
Uma missão oficial do Senado viaja a Washington entre os dias 28 e 30 de julho para discutir a escalada de tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos. O grupo, liderado pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), terá encontros com congressistas e representantes do setor privado americano.

A visita ocorre em meio à possibilidade de imposição de tarifas por parte dos EUA contra produtos brasileiros, o que ameaça diretamente cadeias produtivas do agronegócio, da mineração, da indústria de transformação e do setor de tecnologia.
A comitiva parlamentar participou nesta terça-feira (23) de uma reunião virtual com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, a embaixadora do Brasil em Washington, Maria Luiza Viotti, e integrantes do governo federal, entre eles a secretária de Comércio Exterior do MDIC, Tatiana Prazeres, e o chefe de gabinete do vice-presidente Geraldo Alckmin, Pedro Guerra.
Segundo Vieira, a diplomacia brasileira já atua junto ao Tesouro americano e ao setor privado dos EUA desde antes do anúncio formal das tarifas. O chanceler ressaltou que, nos últimos 15 anos, os Estados Unidos mantiveram superávit comercial de US$ 410 milhões frente ao Brasil, e que há complementaridade econômica entre os dois países.
Risco para 1,9 milhão de empregos - Estudos técnicos apresentados pela CRE estimam que as tarifas em análise pelo governo americano podem afetar até 1,9 milhão de empregos no Brasil, com impacto direto em estados como São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.
Do lado norte-americano, a medida também pode gerar repercussões econômicas. Estados como Califórnia, Texas, Flórida e Nova Jersey importam do Brasil itens como café, açúcar, carne, minério de ferro, celulose e peças aeronáuticas — produtos que compõem cadeias produtivas relevantes para o mercado interno dos EUA.
A preocupação é de que eventuais restrições causem gargalos logísticos e prejuízos bilaterais. “Não temos a prerrogativa de abrir qualquer negociação, mas temos o dever de dialogar”, disse Nelsinho Trad à reportagem.
Missão tem caráter institucional - A missão parlamentar tem caráter institucional e suprapartidário. Segundo Trad, o objetivo é reforçar a interlocução política com o Legislativo norte-americano, sem interferir na esfera das negociações comerciais, que são atribuição exclusiva do Poder Executivo.
Durante a reunião, o Itamaraty informou que, antes mesmo do anúncio oficial das tarifas pelo governo Trump, o Brasil já havia iniciado tratativas diplomáticas e solicitado tratamento semelhante ao concedido a parceiros como Austrália e Reino Unido, que foram excluídos de medidas punitivas.
A secretária Tatiana Prazeres afirmou que o Ministério do Desenvolvimento tem mapeado os setores mais vulneráveis e que o vice-presidente Geraldo Alckmin tem atuado junto ao setor privado em busca de apoio político e institucional.
Segundo integrantes da missão, os setores mais ameaçados pelas medidas incluem o agronegócio — especialmente produtos perecíveis e commodities —, mineração, siderurgia e tecnologia da informação. O Brasil aparece entre os países citados como emissores de carbono sem compromissos ambientais considerados robustos, o que pode justificar barreiras sob o argumento de sustentabilidade.
Apesar de ainda não haver decisão final por parte da Casa Branca, o Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) informou, no início de julho, que a definição segue em avaliação e depende de aval direto do presidente Joe Biden.
