
As negociações para um possível acordo de paz na guerra da Ucrânia deram um passo inesperado neste fim de semana. O enviado especial dos Estados Unidos, Steve Witkoff, afirmou neste domingo (17) que o presidente russo Vladimir Putin concordou em permitir que EUA e aliados europeus ofereçam à Ucrânia garantias de segurança semelhantes ao Artigo 5 da Otan, princípio de defesa coletiva da aliança militar.

A declaração foi dada no programa State of the Union, da CNN, dois dias após a cúpula entre Putin e o presidente dos EUA, Donald Trump, realizada no Alasca.
“Conseguimos garantir a seguinte concessão: que os Estados Unidos poderiam oferecer uma proteção similar ao Artigo 5, que é uma das principais razões pelas quais a Ucrânia quer entrar na Otan”, disse Witkoff.
“Foi a primeira vez que ouvimos os russos concordarem com isso.”
Witkoff afirmou ainda que o Kremlin também se comprometeu legislativamente a não avançar sobre nenhum novo território ucraniano, o que representa uma das primeiras sinalizações formais de contenção por parte da Rússia desde o início da guerra, em 2022.
Von der Leyen e Zelenski destacam necessidade de garantias concretas
Em entrevista coletiva em Bruxelas, ao lado do presidente ucraniano Volodymyr Zelenski, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, elogiou o gesto russo, mas reforçou que a segurança da Ucrânia precisa ser real, funcional e permanente.
“Saudamos a disposição do presidente Trump de contribuir com garantias de segurança similares ao Artigo 5 para a Ucrânia. E a coalizão dos dispostos — incluindo a União Europeia — está pronta para fazer a sua parte”, declarou.
Zelenski, por sua vez, agradeceu o apoio internacional, mas demonstrou cautela:
“É importante que os Estados Unidos concordem em trabalhar com a Europa para fornecer garantias de segurança à Ucrânia. Mas ainda não há detalhes claros de como isso vai funcionar”, afirmou.
“A segurança precisa operar na prática como o Artigo 5. E consideramos a adesão à União Europeia parte dessa segurança.”
Abandono do cessar-fogo imediato e novo cenário de paz
Witkoff também defendeu a decisão de Trump de não insistir em um cessar-fogo imediato como condição para iniciar um acordo. Segundo ele, houve "progresso significativo" nas conversas, o que permitiu ao governo americano passar a trabalhar por uma solução diplomática com base em garantias e concessões.
“Começamos a perceber uma certa moderação na forma como os russos pensam em chegar a um acordo de paz final”, disse Witkoff.
“Cobrimos quase todas as outras questões necessárias para um acordo.”
Entre os pontos já encaminhados, segundo fontes diplomáticas, estariam garantias de não-expansão da Otan, investimentos europeus na reconstrução ucraniana, e o compromisso de Moscou em manter congeladas as linhas de frente — sem, no entanto, haver ainda qualquer consenso sobre trocas territoriais.
Zelenski, Trump e líderes europeus se reúnem nesta segunda-feira
A questão territorial, considerada o ponto mais sensível das negociações, será tema da reunião marcada para esta segunda-feira (18), na Casa Branca, entre Zelenski, Trump e líderes da Europa Ocidental, incluindo Emmanuel Macron (França), Friedrich Merz (Alemanha), Keir Starmer (Reino Unido) e Ursula von der Leyen, além da italiana Giorgia Meloni e do finlandês Alexander Stubb.
“A questão fundamental, que é algum tipo de troca territorial — que obviamente está sob controle dos ucranianos — não pôde ser discutida nesta reunião com Putin. Pretendemos discutir isso na segunda-feira. Esperamos ter alguma clareza e que isso resulte em um acordo de paz muito em breve”, completou Witkoff.
A proposta em discussão envolveria, segundo a imprensa americana, a cessão da região de Donetsk por parte da Ucrânia, em troca de congelamento da guerra nas demais frentes e de garantias de segurança militar do Ocidente.
Zelenski já sinalizou resistência a qualquer cessão territorial, lembrando que a Constituição da Ucrânia proíbe acordos que envolvam perda de território. Ainda assim, ele admitiu que “esta é a primeira vez que há um esboço concreto de possível acordo”.
Marco Rubio: "Ainda estamos longe de um acordo de paz"
O conselheiro de segurança nacional e secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, também participou da rodada de entrevistas no domingo. Em declarações aos canais ABC e NBC, ele reiterou que as tratativas estão evoluindo, mas alertou para a complexidade das decisões que virão.
“Não estamos à beira de um acordo de paz. Mas vimos movimento. E isso já é algo”, afirmou.
“Se esta guerra não acabar, o presidente deixou claro que haverá consequências. Mas a melhor consequência possível é a paz, o fim das hostilidades.”
Rubio também rejeitou novas sanções à Rússia neste momento, alegando que isso poderia atrapalhar o atual diálogo.
“Impor novas sanções agora reduziria severamente nossa capacidade de manter os russos à mesa.”
