
A decisão do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de aplicar uma tarifa extra de 50% sobre todos os produtos brasileiros reacendeu uma discussão política que parecia enterrada: até onde vai a lealdade da direita brasileira ao seu maior símbolo internacional?

O anúncio feito na quarta-feira (9) trouxe impacto direto na economia e causou constrangimento no campo bolsonarista. A medida, que entra em vigor a partir de 1º de agosto, foi apresentada por Trump como resposta à “perseguição política” contra Jair Bolsonaro e como gesto de solidariedade ao aliado. Mas, na prática, atinge exportadores brasileiros, afeta o agronegócio e coloca a direita diante de um dilema.
A conta chegou no agronegócio - Somente em 2024, Mato Grosso do Sul exportou US$ 669,5 milhões para os EUA, sendo a carne bovina o produto de maior destaque, com US$ 235,4 milhões. O setor teme queda nas vendas, perda de contratos e impactos em toda a cadeia produtiva.
Diante da pressão, o silêncio de muitos nomes ligados à direita passou a incomodar. Porém, alguns parlamentares de Mato Grosso do Sul já se posicionaram publicamente — com opiniões divergentes.
Bolsonaristas divididos - O deputado federal Rodolfo Nogueira (PL-MS) foi direto: culpou a “perseguição política” a Bolsonaro pela sanção. Em rede social, disse que o Brasil “está em jogo” e que “essas perseguições têm que parar”. Para ele, o país, já fragilizado economicamente, pagará caro: “Essa sanção vai trazer o Brasil à lona”.
Já o deputado federal Luiz Ovando (PP-MS) seguiu outro caminho. Disse que o anúncio “não passa de bravata”, mas reconheceu o impacto negativo na economia. “Vai causar problemas como redução de exportações e desdobramentos sociais sérios”, escreveu. Ele também avaliou que o ex-presidente Bolsonaro estaria sendo usado como “boi de piranha” na disputa entre Trump e as plataformas digitais.
Por outro lado, a senadora Tereza Cristina (PP-MS) pediu cautela. Em nota oficial da Frente Parlamentar da Agropecuária, afirmou que o momento exige “calma e equilíbrio” e destacou que “Brasil e Estados Unidos têm uma longa parceria, e seus povos não devem ser penalizados”. Ela defende que a diplomacia busque o entendimento para evitar prejuízos maiores.
Nelsinho Trad cobra responsabilidade - Outro nome que se pronunciou foi o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), que adotou tom técnico e ponderado. “Os diálogos técnicos com os EUA vêm ocorrendo desde as primeiras tarifas de Trump”, disse. Ele defende que o comércio seja tratado com pragmatismo e que Executivo e Legislativo atuem com equilíbrio. “Não se pode desconsiderar o trabalho do corpo técnico dos dois países para encontrar soluções”, afirmou.
O dilema político da direita - O episódio criou um problema inédito para a direita brasileira: como manter o discurso de alinhamento ideológico com Trump se a sua decisão afeta diretamente a economia nacional? A resposta ainda não está clara. Mas o desconforto já é visível.
A base bolsonarista está dividida entre manter a fidelidade ao ex-presidente americano e defender os interesses do Brasil. Parte tenta justificar a medida como um gesto simbólico. Outros preferem o silêncio.
Especialistas avaliam que essa indefinição pode desgastar o grupo em pleno ano pré-eleitoral. A oposição já se movimenta. O presidente Lula tenta capitalizar politicamente o momento ao se colocar como defensor da soberania e do produtor rural.
Com a tarifa entrando em vigor em agosto, os efeitos econômicos tendem a se acumular até a eleição de 2026. A crise comercial, aos poucos, se transforma em crise política.
