
Faltando um ano para as eleições municipais de 2026, o União Brasil atravessa sua fase mais turbulenta desde a fusão entre DEM e PSL. Com três ministérios no governo Lula (PT) e dezenas de cargos indicados em outras áreas da administração federal, o partido vive um racha interno: enquanto a cúpula tenta romper formalmente com o Planalto, lideranças influentes sustentam a permanência na base aliada.

O epicentro da crise é o Ministério do Turismo. O presidente do partido, Antônio Rueda, orientou a saída do ministro Celso Sabino, mas ele decidiu permanecer no cargo, com apoio da maioria da bancada. A decisão expôs o impasse e enfraqueceu o discurso de independência da sigla.
Com 46 dos 59 deputados ao seu lado, Sabino virou um símbolo da ala governista do União Brasil. Em evento com o presidente Lula, em Belém (PA), na semana passada, Sabino disse que “nenhum partido vai afastá-lo do povo” e garantiu que o petista pode contar com ele “onde estiver para segurar a mão”. Ele é cotado para disputar o Senado em 2026 com apoio do governo federal.
A permanência no governo, no entanto, será discutida formalmente nesta quarta-feira (9), quando a executiva nacional analisa a possível expulsão do ministro. Antes disso, o grupo ligado a Sabino tentou emplacar a secretária-executiva Ana Carla Lopes, que não é filiada ao partido, como alternativa neutra — mas recuou diante do apoio conquistado internamente.
Divisão estratégica
O União Brasil nasceu da união entre partidos que, historicamente, se opuseram ao PT. Mas desde o início do governo Lula, a sigla passou a ocupar espaços na Esplanada. O movimento, impulsionado pela negociação por cargos e emendas, esbarra agora na necessidade de reposicionar o discurso com foco no eleitorado antipetista.
Do outro lado, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), atua como principal articulador da ala pró-Planalto dentro do partido. Sua influência se estende a outras siglas do Centrão e é decisiva para sustentar ministros no cargo.
Apesar disso, fontes da legenda avaliam que a fase de aproximação com o Planalto "já passou". A nova federação formada com o PP — que resultou na União Progressista — tem compromisso com a atuação conjunta e aproxima o partido do bolsonarismo. A expectativa é que a federação apoie um nome da direita em 2026.
Caiado e a corrida presidencial
Além do embate em torno de cargos e alianças, o União Brasil ainda tenta viabilizar uma candidatura própria à Presidência. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, colocou-se como pré-candidato e terá os próximos meses para demonstrar viabilidade eleitoral.
Nos bastidores, líderes partidários já admitem que a legenda não repetirá o erro de 2022, quando lançou Soraya Thronicke, então no União Brasil, sem base eleitoral sólida. Hoje, a senadora está no Podemos.
