
Embora reconheça que não há tempo hábil para implantar a tarifa zero no transporte público já em 2026, o Palácio do Planalto trabalha nos bastidores para transformar o projeto em uma das principais vitrines da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição. A medida, que ainda está em estágio inicial de discussão técnica, é considerada estratégica pela equipe presidencial e pode reforçar o discurso de compromissos sociais cumpridos.

Segundo apuração da Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, a proposta ainda não tem um formato definido e encontra obstáculos legais e operacionais para sair do papel no curto prazo. A intenção, no entanto, é clara: incluir o tema no debate público, apresentando-o como um compromisso viável para um eventual segundo mandato.
Cálculo político e econômico
No entorno do presidente, o raciocínio é que a recente aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil fortalece a credibilidade do governo junto ao eleitorado. "Se Lula prometeu isenção de imposto para quem ganha até R$ 5 mil e entregou, o eleitor sabe que, se ele prometer tarifa zero para ônibus em outro próximo mandato, também cumprirá", disse um interlocutor do governo.
O presidente Lula já pediu ao Ministério da Fazenda, em agosto, um estudo sobre os custos e impactos da tarifa zero em escala nacional. Além dos gastos diretos, o governo quer entender quanto desses recursos retornariam à economia por meio do aumento do consumo de bens e serviços — um cálculo complexo, mas crucial para embasar a defesa da proposta.
Além de seu apelo popular evidente, o fim da cobrança no transporte público pode ter um efeito secundário positivo: ajudar no controle da inflação. Embora o transporte público não tenha peso próprio no grupo “Transportes” do IPCA, reajustes de tarifas em grandes centros urbanos impactam diretamente o índice.
Com o Banco Central pressionado para cumprir a meta de 3% de inflação até 2027, uma política que contenha ou elimine aumentos nas passagens poderia facilitar esse esforço, ainda que marginalmente.
O que já existe no país
Atualmente, 138 municípios brasileiros já oferecem transporte público gratuito em caráter permanente. Esses modelos locais são acompanhados com atenção pelo governo federal e podem servir de base para uma futura proposta nacional, ainda que as realidades sejam bastante distintas em escala.
Uma promessa com potencial eleitoral
A lembrança dos protestos de 2013, motivados por um reajuste de R$ 0,20 nas passagens de ônibus, continua viva nas decisões políticas relacionadas ao transporte público. À época, o então prefeito de São Paulo, Fernando Haddad — hoje ministro da Fazenda — enfrentou críticas intensas que culminaram na queda de popularidade do governo federal, abrindo caminho para a crise política que resultaria no impeachment de Dilma Rousseff.
Agora, a ideia é apostar no caminho inverso: oferecer transporte gratuito como um símbolo de inclusão e compromisso social, dentro de uma estratégia eleitoral que visa ampliar o apoio entre os setores mais vulneráveis da população.
Ainda é incerto se o plano poderá ser detalhado a tempo para ser apresentado oficialmente como uma proposta de campanha. Mas, mesmo como promessa, o discurso pode ter forte apelo.
