
Mato Grosso do Sul já contabiliza 80 suicídios entre adolescentes e jovens só em 2025. O dado acende o alerta para uma realidade que exige ações imediatas. Para enfrentar o problema, instituições públicas têm unido esforços com leis, campanhas, atendimentos gratuitos e projetos voltados à saúde mental.

Entre as principais causas de morte de jovens de 15 a 29 anos no Estado, o suicídio aparece na quarta posição, segundo a Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). Os dados reforçam a importância da campanha Setembro Amarelo, que dedica o mês inteiro à prevenção e conscientização sobre o tema.
Leis e campanhas em Mato Grosso do Sul - O deputado estadual Antonio Vaz (Republicanos) criou a lei que instituiu a Semana de Prevenção e Combate à Violência Autoprovocada, realizada anualmente a partir do segundo domingo de setembro. Ele destaca que a medida surgiu como resposta ao crescimento de casos entre adolescentes.
“Antes mesmo da lei, já apoiava iniciativas que acolhiam jovens e idosos em sofrimento emocional. A Semana é um momento importante para orientar famílias e mostrar que existe saída”, explica o parlamentar.
Outra iniciativa relevante vem da deputada Mara Caseiro (PSDB), que propôs duas leis: a que criou o Setembro Amarelo em Mato Grosso do Sul e outra que leva o debate para dentro das escolas, por meio da campanha “Setembro Amarelo vai à Escola”.
Para ela, é fundamental ampliar o alcance das ações: “É preciso ir além das palestras, fazer o tema chegar de verdade às comunidades escolares, aos pais e aos estudantes”.
A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) atua diretamente com jovens de 13 a 24 anos por meio de um projeto de acolhimento em saúde mental. Desde agosto de 2024, a iniciativa já atendeu 317 pessoas, entre sessões online e presenciais.
Coordenado pelo professor Jeferson Camargo Taborda, o projeto também realiza ações em escolas públicas, oferecendo orientações e formando alunos e professores sobre autolesão e suicídio.
“Nossa meta é informar, escutar e construir estratégias junto aos jovens e suas redes de apoio”, afirma Taborda.
Justiça Restaurativa em escolas - O Tribunal de Justiça do Estado (TJMS) também atua com prevenção por meio do programa Justiça Restaurativa Escolar. A iniciativa promove rodas de conversa sobre bullying, convivência e saúde emocional nas escolas da capital e interior.
De acordo com a desembargadora Elizabete Anache, responsável pela Infância e Juventude no TJMS, o programa ajuda a reduzir conflitos e fortalecer vínculos entre estudantes, professores e famílias. “É um caminho mais humano de tratar o problema”, avalia.
O programa é fruto de parceria com o Ministério Público, a Secretaria de Educação Estadual e prefeituras de cidades como Corumbá, Dourados e Aquidauana.
Com o projeto “Inspira Jovem”, a Subsecretaria de Políticas Públicas para Juventude, ligada à Secretaria de Estado de Saúde (SES), também atua com ações educativas e preventivas. Até o momento, mais de 30 mil jovens já foram impactados.
O projeto distribui materiais informativos e promove espaços de escuta e protagonismo juvenil, inclusive em comunidades indígenas. “Trabalhamos temas como identidade, autoestima e direitos para evitar que os jovens se sintam sozinhos”, afirma o subsecretário Jessé Fragoso da Cruz.
A psicóloga clínica Thaís Marcela Mota, especializada em comportamento humano, alerta que o maior risco está na falta de diálogo dentro das famílias. “Os jovens estão sentindo muito, mas não têm com quem conversar. Isso fragiliza ainda mais a saúde emocional”, diz.
Ela explica que a automutilação, em muitos casos, é o primeiro sinal. “É preciso observar mudanças de comportamento, como machucados, queda de cabelo ou isolamento. Mais do que julgar, é preciso ouvir e acolher”, orienta.
