
Na manhã desta quinta-feira (21), o médico Valdmário Rodrigues Júnior, conhecido por sua longa atuação na saúde pública e privada, sentou diante do microfone do programa Giro Estadual de Notícias, transmitido ao vivo por rádios do Grupo Feitosa de Comunicação para todo o Mato Grosso do Sul. No estúdio, o assunto era sério: saúde, crédito e os caminhos possíveis num país onde os problemas parecem não ter fim.

"O dinheiro da saúde é sagrado. A gente precisa de gestores sérios, que saibam o que estão fazendo", disse logo de cara, com voz firme. Valdmário é ginecologista e obstetra, mas nos últimos anos tem se envolvido com a gestão de saúde cooperativada. Atualmente, é conselheiro fiscal da Unimed Campo Grande e, desde ontem, embaixador da Unicred Campo Grande. A nomeação foi oficializada pelo presidente da cooperativa, Dr. Paulo Moro, durante uma cerimônia na sede da instituição, na Avenida Afonso Pena.
Apesar do reconhecimento, ele diz que a missão está apenas começando. "Ser embaixador é motivo de orgulho, mas também de responsabilidade. O cooperativismo é um caminho que dá certo quando a gestão pública falha", afirmou durante a entrevista, que teve ampla transmissão nas rádios, YouTube e Instagram de um jornal regional.
'O SUS é lindo no papel, mas precisa funcionar', alerta Valdemário Rodrigues
Aos ouvintes, o médico falou com franqueza. Contou que trabalhou 30 anos dando plantão em maternidades, atendendo pelo SUS e por convênios, e que foi aí que começou a perceber os gargalos do sistema. "A gente vê o que está escrito na lei e o que acontece de verdade. O SUS é lindo no papel, mas na prática precisa de transparência e seriedade. Tem muita politicagem e pouca meritocracia", desabafou.
Ele defende o fortalecimento da atenção básica, principalmente nas cidades do interior. Segundo ele, a capital não pode continuar sobrecarregada com casos que poderiam ser resolvidos nos municípios. "Campo Grande está cheia de ambulâncias chegando de todo canto. Os hospitais vivem lotados. Não adianta só dar ambulância e construir hospital, tem que ter gente capacitada lá dentro", explicou.
A conversa seguiu sem rodeios. Dr. Valdmário apontou também os altos custos da saúde, causados, segundo ele, por fatores como a judicialização e a incorporação de novas tecnologias. "Muitas vezes, a família entra na Justiça pedindo remédio caríssimo que nem tem comprovação científica. E o juiz autoriza porque foi um médico que pediu. A conta fica para todos nós", disse.
Ele citou ainda as novas tecnologias como fator de encarecimento. "Hoje ninguém quer mais cirurgia com corte. Querem tudo por vídeo, por robô. Isso tem um custo, e alguém paga essa conta", completou.
Questionado sobre a diferença entre a saúde pública e a privada, o médico foi direto: "Existe sim um descompasso. Quem está na saúde suplementar tem mais fiscalização e obrigações, mas também enfrenta limites. A ANS, por exemplo, exige que a gente mantenha muito dinheiro parado em aplicações. Isso podia estar sendo usado para melhorar os serviços".
Mas em vez de apenas criticar, ele propõe soluções. Uma delas é a união entre o setor público e o privado para criar núcleos de apoio aos juízes. A ideia é oferecer suporte técnico nas decisões que envolvem saúde, evitando liminares que podem prejudicar o sistema como um todo. "Não dá pra um remédio de R$ 5 milhões ser autorizado sem critério, enquanto falta remédio para diabetes e hipertensão", exemplificou.
Durante a pandemia, ele lembra, o problema da má gestão ficou ainda mais visível. "Foi desesperador. Faltava leito, faltava respirador. E os que compraram? Muitos estão encostados, sem uso, com preço absurdo. Tudo isso é corrupção e má escolha de gestores", criticou.
Mesmo com tantos desafios, ele acredita que há um caminho. E esse caminho passa pelo cooperativismo. "O cooperativismo é a grande alternativa. Porque ele é do povo, é nosso. Você vira dono, tem direito a voto, pode opinar. E sempre com foco no coletivo, não no lucro", explicou.
Para ele, tanto o cooperativismo de saúde como o de crédito ajudam a tornar o sistema mais justo. "Na Europa, quem salvou os países da crise foram as cooperativas. Aqui pode ser igual. E já está acontecendo em alguns lugares", disse, com otimismo.
No fim da conversa, Dr. Valdmário voltou a criticar a falta de planejamento. Citou o exemplo do fechamento do atendimento direto no Hospital Regional de Campo Grande. Agora, quem precisa ser atendido ali, tem que passar antes por uma unidade básica. "Na prática, isso não ajuda. A UPA está cheia, a pessoa está com o filho doente e não consegue chegar ao regional. Isso só piora o que já está ruim", afirmou.
E completou com uma proposta simples, mas poderosa: "Temos que copiar o que está funcionando. Tem cidades com Santas Casas que são exemplo. Por que não podemos fazer igual? Não é feio copiar o que dá certo".
A entrevista terminou com elogios ao Grupo Feitosa. "Vocês fazem um trabalho sério, levando informação verdadeira para todo o Estado. Isso faz a diferença", disse. Do outro lado, o apresentador agradeceu e já marcou um próximo encontro.
