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SAÚDE

Estudo revela que mulheres com câncer de colo do útero têm risco maior de desenvolver câncer anal

Pesquisa indica que histórico da doença pode aumentar chances de novo tumor até 20 anos após o diagnóstico; HPV é fator comum entre os dois tipos

16 setembro 2025 - 08h00Gabriel Damasceno
Câncer do canal anal corresponde de 1% a 5% dos tumores intestinais, segundo oncologista
Câncer do canal anal corresponde de 1% a 5% dos tumores intestinais, segundo oncologista - Foto: Shisu_ka/Adobe Stock
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Mulheres que já enfrentaram câncer do colo do útero apresentam risco aumentado de desenvolver câncer do canal anal, mesmo décadas após o primeiro diagnóstico. A conclusão é de um estudo publicado na última quinta-feira (11), na revista científica Jama Network Open, e reforça a importância de ampliar a rotina de rastreamento para esse público.

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“Esses resultados mostram que mulheres que tiveram câncer do colo do útero há anos deveriam ser consideradas para o rastreamento de rotina do câncer anal”, afirmou o professor Haluk Damgacioglu, da Medical University of South Carolina, coautor do estudo. “No momento, isso não está acontecendo”, alertou o pesquisador.

A pesquisa analisou dados de 85.524 mulheres com histórico de câncer cervical, extraídos do banco do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, o SEER (Surveillance, Epidemiology and End Results), entre os anos de 1975 e 2021.

Foram excluídas da análise mulheres que já tinham sido diagnosticadas com câncer anal antes ou até dois meses após o câncer cervical. Das participantes, 64 desenvolveram câncer do canal anal ao longo do tempo. A maior incidência foi observada entre mulheres com idade entre 65 e 74 anos, com 17,6 casos por 100 mil pessoas.

O risco aumentava conforme o tempo desde o diagnóstico do câncer de colo do útero. Entre 15 e 20 anos após o diagnóstico, a taxa chegou a 12,7 casos por 100 mil mulheres. Após duas décadas, subiu para 16,1 por 100 mil.

Doenças diferentes, causa comum

O câncer do colo do útero é o terceiro tipo mais frequente entre as mulheres brasileiras e, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), mata 19 mulheres por dia no país. Já o câncer do canal anal é considerado raro, representando entre 1% e 5% dos tumores intestinais.

Apesar das localizações distintas — o útero e a porção final do intestino — os dois tipos de câncer compartilham um fator de risco em comum: o papilomavírus humano (HPV), principal agente causador das duas doenças. Segundo a oncologista Angélica Nogueira, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), “os tumores surgem em localizações distintas, mas ambos estão majoritariamente associados ao HPV”.

Desinformação sobre HPV ainda é um desafio no Brasil

Mesmo com a ampla relação entre o HPV e o câncer do colo do útero, o conhecimento da população ainda é insuficiente. Uma pesquisa realizada pelo Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) e o Instituto Locomotiva revelou que 57% das mulheres entrevistadas desconheciam que o HPV é a principal causa da doença. O levantamento ouviu 831 mulheres e apontou ainda que 42% não se lembram se tomaram a vacina contra o vírus.

Outros dados preocupantes: 29% das entrevistadas não sabem para que serve o exame de papanicolau e quase metade (49%) desconhece o teste de DNA-HPV, capaz de identificar a presença do vírus antes mesmo de o câncer se desenvolver.

Vacinação e rastreio ainda são os melhores caminhos

A prevenção é considerada altamente eficaz. A vacinação contra o HPV está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninas e meninos de 9 a 14 anos, além de imunossuprimidos de até 45 anos. De forma excepcional, até dezembro de 2025, adolescentes de 15 a 19 anos também podem se vacinar gratuitamente.

A oncologista Andréa Paiva Gadelha Guimarães, presidente do Grupo EVA e líder da oncoginecologia do A.C. Camargo Cancer Center, destaca a urgência de ampliar a conscientização. “É importantíssima a conscientização com informações de qualidade para evitar que notícias falsas causem a redução vacinal e do rastreio adequado”, afirma.

Andréa lembra ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem como meta eliminar o câncer do colo do útero como problema de saúde pública até 2030. Para isso, três metas devem ser atingidas: vacinar 90% das meninas até os 15 anos, garantir exame de rastreio para 70% das mulheres entre 35 e 45 anos e oferecer tratamento para 90% das diagnosticadas com lesões precursoras ou câncer.

Prevenção salva vidas

Embora o estudo não determine uma causa exata para o aumento de risco entre os dois tipos de câncer, os pesquisadores reforçam a importância da vacinação contra o HPV e do rastreamento contínuo — tanto para prevenir o câncer do colo do útero quanto o câncer anal.

A recomendação dos especialistas é que mulheres com histórico de câncer cervical, especialmente após os 45 anos, sejam avaliadas para possíveis exames de rastreamento anal, a fim de detectar precocemente qualquer anormalidade.

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