
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, se reunirá nesta segunda-feira (18) em Washington com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e líderes europeus como parte de um esforço coordenado para discutir as condições de um possível acordo de paz com a Rússia. A movimentação acontece dias após a cúpula entre Trump e o presidente russo Vladimir Putin, no Alasca, que terminou sem acordo, mas com o anúncio de "avanços".

A reunião é considerada decisiva para o futuro da guerra, que já dura três anos e meio e provocou mais de 1 milhão de mortos ou feridos, segundo estimativas internacionais. Participam da conversa, além de Zelenskiy e Trump, líderes como o presidente francês Emmanuel Macron, o chanceler alemão Friedrich Merz, o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen, a premiê italiana Giorgia Meloni e o presidente da Finlândia Alexander Stubb.
O objetivo da reunião é tentar alinhar garantias de segurança robustas para a Ucrânia, diante de propostas apresentadas por Moscou que envolvem a cessão de parte do território ucraniano como condição para congelar as linhas de frente do conflito.
Trump pressiona por acordo e propõe concessões territoriais
Após a cúpula com Putin na última sexta-feira (15), Trump passou a defender publicamente que a Ucrânia aceite entregar a região de Donetsk em troca da paralisação das ações militares russas nas demais frentes.
“A Rússia é uma potência muito grande, e a Ucrânia não é”, disse Trump, ao justificar a necessidade de Kiev “fazer um acordo” para acabar com a guerra.
A proposta teria sido detalhada por Trump em telefonema com Zelenskiy, no qual informou que Putin estaria disposto a congelar a maioria das frentes de batalha se a Ucrânia cedesse Donetsk — região estratégica no leste do país, parcialmente ocupada pela Rússia desde 2014 e hoje 75% sob controle de Moscou.
Zelenskiy, no entanto, rejeitou a exigência e reafirmou que não aceitará ceder territórios, conforme estabelece a constituição ucraniana.
“Putin não quer parar a matança, mas deve fazê-lo. As atuais linhas de frente devem ser a base para qualquer negociação de paz”, declarou o presidente ucraniano ao lado de Von der Leyen em visita a Bruxelas, neste domingo (17).
Aliados europeus tentam evitar novo desgaste
A presença maciça de líderes europeus em Washington busca fortalecer a posição de Zelenskiy nas negociações, especialmente diante de uma Casa Branca inclinada a buscar um acordo rápido com Putin. A União Europeia e a OTAN têm reforçado que a Ucrânia deve estar à mesa de decisões e que nenhum plano de paz pode ser imposto sem o consentimento de Kiev.
A preocupação dos aliados é também evitar uma repetição do episódio traumático de fevereiro, quando Zelenskiy foi publicamente repreendido por Trump e o vice-presidente JD Vance em pleno Salão Oval, em um encontro que gerou críticas pela falta de diplomacia e empatia.“É importante que Washington esteja conosco”, reforçou Zelenskiy.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que os aliados querem garantias sem limites para as Forças Armadas ucranianas e uma estrutura de segurança permanente que envolva os EUA.
Propostas em discussão: congelamento da guerra e garantias mútuas
Segundo fontes diplomáticas, Trump e Putin discutiram a possibilidade de congelar o conflito com base nas posições territoriais atuais, em troca de reconhecimento parcial da presença russa em regiões ocupadas e de garantias de que a Ucrânia não se unirá formalmente à OTAN.
A proposta envolve ainda que Kiev ceda uma faixa de terra fortificada no leste, enquanto a Rússia renunciaria formalmente a novos avanços militares, o que abriria caminho para uma “paz técnica”, mas não necessariamente para uma solução política definitiva.
O secretário de Estado Marco Rubio afirmou à CBS que há movimento suficiente para justificar a reunião com Zelenskiy e os europeus, mas reconheceu que o caminho ainda é longo.
“Não estamos à beira de um acordo de paz, mas vimos movimento. E isso já é algo”, disse Rubio.
Apesar disso, Rubio ponderou que os EUA podem não ser capazes de construir um cenário favorável ao fim da guerra, e que o papel dos líderes europeus será crucial para manter o equilíbrio nas negociações.
Putin se articula com aliados e mantém exigências
Enquanto isso, Vladimir Putin segue mobilizando seus aliados. No fim de semana, o líder russo conversou com o presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, e com o presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, para repassar os resultados da cúpula no Alasca e garantir respaldo político regional.
Embora o Kremlin tenha sinalizado abertura para um acordo, as exigências territoriais continuam em pauta, o que tende a tornar a negociação altamente delicada e tensa. Diplomatas ocidentais alertam que Putin pode usar a proposta como ferramenta de divisão entre Kiev e seus aliados.
O que está em jogo
A reunião desta segunda-feira deve discutir:
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Condições para cessar-fogo ou congelamento das frentes de batalha
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Modelo de garantias de segurança para a Ucrânia, com participação dos EUA e da União Europeia
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Presença da Ucrânia nas decisões territoriais e diplomáticas
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Evitar a imposição de acordos sem respaldo do governo ucraniano
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Estabelecimento de uma cúpula trilateral entre Trump, Putin e Zelenskiy
