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SAÚDE

Demora no diagnóstico de linfoma afeta tratamento no Brasil

Estudo revela que pacientes enfrentam demora de até 149 dias em hospitais públicos para receber o diagnóstico, o que impacta diretamente na qualidade de vida; na rede privada, espera pode durar até 60 dias

27 agosto 2025 - 07h25
Nódulos no pescoço, na região axilar ou virilha estão entre os principais sintomas de um linfoma
Nódulos no pescoço, na região axilar ou virilha estão entre os principais sintomas de um linfoma - Foto: Graphicroyalty/Adobe Stock
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No Brasil, o tempo médio para o diagnóstico de um linfoma pode chegar a até 149 dias, segundo uma pesquisa da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale). O levantamento, que contou com a participação de 262 pacientes, destaca a demora no diagnóstico como um fator crucial para o sucesso do tratamento e para a qualidade de vida dos pacientes. O linfoma é um câncer que afeta o sistema linfático, essencial para a defesa do organismo.

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O médico Ricardo Bigni, chefe da Hematologia do Instituto Nacional de Câncer (Inca), explica que os linfomas são classificados em mais de 40 tipos, com os mais comuns sendo o linfoma não-Hodgkin (LNH) e o linfoma de Hodgkin (LH). Este ano, o Inca estima mais de 12 mil casos novos de LNH e cerca de 3 mil de LH no Brasil.

Os linfomas se originam nos linfonodos, que fazem parte do sistema imunológico. De acordo com Bigni, como os linfonodos estão presentes por todo o corpo, a doença pode afetar diversas áreas. Os sintomas mais comuns incluem nódulos visíveis em locais como pescoço, axilas ou virilha, febre, suor intenso à noite e perda de peso.

A pesquisa da Abrale revelou que 31% dos pacientes precisaram passar por mais de três médicos antes de serem encaminhados para um especialista. No sistema público, a espera média para iniciar o tratamento é de 77 dias, enquanto na rede privada é de 60 dias.

Nina Melo, coordenadora de pesquisa da Abrale, explica que a demora é causada por vários fatores. Desde o desconhecimento dos sintomas pela população até a falta de acesso adequado aos serviços de saúde. Muitas vezes, os pacientes precisam passar por múltiplos profissionais, o que prolonga o diagnóstico.

O diagnóstico de linfoma só pode ser confirmado com uma biópsia, que retira uma amostra de tecido suspeito para análise. Após a biópsia, o paciente deve ser encaminhado a um hematologista. No entanto, o caminho até esse diagnóstico no Brasil pode ser demorado, dificultando o tratamento e, muitas vezes, comprometendo a chance de cura.

Baico acesso a exames avançados

A realização de exames como o PET-Scan, fundamental para o acompanhamento da doença, ainda é limitada para muitos pacientes. A pesquisa mostrou que 23,3% dos entrevistados enfrentaram dificuldades para realizar esse exame, e 3,4% não foram orientados sobre a necessidade dele.

Esses exames são essenciais tanto para o diagnóstico inicial quanto para o acompanhamento do tratamento. A falta de acesso ao PET-Scan afeta diretamente a monitorização da doença, especialmente para quem depende do sistema público de saúde.

Impactos na vida dos pacientes

Além dos desafios com o diagnóstico e o tratamento, o linfoma e seus tratamentos podem causar danos duradouros. Segundo o levantamento da Abrale, 76% dos pacientes afirmaram ter prejuízos no bem-estar emocional, enquanto 72% enfrentaram efeitos colaterais do tratamento. Além disso, 71% precisaram de visitas frequentes a médicos e hospitais, o que impactou suas rotinas diárias.

Os efeitos físicos também são significativos: 67% relataram impactos na saúde física, e 55% enfrentaram dificuldades financeiras, muitas vezes devido à necessidade de tratamento contínuo.

Nina Melo destaca que a chave para melhorar a situação está na disseminação de informações. A população precisa entender os sinais do linfoma e saber quando buscar ajuda médica. Além disso, capacitar as unidades de saúde para reconhecer rapidamente os sintomas e encaminhar os pacientes para especialistas é fundamental.

“A criação de fluxos mais rápidos para encaminhamentos, com base em sintomas suspeitos, pode acelerar o diagnóstico e, consequentemente, melhorar as chances de sucesso no tratamento”, sugere Nina.

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