
Era para ser apenas mais uma briga de casal. Na manhã da última quinta-feira (05.9), em Campo Grande, uma discussão sobre infidelidade tomou um rumo inesperado quando um dos parceiros, ao ser confrontado por seu companheiro sobre uma traição, decidiu revelar algo muito mais grave: ele era soropositivo e vinha escondendo essa condição desde o início da relação.

O peso do segredo - O relacionamento entre os dois homens começou em janeiro de 2024 e, em julho, já estavam morando juntos. No entanto, o que parecia ser uma convivência compartilhada escondia um segredo profundo. Naquela manhã de setembro, entre acusações de infidelidade, a verdade foi revelada: "Eu sou soropositivo", confessou o companheiro.
A princípio, ele justificou que só havia descoberto a doença quando os primeiros sintomas começaram a aparecer. Para provar, apresentou um laudo médico de fevereiro de 2024, que indicava o início do tratamento com medicamentos antirretrovirais por seis meses. Contudo, seu parceiro percebeu inconsistências: os remédios que encontrou em casa não coincidiam com o tratamento que o diagnóstico exigia.
O medo - O homem explicou que, enquanto morava em uma cidade menor, durante a pandemia, evitou buscar os remédios na capital com medo de que sua condição fosse descoberta. Preferiu manter a doença em segredo, temendo o julgamento das pessoas ao seu redor. Mas o silêncio foi além da omissão do tratamento. Mesmo após saber de sua condição, ele continuou mantendo relações sexuais com outras pessoas, sem informá-las sobre o diagnóstico, o que agravou ainda mais a situação.
Diante dessa revelação, o parceiro decidiu registrar o caso na delegacia. O relato incluiu não só a descoberta do caso extraconjugal, mas também o risco que outras pessoas podem ter enfrentado ao se relacionarem sem saber da condição de saúde do homem.
Contágio - Embora o HIV tenha se tornado uma doença tratável, o estigma social e o medo de exposição ainda fazem com que muitas pessoas escondam sua condição. Ao optar pelo silêncio, o homem colocou não apenas a si mesmo em risco, mas também as pessoas ao seu redor, que não foram informadas do perigo potencial.
A denúncia registrada na Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (DEPAC-Centro) em Campo Grande resultou na abertura de uma investigação por perigo de contágio venéreo. Agora, as autoridades buscam entender se o homem, ao ocultar sua condição, expôs conscientemente outras pessoas ao risco de contaminação. Além do aspecto legal, o caso evidencia os dilemas morais e de saúde pública que ainda envolvem a vida com HIV em pleno século XXI.
