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Rússia abre corredores humanitários e Ucrânia começa a retirar civis de cinco cidades

Retirada de moradores começaram depois que autoridades concordaram em estabelecer "corredores humanitários" para permitir que civis saíssem de algumas cidades sitiadas pelas forças russas

8 março 2022 - 09h40
Mulher reage à situação na Ucrânia enquanto aguarda um trem partir, em Kiev, na Ucrânia.
Mulher reage à situação na Ucrânia enquanto aguarda um trem partir, em Kiev, na Ucrânia. - (Foto: Reprodução/Estadão)

A Rússia abriu corredores humanitários para que as pessoas possam ser retiradas de Kiev e de outras quatro cidades ucranianas: Cherhihiv, Kharkiv, Mariupol e Sumi, segundo a agência de notícias Interfax, citando o Ministério da Defesa russo nesta terça-feira, 8. A Ucrânia começou a retirar civis da cidade de Sumi, no nordeste; e da cidade de Irpin, perto da capital Kiev, nesta terça-feira, 8, disseram autoridades ucranianas.

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O local, perto da fronteira com a Rússia, tem sido palco de violentos combates há vários dias. Pelo menos nove pessoas, incluindo duas crianças, foram mortas em um bombardeio em Sumi na noite desta segunda-feira, 7, segundo serviços de emergência ucranianos.

As retiradas de moradores começaram depois que autoridades russas e ucranianas concordaram em estabelecer "corredores humanitários" para permitir que civis saíssem de algumas cidades sitiadas pelas forças russas.

O Ministério da Defesa acrescentou que as forças russas na Ucrânia introduziram um "regime silencioso" desde o início desta manhã (madrugada de terça no Brasil), informou a Interfax. Muitos já conseguiram escapar nesse período - pelo menos 2 milhões de pessoas - no que as Nações Unidas descreveram como a crise de refugiados que mais cresce desde a 2ª Guerra. A grande maioria dos que correm para a segurança, de acordo com a ONU, são mulheres e crianças.

"Já começamos a retirada de civis de Sumi para Poltava (no centro da Ucrânia), incluindo estudantes estrangeiros", disse o Ministério das Relações Exteriores, em um tuíte. "Pedimos à Rússia que concorde com outros corredores humanitários na Ucrânia".

Crise de refugiados

Após a primeira onda de refugiados da Ucrânia, é provável que haja uma segunda onda composta por refugiados mais vulneráveis, disse o chefe da agência de refugiados da ONU nesta terça-feira. "Se a guerra continuar, começaremos a ver pessoas sem recursos e sem conexões", disse o chefe do Acnur, Filippo Grandi, em entrevista coletiva. "Essa será uma situação mais complexa de gerenciar para os países europeus daqui para frente, e será necessário haver ainda mais solidariedade de todos na Europa e além", disse ele.

Família se despede em plataforma de trem na estação de Odessa, no sul da Ucrânia.
Família se despede em plataforma de trem na estação de Odessa, no sul da Ucrânia. (Foto: Reprodução/Estadão)

Reunião

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, e o homólogo ucraniano, Dmitro Kuleba, concordaram em se reunir em um fórum no sul da Turquia na quinta-feira, 10, no que pode ser a primeira conversa entre os chefes das diplomacias dos dois países desde o começo da invasão russa à Ucrânia, em 24 de fevereiro.

Mevlut Cavusoglu, ministro das Relações Exteriores da Turquia, fez o anúncio nesta segunda-feira, 7, e disse que participaria da reunião na cidade turística de Antália.

O plano também foi confirmado pelo Ministério das Relações Exteriores da Rússia e pelo ministro ucraniano, que declarou nesta segunda que se Lavrov estava pronto para "uma conversa séria e substantiva", ele também estaria.

A Turquia, membro da Otan, que compartilha uma fronteira marítima com a Rússia e a Ucrânia no Mar Negro, estava oferecendo uma mediação entre os lados. Ancara tem boas relações com Moscou e Kiev, e ao mesmo tempo que chamou a ação militar da Rússia de inaceitável, opôs-se às sanções contra o país.

Cavusoglu disse que em uma ligação com o presidente russo, Vladimir Putin, no domingo, o presidente Recep Tayyip Erdogan repetiu a oferta da Turquia para sediar a reunião, o que foi aceito por Lavrov mais tarde.

"Esperamos especialmente que este encontro seja um ponto de virada e um passo importante para a paz e a estabilidade", disse ele, acrescentando que ambos os ministros pediram para ele participar das negociações.

O ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmitro Kuleba, também deve participar da rodada de negociações.
O ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmitro Kuleba, também deve participar da rodada de negociações. (Foto: Reprodução/Estadão)

O anúncio veio após dois dias de fracassadas tentativas de estabelecer um cessar-fogo para a criação de corredores humanitários para a retirada de civis de Mariupol, onde centenas de milhares de pessoas estão presas sem comida e água, sob bombardeio implacável e incapazes de retirar seus feridos em meio ao cerco das tropas russas.

Ao estabelecer relações estreitas com a Rússia em matéria de defesa, comércio e energia, recebendo milhões de turistas russos todos os anos, a Turquia também vendeu drones para a Ucrânia, irritando Moscou. Ancara também se opõe às políticas russas na Síria e na Líbia e se opôs à anexação da Crimeia da Ucrânia pela Rússia em 2014.

Negociações

Representantes dos governos russo e ucraniano reunidos em Belarus concluíram a terceira rodada de negociações nesta segunda-feira, sem alcançar avanços significativos.

De acordo com o negociador ucraniano Mikhailo Podoliak, as conversas tiveram pequenos avanços na melhoria da logística dos corredores humanitários. Houve discussões sobre um cessar-fogo e garantias de segurança para a retirada de civis, mas ainda não há resultados que melhorem significativamente a situação.

O principal porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, declarou que a Rússia está pronta para interromper as operações militares "em um momento" se Kiev cumprir uma lista de condições.

As exigências incluem o fim das operações militares do país, o reconhecimento da Crimeia e das províncias de Donetsk e Luhansk como território russo e uma alteração em nível constitucional para garantir que a Ucrânia mantenha uma neutralidade entre Moscou e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), comprometendo-se a não aderir à aliança.

Esta foi a declaração russa mais explícita até agora dos termos que quer impor à Ucrânia para interromper a invasão, que já dura 13 dias.

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