
Mesmo sem exercer o mandato desde junho e atualmente presa na Itália, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) já gerou um custo de R$ 654,6 mil aos cofres públicos. O valor inclui os gastos do gabinete parlamentar e verbas ligadas aos suplentes que assumiram temporariamente o cargo. A informação foi revelada pelo jornal O Estado de S. Paulo nesta quinta-feira (11), dia em que a Câmara dos Deputados rejeitou a cassação do mandato da parlamentar.
Enquanto mantiver o cargo, a estrutura de gabinete de Zambelli poderá consumir até R$ 130 mil por mês — o que pode fazer os custos ultrapassarem R$ 1 milhão até o fim de fevereiro de 2026, quando, segundo técnicos da Câmara, seria possível decretar a perda do mandato por faltas não justificadas.
Zambelli está presa desde julho na Itália, após fugir do Brasil. Em maio, foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a dez anos de prisão e à perda do mandato, acusada de envolvimento no ataque hacker ao sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Apesar da condenação, a perda do mandato precisa ser validada em plenário, o que não ocorreu.
De acordo com a assessoria da parlamentar, o gabinete em Brasília continua funcionando normalmente. “A única coisa é que ela não está votando. Mas as questões administrativas, como acompanhamento de emendas, projetos e redes sociais, são desempenhadas pela equipe”, informou a equipe de Zambelli ao Estadão.
Hoje, o gabinete da deputada conta com 12 funcionários ativos. A Câmara permite até 25 servidores por mandato, com um teto mensal de R$ 133,1 mil para cobrir os salários. O mês de maior gasto registrado até agora foi setembro, quando o gabinete atingiu R$ 132,9 mil — valor que inclui contratações feitas durante a substituição temporária do mandato por um suplente.
Durante sua ausência, Zambelli ficou licenciada por 127 dias. Nesse período, o cargo foi ocupado pelos também deputados do PL-SP Coronel Tadeu e Missionário José Olímpio. Tadeu usou R$ 43,1 mil da cota parlamentar; Olímpio, R$ 160 mil — sendo R$ 114 mil só no último mês de mandato.
Grande parte desse valor foi destinada à divulgação do mandato, como a impressão de 55 mil informativos em gráficas por R$ 57 mil e a confecção de mil cartões de visita por R$ 17 mil.
Em setembro, Olímpio também foi autorizado pela Câmara a fazer mudanças no gabinete de Zambelli. A assessoria afirma que as contratações realizadas por ele permanecem ativas e que a equipe anterior estava reduzida.
“Quando a deputada se licenciou, havia mais de 20 assessores, mas o número foi reduzido. O deputado assumiu com o quadro defasado e reestruturou a equipe para exercer o mandato”, informou o gabinete.
Desde que fugiu do Brasil, a atividade parlamentar de Zambelli se restringe a uma única ação registrada: a assinatura de apoio a uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê a flexibilização da jornada de trabalho conforme a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
O STF determinou a suspensão do salário de R$ 46,4 mil da deputada e o bloqueio da cota parlamentar. No entanto, os suplentes puderam utilizar esses recursos normalmente durante o período em que estiveram no exercício do mandato.
Parlamentares do próprio PL têm pressionado para que a deputada perca o cargo por faltas não justificadas. Para isso, é necessário que ela atinja o limite de um terço de ausências sem justificativa aceita. Técnicos estimam que isso só ocorrerá ao fim de fevereiro de 2026.
Caso o mandato seja encerrado por esse mecanismo e não por cassação formal, Zambelli evitaria a inelegibilidade de oito anos, prevista na Lei da Ficha Limpa para parlamentares cassados — como ocorreu com o ex-deputado Chiquinho Brazão.

