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23 de outubro de 2025 - 20h53
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SAÚDE

SBNI atualiza diretrizes sobre autismo e recomenda diagnóstico precoce a partir dos 14 meses

Novo documento alerta para uso excessivo de telas, amplia investigação genética e reforça cautela com medicamentos e canabidiol

23 outubro 2025 - 16h00Gabriel Damasceno
Quebra-cabeça é o símbolo escolhido para a conscientização em relação ao autismo
Quebra-cabeça é o símbolo escolhido para a conscientização em relação ao autismo - ( Foto: Prefeitura de Santos/Divulgação)

A Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI) lançou uma atualização oficial com novas recomendações para o diagnóstico e o cuidado de crianças com transtorno do espectro autista (TEA). O documento, divulgado neste mês, substitui a versão anterior, de 2021, e reflete os avanços mais recentes da literatura científica sobre o tema.

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“O objetivo é tentar posicionar onde tem e onde não tem evidência”, afirmou Erasmo Casella, membro do Departamento Científico de Transtornos de Neurodesenvolvimento da SBNI e um dos autores da nova diretriz.

Uma das principais atualizações do documento é o reforço à importância do diagnóstico precoce. Segundo a SBNI, é possível identificar sinais de autismo a partir dos 14 a 16 meses de idade, especialmente com o apoio de novas tecnologias de rastreio, como dispositivos de rastreamento visual — recentemente aprovados pela FDA nos Estados Unidos.

Ainda que não exista um exame laboratorial capaz de detectar o autismo, a entidade destaca que o diagnóstico clínico, baseado na observação do comportamento da criança em diferentes contextos, é suficiente e deve ser priorizado sempre que houver suspeitas.

A aplicação da escala M-CHAT (Modified Checklist for Autism in Toddlers), um questionário que avalia comportamentos como contato visual, interação social e resposta ao chamado pelo nome, é recomendada entre os 16 e 30 meses. A adoção do protocolo em unidades de saúde do SUS foi reforçada pelo Ministério da Saúde em setembro deste ano, em cumprimento à Lei Federal nº 13.438/2017.

Outro destaque do documento é a ampliação das recomendações de exames genéticos para casos com suspeitas clínicas ou histórico familiar de neurodesenvolvimento. A SBNI sugere a realização de microarranjo genômico — que identifica alterações no DNA — e, em casos selecionados, o sequenciamento do exoma, capaz de detectar mutações em genes específicos relacionados ao TEA.

O texto traz ainda um alerta importante sobre a exposição precoce e excessiva a telas, como celulares e tablets. Embora o uso de dispositivos eletrônicos não cause autismo, a SBNI aponta que pode levar ao desenvolvimento de um quadro semelhante, denominado “autism-like syndrome”, com sinais como isolamento social, atraso na fala, irritabilidade e pouco contato visual.

“A falta de estímulos adequados em fases iniciais da vida pode comprometer o desenvolvimento social e emocional da criança”, explica Casella.

A SBNI reforça que não existe medicamento que “cure” o autismo. Os fármacos devem ser utilizados apenas para tratar sintomas associados, como irritabilidade intensa, agressividade, hiperatividade, distúrbios do sono, ansiedade e transtornos obsessivo-compulsivos. Ainda assim, essas intervenções devem ser complementares — e nunca substitutas — das terapias comportamentais e educacionais.

Entre os medicamentos com aval da Anvisa para uso em pessoas com TEA estão os antipsicóticos atípicos risperidona (a partir dos cinco anos) e aripiprazol (a partir dos seis), usados especificamente no controle de irritabilidade e comportamentos agressivos.

A recomendação também é de prudência quanto ao uso do canabidiol (CBD). Segundo o documento, ainda não há evidências científicas suficientes para justificar o uso da substância no tratamento do autismo, devendo seu uso ser analisado de forma criteriosa caso a caso.

A atualização da diretriz chega em um momento de maior visibilidade para o tema, especialmente com a expansão da atenção à saúde mental infantil no SUS e o aumento dos diagnósticos de autismo no Brasil. A implementação padronizada da escala M-CHAT, segundo o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, deve funcionar como instrumento complementar às consultas pediátricas de rotina.

"Assim como a gente tem um calendário vacinal, essa é uma recomendação para que, a partir de 16 meses, já se observe sinais de alerta sobre o desenvolvimento da criança", declarou o ministro.

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