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POLÍTICA

Lula janta com ministros do STF em meio a tensão com sanções dos EUA e ataques a Moraes

Presidente recebeu seis ministros do Supremo no Alvorada para discutir reações diplomáticas e institucionais aos recentes episódios externos

1 agosto 2025 - 08h08Juliano Galisi
O ministro Alexandre de Moraes e a sua esposa, Viviane Barci de Moraes, ao lado de Lula, no dia da posse do presidente da República
O ministro Alexandre de Moraes e a sua esposa, Viviane Barci de Moraes, ao lado de Lula, no dia da posse do presidente da República - (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

Em um movimento de alinhamento institucional diante de pressões externas e ataques recentes à cúpula do Judiciário, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu na noite desta quinta-feira, 31, seis dos onze ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para um jantar no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República.

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Participaram do encontro o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Cristiano Zanin, Flávio Dino e Edson Fachin. Também estiveram presentes o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, o advogado-geral da União, Jorge Messias, e o procurador-geral da República, Paulo Gonet.

Notaram-se as ausências dos ministros Kassio Nunes Marques, André Mendonça, Luiz Fux, Dias Toffoli e Cármen Lúcia. Dois deles — Nunes Marques e Mendonça — foram indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e têm se posicionado de forma crítica aos votos de Alexandre de Moraes nas ações relacionadas aos ataques de 8 de janeiro.

Luiz Fux, embora não tenha ligação direta com o bolsonarismo, também tem divergido dos posicionamentos de Moraes, especialmente no âmbito da Primeira Turma do STF. Já Dias Toffoli e Cármen Lúcia não justificaram oficialmente a ausência, mas costumam manter uma postura mais discreta em agendas políticas.

O jantar aconteceu um dia após duas decisões internacionais com forte impacto para o Brasil: a imposição de sanções por parte de parlamentares dos Estados Unidos ao ministro Alexandre de Moraes e a inclusão de produtos brasileiros em uma nova rodada de tarifas comerciais promovida pelo governo norte-americano.

Segundo fontes do governo e integrantes do Judiciário, as conversas giraram em torno das reações diplomáticas e institucionais que o Brasil pode adotar diante dessas medidas, consideradas "agressões externas" à soberania nacional. Para Lula, a presença dos ministros do STF representa um sinal de coesão dos poderes diante das pressões vindas de fora.

As sanções aplicadas por congressistas republicanos dos EUA ao ministro Alexandre de Moraes, relator das ações penais contra os réus do 8 de janeiro, foram recebidas com indignação por integrantes do Executivo e do Judiciário brasileiro. Em Washington, o embaixador do Brasil já foi instruído a buscar explicações formais do Congresso norte-americano sobre a medida, considerada sem precedentes.

Lula, por sua vez, tem manifestado apoio público a Moraes, afirmando que "nenhum país tem o direito de interferir nas decisões soberanas do Supremo brasileiro". Durante o jantar, segundo interlocutores, o presidente reiterou que não aceitará qualquer tentativa de desmoralização das instituições nacionais por parte de atores internacionais.

Além das sanções a Moraes, outro ponto abordado foi o chamado "tarifaço" dos Estados Unidos, anunciado também na quarta-feira, 30, que afeta diretamente produtos brasileiros, especialmente os vinculados à cadeia de aço e alumínio. A medida é vista com preocupação pela equipe econômica do governo, que teme impactos sobre a balança comercial e as exportações industriais.

O Ministério das Relações Exteriores já está conduzindo tratativas com o Departamento de Estado norte-americano para reavaliar os critérios da medida e buscar mitigações. A Advocacia-Geral da União (AGU) também deve ser acionada para estudar eventuais contestações na Organização Mundial do Comércio (OMC).

O encontro no Alvorada reforça uma aproximação constante entre o Executivo e o Supremo desde o início do terceiro mandato de Lula. Nos últimos meses, o presidente tem intensificado o diálogo com a cúpula do Judiciário, especialmente em momentos de crise ou polarização institucional.

Essa relação mais estreita também se refletiu nas nomeações recentes para o STF, como Cristiano Zanin — ex-advogado pessoal de Lula — e Flávio Dino — ex-ministro da Justiça e figura próxima ao núcleo político do governo. Ambos estiveram presentes no jantar, sinalizando a aliança estratégica em defesa das instituições.

Embora o jantar não tenha tido caráter formal, fontes indicam que os ministros discutiram a possibilidade de emitir uma nota conjunta de repúdio às sanções contra Moraes. A avaliação dentro do Supremo é que a medida de parlamentares estrangeiros extrapola os limites da diplomacia e ameaça o princípio da independência entre os Poderes.

O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, evitou declarações públicas após o encontro, mas, segundo interlocutores, tem defendido que as instituições brasileiras devem reagir com firmeza e unidade diante de qualquer tentativa de intimidação — seja interna ou externa.

A expectativa agora é de que Executivo, Judiciário e Ministério Público atuem de forma coordenada na defesa do Estado Democrático de Direito, tanto nos fóruns internacionais quanto no campo político interno.

Com a aproximação das eleições municipais, Lula também busca evitar que ataques à Justiça brasileira ganhem força entre grupos da oposição, especialmente nas redes sociais. O jantar, neste contexto, também teve um tom simbólico: mostrar que as principais instituições da República estão em sintonia para enfrentar juntos os desafios externos e os ruídos internos.

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