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Trump e Elon Musk rompem aliança e bilionário ameaça criar partido político

Após divergências sobre projeto orçamentário nos EUA, ex-aliado do presidente ameaça apoiar novo partido e cortar apoio financeiro ao Partido Republicano

1 julho 2025 - 09h25Redação
Trump e Elon Musk em evento oficial nos Estados Unidos, antes do rompimento político.
Trump e Elon Musk em evento oficial nos Estados Unidos, antes do rompimento político. - Foto: Reprodução

Menos de um ano depois de formarem uma das alianças mais inesperadas e barulhentas da política americana recente, Donald Trump e Elon Musk transformaram proximidade em conflito. O presidente dos Estados Unidos e o bilionário — que foi seu conselheiro, apoiador financeiro e aliado declarado — passaram a trocar críticas e ameaças nas redes sociais nas últimas semanas, escancarando o rompimento de uma relação que já movimentou bilhões de dólares em campanhas eleitorais e contratos públicos.

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A crise teve como estopim o projeto de lei orçamentária promovido por Trump, aprovado recentemente no Congresso. Musk, contrário ao texto, passou a atacar duramente os parlamentares republicanos que votaram a favor da proposta e chegou a afirmar que pretende financiar opositores desses nomes nas primárias do partido.

“Todos os membros do Congresso que fizeram campanha por menos gastos e votaram por aumentar a dívida deveriam se envergonhar”, escreveu Musk em sua conta na rede X, plataforma de sua propriedade. “Perderão as primárias no ano que vem, mesmo que seja a última coisa que eu faça na Terra.”

Bilionário sugere criação de novo partido - A ruptura entre os dois se agravou com a sugestão do empresário de lançar um novo partido político, o “Partido da América”. Segundo Musk, a iniciativa seria uma resposta à atuação dos dois principais partidos — Republicano e Democrata —, que ele classificou como um “sistema único” que exclui outras vozes da população.

“Se esse projeto de lei de gastos insanos for aprovado, o Partido América será formado no dia seguinte”, publicou. O bilionário também fez uma enquete online perguntando aos seguidores se seria a hora de criar uma nova força política que represente “os 80% do centro”.

Apesar das declarações, não há, até o momento, indícios de que Musk tenha iniciado formalmente o processo para fundar o novo partido.

Diante dos ataques públicos, Trump usou sua própria rede social, a Truth Social, para responder. Em tom irônico e agressivo, o presidente disse que os negócios de Musk, especialmente Tesla e SpaceX, dependem fortemente de subsídios do governo federal. O presidente insinuou que pode rever esses incentivos.

“Elon talvez receba mais subsídios do que qualquer ser humano na história, de longe”, escreveu Trump. “Sem esses subsídios, ele teria que fechar as portas e voltar para a África do Sul. Nada de foguetes, satélites ou carros elétricos.”

As declarações tiveram impacto direto no mercado. As ações da Tesla, maior empresa de Musk, caíram quase 6% no início da sessão de terça-feira. Em junho, após o primeiro desentendimento público entre os dois, os papéis da empresa já haviam despencado 14%.

O racha entre os dois ocorre após um histórico recente de forte colaboração. Em 2024, Musk doou cerca de US$ 300 milhões (aproximadamente R$ 1,6 bilhão) a campanhas do Partido Republicano, sendo um dos principais financiadores do grupo. Em troca, ganhou espaço como conselheiro e chegou a comandar o DOGE (Departamento de Eficiência Governamental), estrutura criada por Trump para cortar gastos públicos.

Durante o período, Musk participou ativamente da campanha do presidente, subindo em palanques, viajando no avião presidencial e frequentando a Casa Branca com liberdade. Em suas aparições públicas, usava até mesmo o boné com o slogan “Make America Great Again”, marca registrada do republicano.

Divergências sobre orçamento foram ponto final - O ponto final da relação foi o apoio de Trump ao projeto de lei orçamentária que, segundo o Escritório de Orçamento do Congresso, pode aumentar o déficit público em US$ 2,4 trilhões nos próximos dez anos. Musk argumenta que a proposta contradiz as promessas republicanas de responsabilidade fiscal.

A proposta, apelidada de “Big Beautiful Bill” (“grande e belo projeto de lei”) por Trump, também prevê o fim gradual de créditos tributários para a compra de carros elétricos. A medida afeta diretamente a Tesla, principal beneficiada por esse tipo de incentivo.

Analistas do banco JPMorgan estimam que até 40% do lucro da Tesla pode ser afetado pelas mudanças regulatórias impulsionadas por Trump.

Diante do cenário, o bilionário começou a declarar apoio a figuras que se opõem ao presidente dentro do próprio Partido Republicano. Um dos nomes é o deputado Thomas Massie, do Kentucky, crítico ferrenho do projeto de Trump. Ainda assim, a maioria dos republicanos no Congresso permanece alinhada com o presidente.

A ascensão da relação entre Trump e Musk foi rápida. Logo após o então candidato republicano sofrer uma tentativa de assassinato em um comício no ano passado, Musk anunciou apoio à sua campanha. Desde então, passou a atuar como principal aliado na arrecadação de recursos e mobilização digital.

Mas a amizade durou pouco. Já em junho deste ano, Musk deixou o governo e, em uma entrevista, apareceu com um olho roxo — segundo ele, causado por uma brincadeira com o filho, mas que foi visto por analistas como uma metáfora para seu desgaste político.

Trump, fiel ao seu estilo, ironizou a situação e disse que Musk sofria de “síndrome de abstinência de Trump”. “Algumas pessoas sentem falta e se tornam hostis. Acho que é isso que está acontecendo”, comentou.

A separação pública entre os dois bilionários lança incertezas sobre os rumos do financiamento de campanhas nos Estados Unidos, especialmente dentro do Partido Republicano. Musk, que se aproximou da legenda apenas em 2022, pode buscar novos caminhos, seja através de um terceiro partido ou apoiando individualmente candidatos que compartilhem suas críticas ao atual governo.

Enquanto isso, Trump segue liderando o partido e promovendo sua agenda. Mas sem Musk ao seu lado, perde não apenas um aliado poderoso, mas também uma fonte bilionária de financiamento e influência.

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