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SAÚDE CARDIOVASCULAR

Coração quente, perigo à vista: o impacto do calor e da baixa umidade na saúde cardiovascular

A combinação de altas temperaturas e ar seco sobrecarrega o coração, alerta especialista. Medidas simples podem fazer a diferença

27 setembro 2024 - 08h58Ricardo Eugenio
Dr. Délcio Gonçalves da Silva Júnior - Cardiologista alerta para os riscos que o calor intenso e a baixa umidade trazem ao coração e sugere cuidados simples para proteger a saúde cardiovascular.
Dr. Délcio Gonçalves da Silva Júnior - Cardiologista alerta para os riscos que o calor intenso e a baixa umidade trazem ao coração e sugere cuidados simples para proteger a saúde cardiovascular. - (Foto: Divulgação)

Nas últimas semanas, o calor tem sido intenso em várias partes do Mato Grosso do Sul e do Brasil. Termômetros marcando temperaturas acima dos 35 graus e a umidade do ar tão baixa que transforma o simples ato de respirar em um desafio. Enquanto muita gente associa esse clima seco e quente a crises de asma ou alergias respiratórias, o que poucos sabem é que esse cenário também representa um perigo silencioso: o impacto no coração.

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“É um risco que passa despercebido”, diz o cardiologista Délcio Gonçalves da Silva Júnior, da Unimed Campo Grande. “O calor extremo e a baixa umidade são uma dupla perigosa para o sistema cardiovascular, e isso pode resultar em sérios problemas para quem já tem alguma condição cardíaca ou mesmo para quem está apenas vivendo o cotidiano em meio ao calor.”

Quando o corpo esquenta, o coração tem que trabalhar mais. O organismo tenta manter a temperatura interna estável, o que exige maior esforço do sistema circulatório. E aí começam os problemas: a pressão arterial pode oscilar, batimentos cardíacos ficam mais rápidos, e o risco de infarto ou AVC se eleva, especialmente em crianças, idosos, gestantes e, claro, pacientes com histórico de problemas cardíacos. Em resumo, seu corpo está lutando contra o calor – e o coração é o soldado que leva o maior impacto dessa batalha.

O Dia Mundial do Coração e um alerta que ninguém quer ouvir - No próximo dia 29 de setembro, será celebrado o Dia Mundial do Coração, uma data que, se você prestar atenção, não aparece muito nas redes sociais. Talvez porque os números associados às doenças cardiovasculares sejam desconcertantes demais para ganhar memes ou reels no Instagram. Estamos falando de 46 mortes por hora no Brasil, o equivalente a uma pessoa morrendo a cada 90 segundos por problemas cardíacos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia. É uma estatística de guerra, mas sem o alarde midiático.

Em nível mundial, as doenças cardiovasculares seguem liderando o ranking das principais causas de morte. “E isso poderia ser evitado com atitudes simples, que a gente recomenda há anos”, desabafa o cardiologista Délcio. Não fumar, controlar a alimentação, manter-se ativo e – um conselho menos óbvio, mas igualmente importante – aprender a perdoar. Sim, perdoar faz bem ao coração, no sentido literal e figurado.

Por que o calor é tão perigoso para o coração? Você pode estar se perguntando como, exatamente, o calor afeta o coração. A lógica é simples: quando a temperatura sobe, seu corpo se esforça para se manter frio. Isso significa que o coração precisa bombear mais sangue para a superfície da pele, onde o calor é dissipado através da transpiração. Mas, junto com o suor, você perde líquidos e sais minerais, o que pode resultar em desidratação e queda da pressão arterial.

Nesse cenário, o coração pode reagir de duas maneiras: ou acelera os batimentos, tentando compensar a falta de líquido no sangue, ou começa a bater de maneira irregular, o que chamamos de arritmia. Ambos os casos são perigosos e podem levar a um colapso, dependendo da condição de cada pessoa.

Se você é jovem e saudável, a resposta do corpo será mais eficiente. Mas se você já passou dos 60, está gestante, tem problemas de pressão alta ou algum histórico de doenças cardíacas, a situação muda de figura. Você entra no grupo de risco sem nem perceber.

Soluções simples, mas eficazes - É aí que entram os conselhos clássicos, que já ouvimos várias vezes, mas que, num cenário de calor extremo, ganham importância redobrada. Evite fazer exercícios físicos durante o dia, especialmente entre 10h e 16h, quando as temperaturas estão mais altas. Se for praticar atividades ao ar livre, busque horários mais frescos, como o início da manhã ou o fim da tarde. “A hidratação é essencial”, enfatiza o Dr. Délcio. Beber água, não apenas quando estiver com sede, mas de maneira contínua ao longo do dia, é um dos métodos mais eficazes para evitar que o coração seja sobrecarregado.

Outras dicas incluem o uso de roupas leves e de cores claras, que ajudam o corpo a se resfriar com mais facilidade. Em lugares onde o calor é extremo, como muitos municípios do Centro-Oeste e Norte do Brasil, manter-se à sombra e fazer pausas frequentes durante atividades físicas pode evitar complicações. E, se você sentir tontura, cansaço extremo ou perceber que seu coração está batendo mais rápido do que o normal, pare imediatamente e procure um lugar fresco.

Essas dicas podem parecer básicas, mas são frequentemente ignoradas. “A gente vive num país tropical, e muitas pessoas acham que estão acostumadas ao calor. Mas o corpo, e principalmente o coração, tem seus limites”, comenta o cardiologista. E os números não mentem: 400 mil brasileiros morrem todos os anos por doenças cardíacas. Não são apenas números para enfeitar um relatório. São vidas que poderiam ser salvas com medidas simples.

O coração e o perdão: um conselho inusitado - Em meio a tantas dicas práticas, o Dr. Délcio deixa um conselho inesperado: aprender a perdoar. Ele explica que manter sentimentos de rancor e raiva aumenta os níveis de estresse e, consequentemente, sobrecarrega o coração. “O coração é uma máquina, mas é uma máquina influenciada por emoções. Cuidar da mente é cuidar do coração”, reflete o médico.

Talvez por isso, a ciência do bem-estar tenha se tornado um dos pilares da campanha Jeito de Cuidar Unimed, que reforça a ideia de que o cuidado com a saúde vai além de dietas e exercícios, abrangendo também o bem-estar emocional.

E, em tempos de calor extremo, isso pode ser tão importante quanto beber água e procurar uma sombra. Porque, como já sabemos, no calor, o coração é quem paga o maior preço.

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