
Pode parecer um detalhe sem importância, mas observar a cor da urina pode ser um hábito essencial para monitorar a saúde. Segundo especialistas, a tonalidade do xixi pode indicar o nível de hidratação, efeitos da alimentação, uso de suplementos e até o surgimento de doenças renais ou hepáticas.

O urologista Wagner Eduardo Matheus, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo e professor da Unicamp, lembra que avaliar a urina era uma prática comum em diagnósticos médicos antigos. “Historicamente, a observação da urina era uma das formas mais importantes de diagnóstico. Os antigos avaliavam a cor, o cheiro e até mesmo o sabor. Uma urina adocicada, por exemplo, servia de base para detectar alterações metabólicas como o diabetes”, afirma.
De acordo com ele, uma urina saudável deve ter coloração amarelo-clara, quase transparente, sem cheiro forte nem resíduos. “Quanto mais clara, mais hidratado está o organismo. Mas se estiver totalmente transparente, pode ser sinal de hidratação excessiva. O ideal é um amarelo clarinho”, completa o médico.
Treinos intensos e o risco da rabdomiólise
Exercícios físicos também interferem na cor da urina, especialmente após treinos pesados ou em ambientes quentes. A nefrologista Flavia Gonçalves, do Hospital Sírio-Libanês em Brasília, explica que a desidratação pode deixar o xixi mais escuro.
Em casos extremos, o esforço pode levar à rabdomiólise — condição em que fibras musculares se rompem, liberando substâncias tóxicas na circulação. “A urina adquire tonalidade marrom, semelhante a refrigerante de cola. Se não tratada rapidamente, a rabdomiólise pode causar insuficiência renal e levar à necessidade de hemodiálise”, alerta a médica.
Entre os sintomas estão dores musculares intensas, fraqueza, inchaço e até ausência de urina.
Alimentação e suplementos também alteram o xixi
A dieta e o uso de suplementos podem provocar mudanças temporárias. Beterraba, cenoura, aspargos e amora, por exemplo, modificam a cor ou o cheiro da urina. Vitaminas do complexo B podem deixá-la amarela fluorescente.
“Essas alterações benignas podem mascarar sintomas mais sérios. Por isso, se a mudança persistir por mais de 24 horas, mesmo com boa hidratação, ou vier acompanhada de dor, ardência, febre ou cansaço, é preciso investigar”, orienta Flavia.
Quando procurar um médico
Mudanças ocasionais e justificáveis na urina não costumam preocupar. Mas há sinais de alerta que exigem avaliação médica:
- Urina escura sem causa aparente
- Presença de sangue
- Espuma frequente (proteinúria, indicativo de dano renal)
- Bolhas persistentes
- Odor forte contínuo
- Redução no volume urinário
“Nunca ignore mudanças na urina. Ela pode ser uma mensageira silenciosa do que está acontecendo com sua saúde”, reforça Flavia. O urologista deve ser procurado em casos de cálculos, tumores ou infecções urinárias, enquanto o nefrologista atua em doenças clínicas, como hipertensão, diabetes e insuficiência renal.
As cinco cores principais da urina
Segundo Flavia, as tonalidades mais comuns e seus significados são:
- Amarelo claro ou transparente: boa hidratação; também pode ocorrer com uso de diuréticos.
- Amarelo escuro ou âmbar: urina mais concentrada, indicando desidratação leve ou moderada. Se persistir, pode sinalizar infecção ou alteração renal.
- Rosa ou avermelhada: pode ser causada por alimentos como beterraba, menstruação ou presença de sangue (infecção, cálculo ou lesões). Persistência requer investigação médica.
- Marrom (cor de cola): alerta para possível rabdomiólise, hepatite ou doenças renais. Atendimento médico deve ser imediato.
- Verde ou azulada: mais rara, geralmente relacionada a medicamentos, corantes ou infecções específicas, como por pseudomonas.
