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DIREITOS HUMANOS

Deputado Otoni de Paula é alvo de ataques por criticar operação policial no Rio

Pastor e único parlamentar de direita a se opor à ação que deixou 121 mortos afirma que igreja tem papel de proteção nas favelas

5 novembro 2025 - 15h30Rayanderson Guerra
Deputado Otoni de Paula (MDB-RJ)
Deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) - (Foto: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados)

O deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) tem enfrentado ataques e perseguições nas redes sociais após se posicionar de forma crítica à megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro. A ação, considerada a mais letal da história do País, resultou na morte de 121 pessoas.

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Pastor evangélico e aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, Otoni se tornou o único parlamentar identificado com a direita a criticar publicamente a operação. Em discurso na Câmara dos Deputados, classificou a ação como um “teatro espetacular” e demonstrou solidariedade às famílias dos mortos, o que lhe rendeu o apelido pejorativo de “pastor comunista” entre apoiadores do campo mais radical do bolsonarismo.

Em entrevista, Otoni afirmou que seu posicionamento não representa uma ruptura com os valores da direita, mas sim um alerta sobre a ausência de empatia da base conservadora com os moradores de comunidades.

"Eu sempre separo o que é direita e o que é a direita bolsonarista. Está ficando muito claro para as pessoas das comunidades que a direita não tem empatia ou preocupação nenhuma com quem vive a realidade da comunidade", afirmou o deputado, que é vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

A foto ao lado de deputados de esquerda durante visita à Penha intensificou os ataques. No entanto, Otoni defende o diálogo: "Sou livre para dialogar. Agora não posso mais aparecer ao lado de deputados de esquerda? A direita está jogando as favelas no colo da esquerda", criticou.

Além das críticas à abordagem policial, o parlamentar também destacou o papel social da igreja evangélica dentro das comunidades. Segundo ele, a presença religiosa atua como uma barreira contra a barbárie e o abandono estatal.

“A igreja evangélica é o grande muro de contenção da barbárie. Se não houvesse a igreja, com sua capilaridade, empatia e palavra humanizada, teríamos hoje barbáries muito maiores nas comunidades”, disse.

Otoni ressaltou ainda que a atuação das igrejas vai além da espiritualidade. “É ela que leva o social, que divide o pão dentro da comunidade”, afirmou, ao defender que o trabalho evangélico deve ser reconhecido como parte da rede de proteção à população vulnerável.

Apesar de manter proximidade com pautas conservadoras e apoio a Bolsonaro em outras frentes, o deputado afirma que seu posicionamento não será silenciado por setores da direita que rejeitam qualquer aproximação com pautas sociais ou direitos humanos.

“Podem me atacar, não há nenhum problema. Mas se a direita não quiser agir por empatia, que haja por inteligência. Hoje, 70% da nossa cidade é tomada pelas comunidades. Bairro já virou comunidade”, alertou.

A fala de Otoni de Paula escancara a tensão interna na base bolsonarista entre o discurso da segurança pública e o impacto real das ações em áreas periféricas. Sua crítica pública, ao mesmo tempo que o isola dentro da direita tradicional, amplia o debate sobre o papel do Estado, da religião e da política no enfrentamento à violência urbana.

A operação nos complexos da Penha e do Alemão, que teve início em julho, é considerada a mais violenta do Brasil em número de mortos. Organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cobraram investigações independentes sobre os abusos cometidos durante a ação.

Apesar da justificativa oficial de combate ao tráfico de drogas e ao crime organizado, a operação gerou forte comoção nacional e internacional, reacendendo o debate sobre a militarização da segurança pública e os impactos da violência estatal sobre a população negra e pobre das periferias.

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