Em meio à tradicional Festa do Peão de Barretos, no interior paulista, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), protagonizou um discurso enfático em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), atualmente em prisão domiciliar. Com um boneco de Bolsonaro nas mãos, entregue pelo deputado estadual Lucas Bove (PL), Tarcísio afirmou que o ex-chefe do Executivo está sendo alvo de uma "grande injustiça" e declarou confiança em uma reversão futura da situação.
"Entrei aqui (pela primeira vez) com o presidente Bolsonaro, com essa pessoa aqui, que fez tudo por mim, que me abriu portas e que está passando por uma grande injustiça", declarou o governador, diante de um público que o aplaudiu. "Mas se a humilhação traz tristeza, o tempo vai trazer justiça e eu tenho certeza que a justiça chegará", completou.
Bolsonaro está em prisão domiciliar desde o início de agosto, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito de investigações sobre suposta tentativa de golpe de Estado. Mesmo sem mencionar diretamente o caso durante o evento, Tarcísio fez questão de sinalizar alinhamento com o ex-presidente, de quem foi ministro da Infraestrutura entre 2019 e 2022.
Cenário político e nomes para 2026 - O palco montado em Barretos reuniu outros dois nomes importantes da direita brasileira: os governadores Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Romeu Zema (Novo-MG), ambos cotados como possíveis pré-candidatos à Presidência da República em 2026. Ao lado deles, Tarcísio reforçou a ideia de que o campo político conservador tem opções qualificadas para a próxima eleição.
"Temos dois grandes gestores aqui. Eu tenho certeza de que a direita tem excelentes nomes para o Brasil", disse, em entrevista coletiva após a participação no palco.
Embora evitasse referências diretas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Tarcísio fez críticas indiretas ao governo federal, especialmente no que diz respeito ao agronegócio — setor que tem forte apoio no interior de São Paulo e presença de destaque na Festa do Peão.
"Quem não respeita o agronegócio não respeita o Brasil", declarou o governador, sob forte aplauso da plateia. A frase foi interpretada como um recado a políticas do governo federal que têm sido vistas por setores do agro como desfavoráveis ao setor.
Investimentos anunciados em Barretos - Durante o evento, Tarcísio também aproveitou a ocasião para anunciar novos investimentos no município de Barretos. O principal deles é a ampliação do aeroporto da cidade, que, segundo ele, terá sua capacidade operacional mais que dobrada. O projeto, de acordo com o governador, faz parte de uma estratégia de interiorização do desenvolvimento e de estímulo à economia local.
A promessa de ampliação da infraestrutura aérea da cidade foi recebida com entusiasmo pelo público presente, que tem na Festa do Peão uma das principais vitrines turísticas e econômicas da região. O evento atrai milhares de pessoas anualmente e movimenta diversos setores, como hotelaria, transporte e comércio.
Contexto e posicionamento estratégico - O gesto de Tarcísio ao levar um boneco de Bolsonaro ao palco e reforçar seu vínculo com o ex-presidente não passou despercebido no cenário político. A ação sinaliza não apenas fidelidade, mas também uma estratégia de manter vivo o capital político bolsonarista entre seus apoiadores — principalmente no interior, onde a popularidade do ex-presidente ainda é significativa.
Embora ainda evite tratar publicamente sobre sua própria candidatura, Tarcísio é citado nos bastidores como um nome viável para 2026, caso Bolsonaro esteja inelegível. Ao manter o discurso alinhado ao bolsonarismo e, ao mesmo tempo, buscar uma imagem de gestor eficiente e moderado, o governador paulista parece consolidar um caminho duplo: herdar parte do eleitorado do ex-presidente, mas também atrair setores mais amplos do centro político.
A presença conjunta de Tarcísio, Zema e Caiado, três governadores que orbitam o mesmo campo político e possuem alta aprovação nos estados que governam, foi encarada como um ensaio do que pode ser uma frente de direita articulada para as eleições de 2026. Apesar disso, nenhum deles anunciou intenção clara de disputar o Planalto.
