
Quem é mais reservado pode até achar que está em desvantagem quando lê sobre os efeitos da socialização na saúde. Afinal, pesquisas associam redes de apoio sólidas à longevidade e ao envelhecimento saudável. Os chamados “superidosos”, por exemplo, são pessoas com mais de 80 anos que mantêm uma memória de jovens de 60 e, em geral, são altamente sociáveis.

Por outro lado, a solidão crônica tem sido associada a um risco maior de demência, doenças cardíacas e até morte precoce. Mas, segundo especialistas, não é necessário ter uma vida social intensa para aproveitar os benefícios da convivência.
O segredo está na qualidade dos vínculos. Introvertidos não precisam se forçar a estar no centro das atenções. Ter alguns laços significativos e manter interações no dia a dia já pode ser suficiente para preservar a saúde física e mental.
O médico geriatra Ashwin Kotwal, professor da Universidade da Califórnia, em São Francisco, explica que o importante não é o número de contatos, mas o papel que eles exercem na vida da pessoa.
Especialistas apontam quatro funções essenciais que as relações sociais devem cumprir para manter o corpo e a mente em equilíbrio:
1. Apoio emocional
Amigos íntimos ou familiares com quem se pode conversar abertamente sobre questões pessoais são fundamentais. A falta desse tipo de apoio, comum em situações de solidão, pode prejudicar diretamente a saúde.
A solidão é um fator estressante, e o estresse contínuo leva à inflamação crônica, uma condição ligada ao surgimento de câncer, doenças cardíacas e comprometimento cognitivo.
2. Apoio prático
Ter com quem contar para resolver tarefas do dia a dia, como ir ao médico, buscar medicamentos ou preparar uma refeição, também é crucial. Esse suporte se torna ainda mais importante em momentos difíceis, como uma demissão ou o diagnóstico de uma doença.
O autor Ken Stern, do livro "Healthy to 100", lembra da importância de ter alguém de confiança em situações de crise. Já a psicóloga Julianne Holt-Lunstad recomenda que se tenha entre quatro a seis relacionamentos próximos, o que evita depender exclusivamente de uma única pessoa.
3. Estímulo para hábitos saudáveis
Pessoas com boas relações tendem a cuidar melhor da própria saúde. Estudos mostram que quem tem apoio social se exercita mais, segue uma alimentação equilibrada, vai com mais frequência ao médico e adere melhor aos tratamentos prescritos.
Esse estímulo pode vir do cônjuge, de filhos ou até de um grupo de atividades físicas. Kotwal destaca que o próprio valor atribuído às relações também motiva o autocuidado. Cuidar de si mesmo é uma forma de valorizar os vínculos que se tem.
4. Estímulo mental
Embora os vínculos mais próximos sejam importantes, interações com colegas, conhecidos ou até estranhos também são benéficas. Essas conversas exigem mais atenção e elaboração, ativando áreas importantes do cérebro.
A professora Karen Fingerman, da Universidade do Texas, explica que conversas com pessoas íntimas acontecem quase em código, mas que interagir com desconhecidos exige mais do raciocínio e da linguagem.
Por isso, aquele breve diálogo no elevador ou no caixa do supermercado pode ser tão importante quanto um encontro com um amigo.
Introvertidos também precisam de conexões
Nem todo mundo precisa ou deseja interações frequentes. Algumas pessoas gostam de ficar sozinhas e não se sentem solitárias, o que é perfeitamente possível. No entanto, isso não significa que o isolamento prolongado não tenha efeitos negativos.
Kotwal alerta que a solidão subjetiva importa, mas que isso não deve servir de desculpa para a desconexão. Holt-Lunstad reforça que, mesmo pessoas mais introvertidas, precisam manter um certo nível de convivência social, ainda que em menor intensidade.
