
Com a chegada do verão, atividades esportivas ao ar livre se tornam mais frequentes em praias, parques e áreas públicas, mas o aumento da prática sem preparo físico adequado também eleva o número de lesões, especialmente em esportes de contato ou que exigem movimentos intensos, como futebol, beach tennis e corrida.
O alerta é do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), que aponta esse período como um dos mais críticos para ocorrências envolvendo músculos, articulações e ossos. Segundo o instituto, o principal fator de risco está no sedentarismo, já que pessoas com baixo condicionamento físico tendem a se expor a esforços acima do que o corpo suporta.
O sobrepeso também contribui para esse cenário e, de acordo com o Atlas Mundial da Obesidade, 68% da população brasileira apresenta excesso de peso, o que aumenta a sobrecarga nas articulações.
De acordo com o ortopedista Phelippe Valente Maia, coordenador assistencial do Into, esse grupo é formado, em grande parte, pelos chamados “atletas de fim de semana”, que praticam esportes de forma esporádica e acabam mais vulneráveis a problemas que vão desde dores musculares e tendinites até entorses, lesões ligamentares e fraturas.
O ortopedista Diego Munhoz, especialista em cirurgia do joelho pela USP, explica que atletas recreativos não desenvolvem adaptações neuromusculares suficientes para proteger as articulações, especialmente em práticas que exigem mudanças rápidas de direção, impacto ou explosão muscular. Segundo ele, o risco aumenta ainda mais quando há fadiga, ausência de aquecimento, consumo de álcool, privação de sono, dor prévia ou lesões antigas não reabilitadas.
“Retomar o esporte no impulso, principalmente após longos períodos sem atividade física, está entre os principais fatores associados a lesões mais graves”, afirma Munhoz.
Formas de prevenção
Para os especialistas, a principal forma de prevenção é manter uma rotina regular de exercícios ao longo do ano, evitando esforços concentrados apenas em períodos de lazer. O ortopedista Bruno Butturi Varone, da Clínica Sartor e formado pela USP, explica que a prática contínua reduz de forma significativa o risco de lesões.
Ele destaca a importância de um aquecimento adequado, com mobilidade articular e ativação muscular, além do respeito aos limites individuais, progressão gradual da intensidade e duração dos treinos, hidratação constante e fortalecimento muscular, principalmente de core, quadril e membros inferiores. O uso de calçados adequados e atenção ao ambiente de prática também fazem diferença.
Maia acrescenta que, antes de iniciar uma atividade física, o ideal é passar por uma avaliação médica, com ortopedista ou cardiologista, além de optar por roupas adequadas ao calor, que favoreçam a ventilação e reduzam o risco de desidratação.
Sinais de alerta
Dores persistentes não devem ser ignoradas, pois costumam indicar sobrecarga. Segundo Munhoz, é fundamental procurar avaliação médica em casos de inchaço importante, deformidade, instabilidade articular, bloqueio de movimento, estalos associados à limitação funcional ou quando a dor não melhora após alguns dias de repouso.
Incapacidade de apoiar o membro, limitação significativa de movimento e instabilidade também são sinais de alerta. O diagnóstico precoce ajuda a evitar agravamentos e reduz a chance de necessidade cirúrgica, explica Varone.
Casos de cirurgia
As cirurgias ortopédicas mais comuns relacionadas ao esporte envolvem rupturas ligamentares, como do ligamento cruzado anterior, lesões meniscais instáveis, fraturas por trauma ou sobrecarga e lesões musculares graves. Segundo os especialistas, muitas dessas situações poderiam ser evitadas com preparo físico adequado, fortalecimento muscular, orientação profissional e respeito ao tempo de adaptação do corpo.
“Na maioria dos casos, a cirurgia não é consequência do esporte em si, mas da forma inadequada como ele é praticado”, alerta Munhoz.

