
Na última sexta-feira (8), o auditório do Hospital Universitário de Dourados (HU-UFGD/Ebserh) recebeu um tema que mexe com ciência, direitos e cultura: a possibilidade de amamentação por pessoas trans. A palestra “Aleitamento materno também é pauta para pessoas trans” integrou a programação do Agosto Dourado, mês de incentivo à amamentação, e foi conduzida pelo médico Ricardo Gomes, do Ambulatório de Ginecologia e do Ambulatório Transexualizador da instituição.

Voltada especialmente aos pacientes do Ambulatório Trans, a atividade buscou informar, acolher e combater preconceitos. “O cuidado em saúde deve ser inclusivo, informado e respeitoso com todas as identidades”, afirmou Gomes.
O encontro abordou, de forma técnica e acessível, como funciona a indução da lactação em mulheres trans — pessoas designadas homens ao nascer que se identificam como mulheres — e que desejam amamentar. Foram explicados protocolos que combinam uso de hormônios como estrogênio e progesterona, estímulo mecânico das mamas e, em alguns países, medicamentos como a domperidona (não autorizada no Brasil). O médico também apresentou um caso documentado em 2018, em que uma mulher trans conseguiu amamentar exclusivamente seu bebê por seis semanas, seguindo acompanhamento profissional.
Também houve espaço para falar sobre homens trans — pessoas designadas mulheres ao nascer que se identificam como homens — que engravidam e optam por amamentar. As possibilidades vão desde o aleitamento direto no peito até a ordenha e oferta do leite em copinho ou mamadeira, passando pelo uso de fórmulas e leite doado.
Segundo Gomes, a decisão de amamentar envolve tanto aspectos físicos quanto emocionais. “O importante é garantir que a escolha seja respeitada, que haja conforto emocional e que a prática seja segura para a pessoa e para a criança”, destacou.
O evento ainda discutiu o panorama internacional e a ausência de protocolos oficiais no Brasil para indução de lactação em pessoas trans. Especialistas presentes defenderam que, além de orientação médica, é preciso avançar no debate jurídico para garantir o direito de amamentar a todas as identidades.
Para o Hospital Universitário de Dourados, promover essa conversa é parte de um compromisso institucional. “Informação também é uma forma de cuidar”, foi a frase final da palestra, que reforçou o papel da ciência e da educação na desconstrução de preconceitos e na ampliação de direitos reprodutivos.
