
Em forte contraste com a proposta apresentada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou neste domingo (17) que a União Europeia continuará apoiando a Ucrânia “o tempo que for necessário”, reafirmando que “as fronteiras não podem ser alteradas pela força”.

A declaração foi feita em coletiva de imprensa ao lado do presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, e repercutida pelo jornal The Guardian. O posicionamento europeu expõe o crescente distanciamento entre Bruxelas e Washington quanto ao futuro do conflito entre Ucrânia e Rússia.
A resposta de von der Leyen veio após Trump defender, na última sexta-feira (15), que Kiev deveria ceder territórios como Donetsk e Luhansk à Rússia como parte de um acordo de paz. A fala do presidente americano ocorreu após encontro com Vladimir Putin no Alasca, reforçando um tom mais conciliador com Moscou, mas que foi rapidamente rejeitado por Kiev e criticado por líderes europeus.
“Decisão deve ser da Ucrânia”, afirma von der Leyen
Durante a coletiva, von der Leyen deixou claro que qualquer decisão sobre o futuro territorial da Ucrânia só pode ser tomada com a presença do país na mesa de negociações. “Essas são decisões que devem ser tomadas pela Ucrânia e somente pela Ucrânia. Não podem ser decididas sem o país na mesa”, reforçou.
A líder da Comissão Europeia elogiou a disposição de Trump em oferecer garantias de segurança semelhantes às previstas no Artigo 5 da OTAN — promessa feita por ele em encontros recentes com autoridades russas e ucranianas —, mas frisou que o bloco europeu não abrirá mão de pressionar a Rússia, inclusive com o 19º pacote de sanções já em preparação.
Von der Leyen também reiterou o compromisso da União Europeia com o fortalecimento das Forças Armadas ucranianas, citando especialmente investimentos em capacidades defensivas, como sistemas de drones, e descreveu o Exército da Ucrânia como um “porco-espinho de aço indigesto para invasores potenciais”.
Além disso, reafirmou que o processo de adesão da Ucrânia ao bloco europeu segue em andamento, o que, segundo ela, representa uma segurança estratégica de longo prazo para o país do leste europeu.
Zelenski nega cessão territorial e cobra unidade ocidental
O presidente Volodmir Zelenski rechaçou de forma categórica qualquer possibilidade de entregar territórios à Rússia. Ele lembrou que a Constituição da Ucrânia proíbe esse tipo de negociação. “A questão territorial só pode ser discutida entre Ucrânia e Rússia, com os Estados Unidos como mediadores”, declarou.
Para Zelenski, qualquer acordo futuro deve partir de um cessar-fogo, e não de concessões unilaterais. Ele também destacou a necessidade de manutenção da coesão europeia, como no início da guerra, em fevereiro de 2022. “É essencial que a Europa permaneça tão unida quanto em fevereiro de 2022, para parar as mortes”, afirmou.
O presidente alertou ainda para os riscos da estratégia russa, que ele classificou como “antieuropeia”, e afirmou que não se pode permitir divisões em regiões estratégicas como a Moldávia e a própria Ucrânia. “Putin tem muitas exigências, mas não conhecemos todas elas”, disse.
Divisão transatlântica preocupa aliados
As falas de Trump, que vê como possível uma “solução negociada” com entrega parcial de território ucraniano, soam como uma concessão prematura para líderes europeus. “A Rússia é uma potência, eles não”, disse o presidente americano, referindo-se à Ucrânia, ao justificar a proposta de cessão de Donetsk e Luhansk. A frase gerou reações negativas tanto em Kiev quanto em capitais da Europa Ocidental.
A expectativa agora está voltada para o encontro desta segunda-feira (18), em Washington, onde Trump e Zelenski se reúnem novamente, desta vez com a presença de líderes como Emmanuel Macron (França), Friedrich Merz (Alemanha) e a própria Ursula von der Leyen. O objetivo será tentar alinhar posturas sobre o futuro do conflito e buscar um caminho comum que preserve a soberania da Ucrânia e traga estabilidade à região.
