
Centenas de venezuelanos se reuniram neste sábado (23) em praças públicas e quartéis do país após o ditador Nicolás Maduro convocar a população a se alistar em milícias voluntárias. A mobilização ocorre em meio à escalada da tensão entre Venezuela e Estados Unidos, impulsionada pelo anúncio da movimentação de três navios de guerra americanos em direção ao Caribe.

“Convoco todos os milicianos e todo o povo que queira se alistar para dizer ao imperialismo: basta dessas ameaças”, declarou Maduro em pronunciamento transmitido pela TV estatal.
A ação faz parte de uma estratégia de resposta do governo venezuelano ao que classifica como ameaças externas, especialmente após os EUA dobrarem a recompensa pela captura de Maduro para US$ 50 milhões e anunciarem a apreensão de US$ 700 milhões em bens ligados ao regime chavista.
Milicianos nas ruas e nos quartéis
A mobilização, batizada de “jornada de alistamento popular”, aconteceu em diversas partes do país, incluindo áreas urbanas e rurais, com civis se apresentando para integrar as chamadas milícias bolivarianas – uma força paralela às Forças Armadas, criada por Hugo Chávez em 2008 para "defesa da pátria" contra ameaças externas e internas.
Na última quinta-feira, Maduro oficializou a incorporação de 4,5 milhões de milicianos às tarefas de segurança em comunidades, alegando reforçar a "capacidade logística e organizativa" do país.
Segundo o ministro da Defesa, Vladimiro Padrino, o alistamento é “voluntário” e representa uma resposta popular à “agressão imperialista”.“As diferenças com os Estados Unidos não são novas. Mas a mobilização do povo é clara: não aceitamos intimidações”, disse o ministro em coletiva à imprensa.
Conflito geopolítico no Caribe
A convocação acontece dias após os EUA confirmarem a mobilização de três navios de guerra com destino à região do Caribe. Oficialmente, a operação é voltada para o combate ao narcotráfico internacional, mas a proximidade com as águas venezuelanas acirrou a tensão diplomática.
Apesar de fontes americanas indicarem que a chegada das embarcações pode levar meses, autoridades dos EUA admitem que o envio pode ser antecipado, aumentando o risco de incidentes.
Em resposta, o governo de Maduro proibiu o sobrevoo de drones por 30 dias e passou a buscar apoio político de aliados regionais.
Apoio do bloco ALBA
A Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA), composta por oito países – entre eles Cuba e Nicarágua –, emitiu uma nota condenando o envio dos navios americanos e classificando a ação como “ameaça à paz e à estabilidade da região”.
A nota reforça o discurso do governo venezuelano, que tenta internacionalizar a crise com apoio de aliados ideológicos e reforçar a retórica contra o "imperialismo norte-americano".
Milícias e Forças Armadas: estrutura paralela
As milícias bolivarianas atuam como uma força auxiliar das Forças Armadas, com treinamento militar, uniforme e armamento, e participam regularmente de exercícios e missões de vigilância comunitária. Segundo dados oficiais, as Forças Armadas da Venezuela contam com aproximadamente 200 mil soldados regulares.
A integração de 4,5 milhões de civis armados representa um aumento significativo na força disponível para o regime, que enfrenta não apenas tensões externas, mas também instabilidade interna, com crises econômicas e sociais prolongadas.
Escalada sob pressão internacional
Maduro é alvo de acusações formais de narcoterrorismo pela Justiça americana, que sustenta que o regime atua em colaboração com cartéis e redes criminosas. A elevação da recompensa por sua captura e a intensificação das sanções financeiras fazem parte da estratégia dos EUA para isolar politicamente o governo venezuelano.
A presença militar americana no Caribe, ainda sem data oficial de chegada, tem potencial para acirrar ainda mais a instabilidade regional e testar os limites da diplomacia nas próximas semanas.
