
Nesta sexta-feira (19), uma denúncia que começou em um hangar e chegou até o Congresso sacudiu a política nacional e, de forma direta, respingou no tabuleiro partidário de Mato Grosso do Sul. O alvo são os dois principais nomes da recém-criada União Progressista (UPB), federação que une União Brasil e Progressistas: o advogado Antônio Rueda, acusado de ligação com empresários próximos ao PCC, e o senador Ciro Nogueira (PP), citado em um suposto esquema de propina.

Apesar do impacto, a presidente da UPB em Mato Grosso do Sul, a senadora Tereza Cristina (PP), preferiu não se pronunciar publicamente. Ela tem atuado com discrição, como tem feito desde que assumiu o comando da federação no Estado. A postura foi interpretada como sinal de cautela, num momento em que a federação ainda busca se consolidar diante da opinião pública e dos aliados regionais.
Quem decidiu se posicionar com firmeza foi o deputado federal Dr. Luiz Ovando (PP), o único representante da UPB na bancada federal sul-mato-grossense. Médico por formação, Ovando fez uma analogia clínica para tratar do caso: “Se há suspeita, é preciso confirmar ou afastar totalmente. Não se pode aceitar uma denúncia dessa e passar em branco”.
Ovando defende que o Ministério Público investigue os fatos com total independência. Para ele, deixar dúvidas sem esclarecimento compromete a imagem da federação e prejudica a defesa de propostas e valores que o grupo busca representar. Ao mesmo tempo, ele evitou condenações precipitadas: disse não ter experiências pessoais negativas com Rueda ou Ciro, mas admitiu que já havia desconfiança no passado sobre a condução política de Rueda, ainda na época do PSL.
As denúncias vieram à tona por meio de uma entrevista com o piloto Mauro Caputti Mattosinho, divulgada pela plataforma Instituto Conhecimento Liberta (ICL). Segundo ele, Rueda seria o verdadeiro dono de jatinhos registrados em nome de terceiros e usados por empresários ligados ao crime organizado. Entre eles, Mohamed Hussein Mourad e Luiz Augusto Leme da Silva, conhecidos no submundo como “Primo” e “Beto Louco”. Ambos estão foragidos.
O piloto também relatou um voo em que transportou uma sacola com dinheiro, que, segundo ele, teria sido entregue a alguém do gabinete de Ciro Nogueira. No retorno, o grupo teria saído direto do Senado para o aeroporto, conforme relato.
A defesa de Rueda foi imediata. Ele negou qualquer envolvimento com atividades ilegais e classificou as acusações como “infundadas e prematuras”. Como resposta política, determinou que todos os filiados do União Brasil deixassem os cargos que ocupavam no governo federal — incluindo o ministro do Turismo. Ciro Nogueira, por sua vez, também negou as acusações, colocou seus sigilos à disposição das autoridades e anunciou que vai processar o ICL por danos morais.
O União Brasil emitiu nota reafirmando apoio a Rueda e classificou as denúncias como parte de uma “perseguição política” por parte do governo federal. Já o governo, por meio da ministra Gleisi Hoffmann, negou qualquer relação com as acusações e disse que atribuir ao Planalto a responsabilidade pelo vazamento é “leviano”.
No centro da disputa, a senadora Tereza Cristina mantém a postura que lhe deu credibilidade nacional: firme nos bastidores, discreta diante das câmeras. É dela a responsabilidade por manter a unidade da federação em Mato Grosso do Sul. Enquanto os desdobramentos seguem no plano nacional, ela foca no equilíbrio interno, em um cenário político que pede mais ponderação do que barulho.
No fim, o que fica claro é que, apesar das turbulências, nomes como Tereza Cristina e Dr. Luiz Ovando mostram que a política ainda pode ser exercida com responsabilidade, buscando respostas, mas sem precipitações.
