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SAÚDE

Estudo brasileiro aponta que consumo elevado de adoçantes pode acelerar declínio cognitivo

Pesquisa com mais de 12 mil pessoas, publicada na revista Neurology, mostrou que alguns adoçantes artificiais estão ligados a queda mais rápida da memória e da linguagem

4 setembro 2025 - 14h40Fabiana Cambricoli
Adoçantes estão associados a aceleração do declínio cognitivo
Adoçantes estão associados a aceleração do declínio cognitivo - Foto: Freepik
ENERGISA

Um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e publicado nesta quarta-feira (3) na revista científica americana Neurology trouxe um alerta importante: o consumo elevado de adoçantes artificiais pode estar associado a um declínio cognitivo mais acelerado.

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A pesquisa acompanhou mais de 12 mil brasileiros por cerca de oito anos e avaliou sete tipos de adoçantes comuns em bebidas e alimentos industrializados: aspartame, sacarina, acessulfame-K, eritritol, xilitol, sorbitol e tagatose.

Os participantes foram divididos em três grupos de acordo com o nível de consumo. Quem fazia uso intenso — o equivalente a uma lata de refrigerante diet por dia — apresentou um declínio 62% mais rápido na cognição em comparação com quem consumia pouco. Isso representa, em média, uma perda cognitiva antecipada de cerca de um ano e meio.

No grupo de consumo moderado, a queda foi 35% mais acelerada. O efeito foi mais evidente em pessoas com menos de 60 anos e ainda mais intenso em pacientes com diabetes, principalmente no desempenho da memória.

Entre os adoçantes avaliados, seis mostraram associação com a queda cognitiva. Apenas a tagatose não apresentou ligação significativa.

Segundo a geriatra Claudia Suemoto, professora da FMUSP e autora sênior do trabalho, a força do estudo está na abrangência. “Já tínhamos pesquisas menores sugerindo relação entre adoçantes e cognição, mas eram mais limitadas. Este é o primeiro grande estudo com número expressivo de participantes, acompanhamento de longo prazo e avaliação de vários tipos de adoçantes”, afirmou.

Ela destaca, no entanto, que o estudo aponta uma correlação, não uma relação de causa e efeito. “Ainda precisamos entender os mecanismos. Em animais, o consumo de adoçantes foi ligado a inflamação cerebral, morte de neurônios e alterações na microbiota intestinal. Como cada vez mais sabemos que existe uma forte ligação entre cérebro e intestino, esse pode ser um caminho de explicação.”

Próximos estudos

O grupo de pesquisadores já planeja novos estudos com exames de imagem para avaliar eventuais danos cerebrais nos participantes de acordo com seus padrões alimentares. O Elsa-Brasil, coorte que reúne os voluntários, conseguiu financiamento para realizar ressonância de crânio em dois mil integrantes.

Diante dos resultados, Claudia Suemoto defende cautela. “O conselho é moderar o que você adoça, reduzir ou parar o uso, e reeducar o paladar para consumir menos açúcar. Se for usar adoçante, prefira opções naturais, como o mel”, disse.

Em editorial publicado na mesma edição da Neurology, o médico Thomas Monroe Holland, do Rush Institute for Healthy Aging (EUA), afirmou que os achados brasileiros reforçam um corpo crescente de evidências de que adoçantes artificiais, presentes em diversos ultraprocessados, podem afetar a saúde do cérebro.

Segundo ele, a crença de que os adoçantes de baixa ou nenhuma caloria são uma alternativa segura ao açúcar pode estar equivocada, especialmente diante do uso disseminado desses produtos em alimentos vendidos como “mais saudáveis”.

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