
A expectativa de enriquecer não é o principal motivo que leva adolescentes a apostar. Segundo o 3º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad III), realizado pela Unifesp em parceria com o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), a curiosidade (37%) e a influência de amigos (28%) são as principais razões que atraem jovens para o universo das “bets”. O ganho financeiro aparece apenas em terceiro lugar (25%).
O estudo revela que 10,9% dos brasileiros entre 14 e 18 anos — mais de 1 milhão de adolescentes — já participaram de algum tipo de jogo de aposta. Entre toda a população com 14 anos ou mais, o número chega a 33 milhões de pessoas.
As apostas esportivas são as mais populares entre os adolescentes, seguidas por loterias e jogos de cartas com dinheiro. Apesar disso, apenas 34% dos entrevistados consideram o ato de apostar “muito arriscado”.
Perfil
O levantamento mostra que o envolvimento aumenta com a idade, sendo mais comum entre adolescentes de 16 e 17 anos. A maioria vive em áreas urbanas e tem acesso facilitado à internet e a dispositivos móveis.
Mais de 70% das apostas foram realizadas em plataformas digitais, muitas delas internacionais, o que dificulta a fiscalização. Além disso, 52% dos jovens afirmam conhecer alguém que aposta regularmente, e 26% dizem ter familiares que jogam, o que contribui para a normalização da prática.
O estudo também identificou que 2,2% dos jovens apresentam comportamento problemático, como dificuldade em parar, mentiras sobre o hábito e apostas com valores elevados. Esse grupo é o mais vulnerável a endividamento, evasão escolar e problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão.
Recomendações
Diante dos dados, os pesquisadores defendem regras mais rígidas para o setor, incluindo restrição de publicidade em horários acessíveis a menores e proibição do uso de influenciadores, atletas e figuras públicas com apelo juvenil.
Os modelos do Reino Unido e da Espanha são citados como exemplos: ambos proíbem propagandas de apostas durante transmissões esportivas e em uniformes de clubes.
O grupo também propõe a criação de um órgão regulador independente, com poder para fiscalizar e punir empresas que descumpram normas de proteção a menores. Outra recomendação é o uso de inteligência artificial para identificar perfis com comportamento compulsivo, bloqueando automaticamente apostas suspeitas e impedindo o acesso de menores.
