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09 de dezembro de 2025 - 13h25
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SAÚDE

Ministério da Saúde amplia projeto de cuidados paliativos para atenção básica em 20 estados

Com apoio do Hospital Sírio-Libanês, programa chega a UPAs, Samus e unidades básicas a partir de 2026

9 dezembro 2025 - 07h10
Projeto amplia formação em cuidados paliativos para profissionais da atenção primária em 20 estados
Projeto amplia formação em cuidados paliativos para profissionais da atenção primária em 20 estados - (Foto: Divulgação/Inca)
Terça da Carne

Profissionais da rede pública de saúde em 20 estados brasileiros passarão a ser capacitados em cuidados paliativos a partir de 2026. A ação faz parte de um novo ciclo do Projeto Cuidados Paliativos, iniciativa do Ministério da Saúde em parceria com o Hospital Sírio-Libanês, por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS).

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Voltado à formação de profissionais da atenção primária, o projeto busca ampliar a qualidade do atendimento oferecido a pessoas com doenças graves e complexas, com foco em qualidade de vida e atenção integral, não apenas no fim da vida.

A coordenadora médica do projeto, a paliativista Maria Perez, destacou em entrevista à Agência Brasil que o entendimento sobre cuidados paliativos ainda é limitado. “A compreensão mais frequente é que eles são utilizados apenas em pacientes terminais, sem chance de cura. Mas isso não é correto”, afirmou.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cuidados paliativos são uma abordagem centrada na melhoria da qualidade de vida de pacientes com doenças graves, com atenção aos aspectos físicos, emocionais, sociais e espirituais — não apenas ao controle de sintomas. O cuidado deve ser integrado desde o diagnóstico da doença, sem substituir o tratamento, mas funcionando de forma complementar.

Maria Perez reforça que não é preciso ser especialista para aplicar os princípios dessa prática: “Quando falamos em abordagem de cuidados paliativos, não é obrigatório que seja um especialista atuando, mas sim alguém com esse olhar, pensando na qualidade de vida, colocando a pessoa no centro do cuidado e prestando atenção na comunicação e no manejo dos sintomas”.

O projeto, iniciado em 2020, já capacitou mais de 10 mil profissionais do SUS e identificou mais de 12 mil pacientes com necessidade de cuidados paliativos. Em 2024, com o lançamento da Política Nacional de Cuidados Paliativos, a iniciativa foi reformulada e passou a incluir unidades de pronto atendimento (UPAs) e serviços móveis de urgência (Samus), além de hospitais, ambulatórios e serviços de atendimento domiciliar.

No ciclo atual, mais de 150 serviços de saúde de 19 estados e do Distrito Federal participaram. A expectativa é de que, até o fim de 2026, um terço das macrorregiões do país esteja envolvido. “Agora estamos esperando a indicação das secretarias sobre quais serviços participarão do novo ciclo”, informou Maria Perez.

O trabalho próximo às secretarias estaduais visa garantir a continuidade do cuidado e fortalecer a assistência integrada em toda a rede pública de saúde. “Com isso, buscamos assegurar qualidade assistencial e continuidade do cuidado”, explicou a coordenadora.

A introdução dos cuidados paliativos em ambientes de urgência e emergência gerou estranhamento inicial, segundo Maria Perez. “Mas, à medida que as equipes foram entendendo o conceito, perceberam que já lidavam com esses pacientes — com crises de dor e falta de ar, por exemplo — e passaram a compreender melhor como acolhê-los”, relatou.

O Samu 192 do Alto Vale do Paraíba, em São Paulo, foi um dos primeiros a aderir ao projeto. A enfermeira Rita de Cássia Duarte, supervisora do serviço, considera a experiência um divisor de águas. “Para quem atua em urgência, cuidados paliativos eram algo muito novo. O foco sempre foi salvar vidas. Era difícil aceitar que, em alguns casos, não haverá cura, mas haverá cuidado, acolhimento e atenção”, declarou.

Maria Perez avalia que o Brasil tem avançado na temática. “Antes, ao falar de cuidados paliativos, muitas pessoas nem sabiam do que se tratava. Hoje, com mais visibilidade na mídia, os profissionais estão buscando entender.”

A capacitação oferecida pelo projeto trabalha com ferramentas científicas, mas também com empatia. “É fundamental ter um momento para conversar com o paciente e os familiares, entender suas condições biográficas, valores, o que é qualidade de vida para ele”, explicou a médica.

Esse processo de escuta permite construir um plano de cuidado mais adequado à realidade de cada paciente, levando em conta sua doença, as opções de tratamento e os riscos e benefícios de cada intervenção. “É o que chamamos de cuidado centrado na pessoa: tem a ver com a história de vida do paciente e não apenas com aspectos biológicos”, disse.

De acordo com a OMS, mais de 73 milhões de pessoas no mundo precisam de cuidados paliativos a cada ano. Ainda assim, cerca de 20 milhões morrem anualmente em sofrimento por falta de acesso a esse tipo de atenção.

No Brasil, o projeto já resultou na criação de um Manual de Cuidados Paliativos, publicado em 2023 e hoje utilizado como base para a Política Nacional de Cuidados Paliativos do SUS.

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