúde e outro para pacientes — recentemente publicados no importante periódico JAMA Internal Medicine.
Veja, a seguir, cinco recomendações que ela e seus colegas consideram essenciais para quem usa esses medicamentos:
1 - Parte do peso perdido pode ser de massa muscular
Esses medicamentos podem ajudar uma pessoa a eliminar entre 15% e 21% do peso corporal. Mas uma parte significativa dessa perda — até 1/4 — pode ser de massa muscular, afirma a médica.
2 - Comece cada refeição com proteínas
Segundo Manson, a proteína pode vir de fontes como frango, peixe, feijão, grão-de-bico ou tofu. A recomendação diária é de 1 a 1,5 grama de proteína por quilo de peso corporal. Para uma pessoa de 100 quilos, por exemplo, a ingestão diária deve ser de pelo menos 100 a 150 gramas de proteína.
Para quem está com pouco apetite ou comendo porções menores, uma alternativa é tomar um shake de proteína ao longo do dia como suplemento.
Ela e os colegas também sugerem montar o prato da seguinte forma: metade com frutas e vegetais, 1/4 com proteínas e, no restante, completar com grãos.
3 - Treinos de resistência 2 a 3 vezes por semana ajudam a fortalecer os músculos
Para evitar a perda de massa magra, Manson recomenda fortalecer os músculos com exercícios que usem faixas elásticas, halteres ou o próprio corpo.
O ideal é fazer de 60 a 90 minutos de treino de resistência por semana, além de 150 minutos de atividade aeróbica, como uma caminhada rápida.
4 - Beba mais água
A água ajuda a combater a desidratação e a constipação que podem ocorrer com o uso desses medicamentos. Manson recomenda consumir de 8 a 12 copos por dia — também é possível se hidratar com alimentos ricos em água, como pepino e melancia.
Além disso, os pesquisadores sugerem limitar o consumo de álcool, cafeína e bebidas açucaradas ou adoçadas artificialmente.
5 - Evite deitar-se por duas a três horas após as refeições
Essa prática pode ajudar a diminuir o risco de azia.
Além disso, inclua fibras na alimentação para aliviar a constipação e evite alimentos gordurosos ou fritos, que podem aumentar a sensação de náusea.
O que dizem outros especialistas?
Andres Acosta, professor associado de medicina e consultor em gastroenterologia e hepatologia na Mayo Clinic — que também já prestou consultoria para as empresas Novo Nordisk e Eli Lilly e cofundou duas companhias ligadas à perda de peso, Phenomix Sciences e Gila Therapeutics — explica que muitos pacientes chegam com uma “noção pré-concebida” de que basta tomar o medicamento para emagrecer.
Porém, os ensaios clínicos que baseiam a aprovação desses remédios foram feitos dentro de “programas completos”, que incluíam intervenções no estilo de vida, como reduzir o número de calorias ingeridas e exercícios físicos.
“Essa ideia de ‘só tomar a injeção e não fazer mais nada’ está errada. Não vai promover mudanças comportamentais reais e duradouras”, afirma Acosta, coautor do livro The Mayo Clinic Diet: Weight-Loss Medications Edition.
“Os pacientes não vão obter os mesmos resultados que vimos nos estudos (sem essas mudanças).”
Esses medicamentos são apenas mais uma ferramenta dentro de um programa mais amplo de controle de peso, explica Acosta. Ele orienta que os pacientes mantenham uma alimentação saudável, com “uma boa quantidade de proteína” e hidratação adequada.
“Gosto de alinhar as expectativas desde o início”, diz ele. “E também deixo claro que nem todo mundo vai perder peso.”
Algumas pessoas podem recuperar o peso quando param de usar esses medicamentos, acrescenta Elizabeth Mietlicki-Baase, professora associada de ciências do exercício e nutrição da Universidade de Buffalo.
“Os pesquisadores estão buscando estratégias para evitar o reganho de peso após a interrupção do tratamento”, explica ela. “Mas ainda não temos uma resposta definitiva sobre isso.”
