
Aumento de agressões a profissionais da saúde levou a Câmara Municipal de Campo Grande a realizar, na segunda-feira (14), audiência pública para debater medidas de segurança nas unidades de atendimento da capital. A reunião foi proposta pela vereadora Luiza Ribeiro (PT), presidente da Comissão de Políticas e Direitos das Mulheres, e reuniu representantes da categoria, sindicatos, gestores públicos e vereadores.

Levantamento do Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul) aponta que 70% dos enfermeiros já sofreram algum tipo de agressão. Desse total, 83% das vítimas são mulheres. O presidente do conselho, Leandro Dias, afirmou que a maioria dos episódios é de violência psicológica e verbal, como xingamentos e ameaças, mas também há registros de agressões físicas. Segundo ele, há subnotificação significativa: 86,4% dos profissionais não formalizam denúncias.
A enfermeira Tuany de Oliveira, que atua na Unidade de Saúde da Família (USF) São Francisco, relatou situações recorrentes de violência e ameaças. Segundo ela, usuários de drogas invadem o local, trancam profissionais em salas e exigem medicamentos. A unidade atende cerca de 3,5 mil pessoas com apenas três médicos e dois enfermeiros. “Já destruíram materiais, abriram geladeiras e roubaram alimentos. A estrutura é precária e insuficiente”, afirmou.
Falta de estrutura agrava o problema - Representantes da categoria destacaram que a precariedade das unidades contribui para os episódios de violência. Faltam medicamentos, exames, profissionais e leitos. Isso gera frustração nos usuários e sobrecarga nos trabalhadores.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Públicos em Enfermagem de Campo Grande (Sinte/PMCG), Ângelo Macedo, apresentou o “Agressômetro”, uma ferramenta on-line criada para registrar casos de agressão e gerar estatísticas. O objetivo é identificar os locais com maior incidência de violência e subsidiar políticas de segurança. A plataforma está disponível no site sintepmcg.org.br.
Medidas da prefeitura - O secretário-adjunto da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), Aldecir Dutra, reconheceu o aumento dos casos no pós-pandemia e afirmou que a gestão tem adotado medidas para ampliar a segurança. Entre as ações, estão instalação de barreiras físicas em recepções, reforço na iluminação externa e canal direto de comunicação com a GCM (Guarda Civil Metropolitana) via WhatsApp.
Segundo Dutra, o tempo médio de resposta da GCM às ocorrências nas unidades é de cinco a sete minutos. Atualmente, nove unidades contam com vigilância 24 horas. A prefeitura também negocia a criação da “Ronda da Saúde”, com viaturas caracterizadas para patrulhamento contínuo nas unidades.
O secretário relatou que a unidade do bairro Tarumã, que atende 12 mil pessoas, foi alvo de furto recente. Foram levados fios, torneiras e equipamentos, o que causou paralisação temporária do atendimento. A Secretaria estuda limitar os acessos às unidades, respeitando normas de acessibilidade, como forma de conter esse tipo de crime.
Soluções discutidas - A psicóloga Eveli de Vasconcelos, doutora em Psicologia da Saúde, defendeu a elaboração de um plano de ação com foco em prevenção e cultura organizacional. Para ela, a segurança dos profissionais deve envolver desde políticas públicas até ações internas, como capacitação de lideranças.
Representantes do Conselho Municipal de Saúde e da Guarda Municipal também participaram da audiência. O superintendente da GCM, Anderson Ortigoza, informou que cursos de capacitação para gestores estão em andamento, com foco em gestão de crises. “Nos nove postos com funcionamento 24 horas, já há vigilância contínua. Expandir esse número depende de contratação de pessoal”, disse.
A vereadora Luiza Ribeiro afirmou que a Câmara vai encaminhar as propostas discutidas ao Executivo municipal. “É necessário garantir segurança a quem trabalha nas unidades. Essa é uma responsabilidade do poder público”, concluiu.
