
Na manhã da quinta-feira (21), o médico Valdmário Rodrigues Júnior deu uma entrevista ao vivo no programa Giro Estadual de Notícias, transmitido por todo o Mato Grosso do Sul pelo Grupo Feitosa de Comunicação. Durante a conversa, ele trouxe à tona um tema delicado, mas que afeta milhares de pessoas: quando a Justiça obriga o governo ou os planos de saúde a pagar por remédios muito caros — mesmo que esses remédios ainda não tenham comprovação científica.

"Às vezes, um único medicamento aprovado por um juiz consome o dinheiro que seria usado para tratar milhares de outras pessoas", explicou o médico, que também é conselheiro da Unimed Campo Grande e embaixador da Unicred.
Durante a conversa, o médico trouxe à tona um tema delicado, mas que afeta milhares de pessoas: quando a Justiça obriga o governo ou os planos de saúde a pagar por remédios muito caros — mesmo que esses remédios ainda não tenham comprovação científica
Essa situação tem um nome: judicialização da saúde. Acontece quando um paciente, por não conseguir o remédio ou tratamento que precisa, entra na Justiça para conseguir. E, em muitos casos, consegue. O problema, segundo Valdmário, é que muitas dessas decisões acabam causando desequilíbrio no sistema como um todo.
"A família entra na Justiça com um pedido, o médico assina, o juiz autoriza. Mas o remédio custa 5 milhões de reais. E quem paga essa conta? O dinheiro sai da saúde, e falta para os outros", criticou.
Durante a entrevista, transmitida também pelas redes sociais, o médico deixou claro que não se trata de negar o direito de ninguém. Mas, segundo ele, é preciso equilíbrio. "A saúde é um direito de todos. Mas a gente precisa cuidar do coletivo, não só do individual. Quando um ganha, muitos outros podem perder", alertou.
Valdmário explicou que muitos desses medicamentos pedidos na Justiça ainda não têm comprovação de que funcionam. E mesmo assim, acabam sendo liberados. "É um risco. Porque além de não funcionar, custa caro demais. E esse dinheiro poderia ser usado para comprar remédio para diabetes, pressão, ou para melhorar o atendimento básico, por exemplo", disse.
Ele também destacou que os juízes, muitas vezes, decidem sem ter apoio técnico. "O magistrado está diante de um pedido feito por um médico, com uma família desesperada. É muito difícil negar. Mas ele precisa de ajuda, de especialistas que possam orientar sobre aquele medicamento ou tratamento", defendeu.
Para resolver esse impasse, o médico sugeriu a criação de núcleos de apoio para os juízes. "Tem que ter gente com conhecimento técnico, que possa dizer: esse remédio tem comprovação, esse não tem. Essa decisão ajuda o sistema, essa outra pode comprometer todo o orçamento", afirmou.
Segundo ele, o problema não está apenas na saúde pública. Os planos de saúde também sofrem com isso. "As operadoras têm que manter dinheiro parado em fundos, por exigência da ANS, para cobrir possíveis decisões judiciais. Esse dinheiro podia estar sendo usado em ações de prevenção e atendimento, mas está lá, parado", explicou.
O resultado, segundo ele, é o aumento dos preços dos planos e o colapso do sistema. "A conta chega para todo mundo. O plano fica mais caro, o serviço piora, e no SUS também começa a faltar o básico. Tudo isso porque faltou planejamento e bom senso", disse.
Para Valdmário, o caminho é pensar de forma coletiva. "Os recursos são finitos. As necessidades, infinitas. A gente precisa entender essa conta. O dinheiro não dá para tudo. E se a gente não cuidar, vai faltar para quem mais precisa", afirmou.
No fim da entrevista, ele deixou uma frase que resume bem a situação: "Não é falta de lei, nem de dinheiro. É falta de gente séria, preparada e com compromisso com o coletivo".
