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SAÚDE

Diagnóstico falho ainda é principal obstáculo para erradicar a malária no Brasil

Especialistas alertam para risco de reimplantação da doença fora da Amazônia em meio às mudanças climáticas

26 abril 2025 - 09h55
Aplicação de inseticida é uma das ações para controlar mosquitos transmissores da malária, doença que ainda ameaça regiões além da Amazônia.
Aplicação de inseticida é uma das ações para controlar mosquitos transmissores da malária, doença que ainda ameaça regiões além da Amazônia. - (Foto: Prefeitura de Caraguatatuba)

Falta de diagnóstico rápido e eficaz continua sendo um dos maiores entraves para a eliminação da malária no Brasil. O alerta é do imunologista Claudio Tadeu Daniel-Ribeiro, chefe do Laboratório de Pesquisa em Malária da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em entrevista concedida na sexta-feira (25), no Dia Mundial da Malária.

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Embora o Ministério da Saúde tenha divulgado uma queda de 26,8% nos casos da doença entre janeiro e março deste ano, em comparação com o mesmo período de 2024, o país ainda contabilizou 25.473 infecções apenas nos três primeiros meses de 2025.

Daniel-Ribeiro, que integra o comitê de especialistas do governo federal para o combate à malária, avalia que as metas de reduzir em 90% o número de casos até 2030 e eliminar a transmissão interna até 2035 são possíveis, mas exigem reforço na vigilância em todo o território nacional.

“Ainda que 99% dos registros ocorram na Amazônia, o mosquito transmissor está presente em 80% do território brasileiro. Com a mobilidade atual, o risco da doença se espalhar para outras regiões é real”, alertou o especialista.

Transmissão silenciosa e risco ampliado - Causada por protozoários do gênero Plasmodium, transmitidos pela picada do mosquito Anopheles, a malária pode se espalhar de forma silenciosa. Pessoas infectadas demoram até 30 dias para manifestar sintomas e, nesse período, podem ser fonte de novas infecções.

Entre os sintomas mais comuns estão febre, dor de cabeça, sudorese intensa e calafrios — quadro que, segundo Daniel-Ribeiro, deve acender o alerta também em médicos de fora da Amazônia. “Fora das áreas endêmicas, a malária pode passar despercebida. O diagnóstico correto é crucial para evitar novos surtos”, reforça.

Atualmente, dois tipos de protozoário são responsáveis pelos casos no país: Plasmodium vivax, que representa cerca de 80% das infecções e se espalha com mais facilidade; e Plasmodium falciparum, mais letal e alvo de estratégia específica para erradicação até 2030.

O especialista da Fiocruz também detalhou que a pessoa infectada por vivax pode transmitir o parasita logo no primeiro dia de sintomas, enquanto no caso do falciparum, a capacidade de transmissão só surge após uma semana da infecção.

“Tratar o paciente rapidamente e realizar bloqueios na área de contaminação são estratégias-chave para impedir novos surtos e evitar a reimplantação da malária em locais onde ela já foi eliminada”, acrescenta.

Mudanças climáticas podem reverter avanços - Apesar de avanços no diagnóstico rápido — hoje realizado com uma gota de sangue — e nos medicamentos disponíveis, o cenário futuro ainda inspira preocupação. As mudanças climáticas, com aumento da temperatura global, podem criar condições favoráveis para o ressurgimento da doença em áreas onde ela já havia sido controlada.

“Se o clima aquecer demais, podemos assistir à volta da malária em regiões temperadas. Além disso, em áreas onde ela ainda existe, o aquecimento global pode intensificar a transmissão e dificultar o controle do mosquito vetor”, adverte Daniel-Ribeiro.

Situação atual - Dados do Ministério da Saúde indicam que quase todos os casos de malária no Brasil se concentram na Amazônia. Ainda assim, a ampla circulação de pessoas e o alcance geográfico do Anopheles impõem risco nacional.

Nos últimos meses, casos esporádicos da doença em embarcações e áreas portuárias, como o registrado em Santos (SP), também acenderam o sinal de alerta sobre a necessidade de vigilância constante fora das zonas endêmicas tradicionais.

Enquanto isso, os serviços de saúde continuam reforçando campanhas para diagnóstico rápido e tratamento precoce, medidas essenciais para atingir a meta de eliminação nos próximos anos.

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